QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 30 de abril de 2018

HÁ CINQUENTA ANOS: A revolução que não aconteceu


HÁ CINQUENTA ANOS: A Revolução que não aconteceu
Como era o mundo há cinqüenta anos? Estávamos divididos entre dois impérios: o Soviético e o Capitalista.  Estes dois impérios haviam se formado a partir da Segunda guerra  como frente de combate ao Nazismo. Num erro estratégico brutal, através da operação Barbarrossa, a Alemanha invade a Rússia, comandada pelo camarada Stalin, pouco depois o Japão, que juntamente com a Itália e Alemanha fazia parte do chamado Eixo, bombardeia a base naval americana de Pearl Harbour, obrigando os Estados Unidos, governado por Franklin Roosevelt, a igualmente atacar a Alemanha.
Terminada a Guerra, com a derrota  nazista, e seus parceiros, formam-se dois grupos ideologicamente opostos, divididos pelo que Churchill , Primeiro Ministro inglês,  chamou de “cortina de ferro”.  Em 1948, o Partido Comunista Chinês toma o poder. E assim viveu o mundo entre capitalismo e comunismo. Desde 1945 até a queda do muro de Berlim, em 1990.  Mas durante estes 45 anos o mundo deu voltas ( ou como diria o francês  “ Le monde a bougé”). Várias guerras deram origem a regimes de orientação comunista como a da Coréia do norte, do Vietnam, do Camboja. Entretanto, excetuando a Coréia do Norte , os regimes chamados de extrema esquerda foram desaparecendo. Hoje, somente restam China e seu comunismo capitalista, a miserável Coréia do Norte, Cuba, igualmente miserável, e o bolivarianismo, na infeliz Venezuela.
Naquele ano de 1968, o mundo começou a mexer-se de forma mais expressiva. Vários acontecimentos determinaram este pipocar, de um lado e de outro. Já em 1956, lembro-me que morava na França, tinha 10 anos e assistia pela televisão, a revolta na Hungria,  talvez o primeiro movimento de insurreição contra o comunismo. A princípio foram estudantes que invadiram uma estação – evidentemente estatal – querendo transmitir suas reivindicações. Apesar de brutalmente contidos, com mortes, o movimento que buscava mudanças espalhou-se pela cidade. Forças do Pacto de Varsóvia, que reunia a União Soviética e todos os países do Leste (fundado na cidade de Varsóvia , em1955, e extinto em 1991)  sufocaram o movimento, que se extinguiu em definitivo em janeiro de 1957. Pedia-se liberdade, democracia, como se pedia também em países do mundo capitalista, dominados por Batistas, Trujillos,  Somozas, Duvaliers ( Papa Doc) , respectivamente ditadores de Cuba, República Dominicana, Nicaragua e  Haiti, além de outros que não conheço. Todos protegidos pelos Estados Unidos e enriquecidos às custas do empobrecimento do povo. E sem esquecer Alfredo Stroessner, crudelíssimo ditador do Paraguay, durante dezenas de anos. Deu abrigo ao nazista Joseph Mengele, médico-monstro, cujas proezas incluíam, entre outras, amarrar as pernas de mulheres em trabalho de parto. Morreu de forma misteriosa, se não me engano no Brasil, assim como seu protetor, Stroessner.
Em 1959, o primeiro movimento “libertador”, liderado pelos guerrilheiros de Sierra Maestra, instala o comunismo na ilha. Em 1964, ocorre o golpe militar no Brasil, com prisões,  tanques  nas ruas, foragidos políticos, gente torturada e assassinada. Quem viveu estes anos, sabe bem o que é realmente um “golpe”. Na verdade, poucos eram os países democráticos no chamado “mundo livre”. Sou da geração que assistiu a tudo isso, que se horrorizou, que teve medo. E ao tomarmos conhecimento de tudo o que acontecia, muitos de nós optou pelo lado oposto. Viramos “comunistas”.
Em 1967, morre Chê, e torna-se nosso grande herói, vítima do capitalismo, no qual vivíamos confortavelmente. E é interessante notar que foi naquele ano, e no seguinte, que surgem no Brasil os primeiros sinais da frustrada guerrilha, que tantas vidas jovens levou. Movimentos insurrecionais surgem em regiões afastadas mas também nas cidades. Houve seqüestros, de Embaixadores sendo o mais famoso o do Embaixador americano. E ainda a inesquecível  luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e o brutal assassinato de Martin Luther King, o maior líder negro, orgulho da raça. Seu assassino cumpriu  prisão perpétua até sua morte em 1998.  O assassinato de Robert Kennedy, que também provoca grande comoção no mundo. Havia um movimento de revolta por um mundo melhor, fosse de que cor, ou ideologia, fosse.
