Para minha inesquecível Alice
Hoje é dia dela! Minha Alice. Dia em que renasceu.
Minha mãe fez a passagem no dia 26 de fevereiro de 1998. Era véspera do aniversário de minha amiga, Many. Esta amiga fiel dos bons e maus momentos. Teresa e eu já havíamos sido advertidas pelo seu neurologista de que o fim estava próximo. Estávamos divididas entre o otimismo e a angústia, já que ela parecia haver melhorado.
Teresa vinha passar as tardes em minha casa, naquela ansiedade do quê poderia acontecer a qualquer hora. Uma tarde estávamos num outro quarto quando ouvimos uma de suas acompanhantes gritar: " dona Alice! dona Alice. Corremos e com a ajuda de todas as que estavam presentes a levamos para o meu carro. Eu sabia que o fim havia chegado, mas DEUS, esta Força Suprema, me deu força para dirigir até a Santa Casa. Penetrei no jardim buzinando e cheguei até a porta, onde enfermeiros, creio eu, vieram buscá-la imediatamente. Não chorávamos, só tínhamos em mente a ideia de que o fim chegara.
E levaram-na para cima. Ficamos esperando, naquela angústia que só conhecem aqueles que passaram por momentos como este. Ao fim de algum tempo, uma médica desceu e nos disse que ela falecera. Mas tudo parecia tão rápido! Ainda pouco tempo, eu a levava de carro até seu curso de pintura! Quando saímos, olhei para o céu e vi nuvens que se amontoavam como crianças. Pensei na história da menininhas de branco, que sempre me contava, e que morriam ainda crianças. Minha mãe jamais as esquecera!
Durante anos, eu havia lutado para que se restabelecesse, que voltasse a andar após a queda que sofrera, mas nada adiantava. Ela não encontrava mais nenhum prazer na vida desde que meu pai se fora. Tinha a minha consciência tranquila. Alice tinha filhos, netos, que a amavam , mas não tinha seu amor, que namorara desde os quatorze anos. Lembro-me de minha sobrinha, Ludmila, ajoelhada a seu lado, acariciando lhe os cabelos. Do bilhetinho de sua neta caçula: "Para a vovó Alice de sua netinha que muito a ama , Alicinha." Havia sido cercada de amor, de seus filhos e netos, mas tudo era em vão.
Quando a médica veio nos anunciar sua morte, tentando nos consolar, disse-nos que ela morreria em maior sofrimento, devido ao câncer que sofrera e que a submetera a severa mastectomia, atingindo até suas costas. Aquele câncer, ocorrera na minha adolescência, há muitos anos e, contrariamente a todos os prognósticos curara totalmente. Aquele câncer não marcava o fim de sua ficha de validade , que todos nós temos.
De madrugada, minha amiga, Many trouxe-me para casa para que eu descansasse um pouco e comesse alguma coisa. Lembro-me, vagamente, de que fez um mingau. Depois tomei um banho. Mas tudo resta muito nebuloso na minha cabeça. Acho que, logo após seu falecimento, Teresa avisou meu irmão e o levei ao cemitério. Ele não dizia nada, mas eu sabia da sua dor.
Por fim, Many me deixou no cemitério, já que era seu aniversário e ninguém sabia por onde ela andava. No cemitério, já pela manhã encontrei meu irmão, sentado num banco, tendo ao lado minha amiga, Sônia, que, como Many, acompanhara minha labuta. Sônia, amiga sempre fiel. Meu irmão segurava sua mão, não tendo coragem de penetrar na sala onde se encontrava o corpo.
Entrei no salão, acariciei seus cabelos, beijei sua testa e suas lindas mãos, que tantas maravilhas haviam produzido e saí. Sabia que ela não estava mais ali. Não fui ao enterro de seus despojos e lembrei de Cristo: "Deixai que os mortos enterrem os seus mortos." Outros que a antecederam viriam buscá-la. Minha mãe fora para um plano superior, para nossa verdadeira morada e lá reencontraria todos os que amou e que perdeu. Está na luz de Deus.
Não lhe disse "Adeus", disse-lhe "Até um dia" que só ELE sabe quando será.
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