Nestes
tempos de século XXI, muitas de nós já conquistaram poder. Existem mulheres
como Angela Merckel, Madame Thatcher, que, ainda tendo sido uma figura
polêmica, foi uma mulher admirável, Michelle Barchelet , ex- Presidente do
Chile, presa e torturada, e tantas outras. Pena que exista uma tal de Cristina
Kirchner, aquela “velha, mais mentirosa do que o caolho” como disse seu
“amigo”, Presidente do Uruguay. A meu ver Dilma situa-se dentre as que tiveram
um destino maior do que elas, e que serão esquecidas. Como não estou entre os
110% que admiram a Presidente, prefiro continuar nosso bate-papo sobre o
Feudalismo.
Meu
conhecimento destes tempos deve-se aos quase cinco anos de grupo de estudos que
formamos, três amigas professoras de francês e eu. Pude assim satisfazer, já
quase no outono da vida, um sonho de primavera: ser arqueológa. E verdade que o
período que me interessava naqueles anos que já vão longe – mas que ainda não
são arqueológicos- são muito anteriores à Idade Média. Quando, aos 10 anos, fui
morar na França , onde meu pai, engenheiro militar, havia ido estudar,
freqüentei museus, ruínas, ouvi-o falar daqueles tempos, pois era homem de
grande cultura. Apaixonei-me. Infelizmente, revezes do destino me levaram a uma
carreira tão diferente. Mas para falar da mulher na Idade Média, é preciso
remontar ao Império Romano, e dar uma olhada nas condições de nosso gênero. Se
na Grécia antiga, a situação era ainda pior, em Roma mulheres eram consideradas
objetos sobre as quais o pai tinha direito de morte. Tinha ele o direito de
matar sua filha recém-nascida, e em muitas famílias somente a primogênita
sobrevivia. O marido era escolhido pelo pai, ao qual deveria ser passada a
tutela. A virgindade era objeto de respeito
e uma virgem jamais poderia sofrer pena de morte. Assim, antes de estrangular
uma menina, filha de um certo personagem, o carrasco se vê na obrigação de
violá-la.
Dois
foram os fatores que contribuíram para uma mudança nestes prolegômenos do
Feudalismo. As invasões Bárbaras e , sobretudo, as predicações do Evangelho.
Quanto aos Bárbaros, vindos do norte da Europa, tinham em relação á mulher um
comportamento bastante aberto. Em contato com a decadente civilização romana,
fundiram-se costumes opostos, o que já abriu, caminho para uma maior
emancipação da mulher. Mas o fator realmente preponderante foi o Cristianismo,
mesmo antes de ser adotado por Constantino como religião do Estado. São Paulo
havia dito: “ Não há mais grego, nem judeu, nem homem nem mulher” O que passa a
valer é a pessoa. Assim, o Cristianismo operou, sem nenhuma ação violenta, mas,
pelo contrário, sofrendo todo tipo de violência, a maior revolução da História
da humanidade. Colocando todos, pretos, brancos, escravos, senhores, mulheres,
homens, crianças, como criaturas de Deus, o Evangelho lançou todos os homens na
sua real condição de seres livres, capazes de escolher seu destino. Criou-se a
noção de pessoa. Não importa o que fizeram os homens depois, e o que ainda
fazem, a semente estava lançada, e para sempre.
As
primeiras mulheres a se distinguir foram as religiosas, que puderam, além da
meditação, ilustrar-se. Ao contrário dos primeiros monastérios masculinos, onde
o objetivo primeiro, e único, era a meditação. Foram as religiosas, que,
votadas ao silêncio da meditação e à leitura, iniciaram o hábito da leitura
puramente intelectual, ou seja, sem o auxílio da voz. Um fato importante foi a
conversão da rainha burgúndia (atual Borgonha) Clotilde, no século V, mulher do
rei franco Clovis, e a influência exercida sobre ele, que o levou à conversão,
assim como às suas tropas e enfim à quase todo o território francês. Viúva,
Clotilde, como muitas outras rainhas destes primórdios de Feudalismo,
recolheu-se a um convento. Mas um acontecimento sumamente importante colocou a mostra o valor da
mulher, a defesa de Paris, que se
chamava então Lutécia, e se resumia
quase exclusivamente à uma ilha do rio Sena ( Ile de La Cité). Ameaçada pelos
Hunos, que já haviam provocado a construção da Grande Muralha da China, como
meio de proteção, e que haviam posto em fuga
os povos Barbaros que se espalharam por todo território da Europa
Ocidental, tal sua fúria, a pequena Lutécia encontrou numa mulher de vinte e
oito anos, Geneviève, uma vitoriosa que, com o auxílio dos bispos de duas outras cidades
estratégicas, os venceu definitivamente na batalha de Méry-sur-Seine. O ano é de 451, época da primeira dinastia de
reis francos: os Merovíngeos.
E
outras mulheres extraordinárias surgiram, como Dhuoda, mãe de família, que escreveu entre 841 e 843, o primeiro
tratado de educação: “Manuel pour mon fils” . E tantas religiosas, que seria
difícil enumerá-las. Citamos como exemplo Hildegarde, mulher de extraordinária
cultura e autora de várias obras. E chegando já ao definitivo estabelecimento
do Feudalismo, encontramos as que se fizeram notáveis, como Alienor
d`Aquitaine, nascida em 1122, mulher de Luís VII, rei da França, do qual se
divorciou para casar com seu grande amor Henrique II, rei da Inglaterra, da
dinastia dos Plantagenetas. Eram os
Plantagenetas oriundos da região de Anjou na França. Alienor foi uma
rainha atuante, que, vestida de homem, lutou contra o próprio marido e acabou
presa durante vários anos. Foi mãe do célebre Ricardo Coração de Leão. Outra mulher de fulgurante personalidade
foi Adèle de Blois, filha de Guilherme o
Conquistador, que, apesar de francês, chegou a ser rei da Inglaterra. Adèle casou-se com Etienne, conde de Chartres.
Quando o marido partiu para uma Cruzada, Adèle assumiu inteiramente os negócios
de seu feudo, tratando de problemas econômicos e políticos. No entanto, o
marido não mostra em batalha o valor que se espera de um Senhor Feudal
guerreiro, empenhado em resgatar das mãos dos infiéis o Santo sepulcro. Diante
do cerco a Antioquia pelos turcos otomanos, tendo que enfrentar uma batalha
sangrenta, Etienne acovarda-se, foge e retorna à França. Recebido com desprezo
pela mulher, resolve retornar e só é perdoado quando encontra a morte no campo
de batalha.
Mas
há ainda muitas mulheres notáveis daqueles tempos tão longínquos. Mas a mais
notável, a mais admirada e falada mundo afora, foi uma camponesa, de dezenove
anos, analfabeta, que conseguiu com sua coragem e talento, comandar homens e
expulsar os ingleses. Joana D`Arc , heroína de todos os tempos
Nossa
história é longa, muitas de nós rejeitamos somente o papel de filhas, esposas,
mães de alguém. Mas quantas o aceitam e desejam ainda?
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