Também do outro lado do mundo, do outro lado daquela “cortina de ferro” surgia o movimento de liberação chamada “ Primavera de Praga”.  O dirigente do Partido  Comunista Tcheco Alexander Dubcek procura dar ao povo maior liberdade , introduzindo Reformas importantes e sobretudo uma nova Constituição. A incrível experiência da Liberdade, inspira o escritor Milan Kundera a escrever o mais famoso de seus livros “ A insustentável leveza do ser”. Mas Praga é invadida pelos tanques do Pacto de Varsóvia, e a esperança de LIBERDADE  acaba tendo muitos intelectuais fugindo, como o próprio Kundera , que exilou-se na França, onde recebeu cidadania francesa.
Ora, neste ano de 1968, sobre o qual Zuenir Ventura escreveu o livro “1968, o ano que não acabou”, no qual se refere especialmente ao Brasil, e que ainda não li, há coisa demais acontecendo. Fazendo uma breve retrospectiva, lembremo-nos que até 1958, vigorava na França a IVa Republica, instituída após a Segunda Guerra, e que não funcionou.  E Charles de Gaulle era, indubitavelmente, um herói nacional. Exilou-se na Inglaterra, quando da invasão nazista, de onde liberou “La France Libre”, com uma emissão de rádio que os franceses ouviam às escondidas. Voltando à França, o general de Gaulle, funda seu partido e reúne forças para promover a V Repubica . Ou seja, a V Constituição. Eleito em 1958, reelegeu-se até 1965. Mas sua atuação autoritária, ainda que tenha sido extremamente positiva para uma França, há poucos anos saída de uma guerra e de uma invasão, desagradava a estudantes e operários, estes comumente comunistas.
Foi então, em meio a este mundo conturbado que ocorre um incidente talvez banal de uma revolta localizada,  mas que teria grande repercussão. Não se pode localizar exatamente o momento em que surgiu a idéia de revolucionar a França. O Mundo brigava, americanos lutavam contra vietcongs, tchecos eram massacrados, africanos lutavam por suas liberdades. Um pequeno incidente na Universidade de Nanterre –Paris X – desencadeia uma reação desproporcional. Na inauguração de uma piscina,  comparece o Ministro  da Juventude e dos esportes,  há uma discussão entre ele e um estudante ruivo de origem alemã e judaica, Daniel Cohn-Bendit, que torna-se líder do movimento reivindicatório . O Ministro é vaiado pelos estudantes , o que deixa bem claro o descontentamento.  Não consta que Daniel pertencesse a algum partido político, mas pensava que era necessário movimentar a França , diante de um mundo em ebulição. Greves de estudantes e operários obrigam De Gaulle a tomar providências policiais.  Após o envolvimento da polícia , com prisões, a revolta concentra-se  no Quartier Latin . Dali se expandiu por toda a França. Houve barricadas em várias cidades, o movimento , ao que parece pretendia trazer de volta a célebre Comuna de 1871, que pretendia instituir o primeiro governo proletário no mundo. À Revolta de 1968, unem-se intelectuais como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Jean-Luc Goddard, e François Truffaut, entre outros. O Partido Comunista Francês, sob a direção de Georges Marchais, toma posição contrária, como havia acontecido no Brasil, com a posição de Luís Carlos Prestes contrária à guerrilha.  Num dia memorável, o grande poeta surrealista, Louis Aragon, já bem velho,  tenta falar aos estudantes. Membro do Partido Comunista, é estrondosamente vaiado. Vergonha para os que o vaiavam, Louis Aragon, tinha uma história de luta e era um símbolo da cultura francesa. Finalmente, concedem-lhe a palavra. Esta manifestação de intolerância já marca o começo do fim do movimento. Finalmente, operários, obedecendo às grandes  Centrais Sindicais, ligadas ao Partido Comunista, voltam às fábricas . O movimento enfraquece até sua extinção. Sem o prometida Revolução.  
Ao todo o movimento rebelde dura de maio a julho. Em 1969,  De Gaulle propõe um referendum  para regionalização do Senado , mas não consegue vitória. Em seguida, renuncia.
Morre em 1970, O próximo Presidente da  França  é Valéry Giscard D´Estaing.  De direita.