Mas nem sempre foi
assim. No decorrer dos séculos e mesmo dos milênios, a estética feminina foi
somente algumas vezes colocada como grande atributo. Na pré-história, nossas
ancestrais eram representadas com imensos seios, ventres descomunais, ancas
enormes, denunciando sua função procriadora. As cabeças diminutas, sem feições.
Foram chamadas pelos arqueológos de “venus esteotopígeas” significando acúmulo de
gordura nas nádegas.
Esta visão da mulher como
fecundidade prolongou-se nos meios rurais até o início do século XX. Nestas
sociedades, a beleza feminina, ainda que notada, era vista como um mal, do qual
deviam fugir os rapazes. O fato é que, para que a beleza feminina tivesse seu
lugar de destaque, foi preciso que surgisse o Estado e com ele se estabelecesse
uma sociedade em que a hierarquia social distinguisse mulheres trabalhadoras e
mulheres isentas do trabalho, ou seja, pobres e ricas. E às ricas, ociosas, era
permitido cuidar de si – mesmas, para deleite de seu homem. Na Grécia antiga,
malgrado a homossexualidade masculina, legítima e , digamos, quase oficial, a
beleza feminina foi amplamente homenageada. Assim como em Roma. Já a tradição
judaico-cristã colocou-a no fogo, e, durante toda a Idade Média, a mulher foi
considerada a filha maldita de Eva, a que provocou a queda de Adão e sua
expulsão do Paraíso.
Mas a Renascença, trazendo de volta os
valores da tradição greco-romana, trouxe também de volta o culto da beleza
feminina. E basta olharmos as obras dos grandes artistas da época, como
Leonardo da Vinci, Giotto, e outros. E este culto nunca mais cessou. Mas, então,
este é o final da “história da beleza”? Não, pois se o olhar fascinado sobre a
mulher ressurgiu na Renascença, ele limitou-se a uma classe social, aquela mais
rica. A “história da beleza” toma novos rumos, evolui, a partir dos fins do
século XIX, quando ela torna-se, pouco a pouco acessível a todas nós. No século
XX, imprensa, cinema, publicidade, pela primeira vez dizem, para que todo mundo
ouça, que todas podem ser belas. Após a Primeira
Guerra – 1914-1918- o consumo de cosméticos acelera-se, tornam-se populares os
esmaltes e os batons. Mas é a partir dos anos 50 que o consumo dispara, multiplicando
a indústria de cosméticos e perfumes, que se eleva a somas de bilhões. E
também a moda, o prêt-à-porter. Enfim a beleza torna-se artigo de consumo
corrente. E o mais surpreendente, o interesse desloca-se da beleza puramente
facial para sua conservação na totalidade. Cuida-se do corpo, mantendo-o livre
de flacidez, esbelto e saudável. Não mais a “camuflagem” das maquiagens
enganadoras, mas uma pele e um corpo mais jovem. Práticas de esportes,
academias, salões de massagens, novas técnicas estéticas, fizeram surgir nos
últimos quarenta anos uma mulher diferente, aquela da geração “sem idade”. E o
mais importante, sem que isto que seja
privilégio de uma só classe social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário