Considero
meu amor pela leitura uma grande benção. Quando a gente lê com amor, não
interessa onde esteja, o barulho que façam a seu redor, a cachorrada que late –
Tila e Charmoso estão neste momento em uma de brincadeira em que um abocanha a
orelha do outro. Mas acabei de ler um livro fantástico e vim direto para o
computador para contar a meus amigos o que li e aprendi. O autor é Alan Riding,
nascido no Brasil de pais ingleses, com longa carreira jornalística. É também
escritor. Atualmente, mora em Paris como correspondente cultural do New York
Times. Conheci-o através de uma entrevista em “Conexão Roberto D´Avila”, meu
programa de domingo a noite. Fiquei fascinada com sua inteligência, cultura,
sua personalidade, e o assunto, que sempre foi para mim uma incógnita: o que
acontecia em Paris sob a ocupação nazista, no período entre 1940 e 1944. Como
estou impedida de fazer musculação com os braços, tive que optar pela
bicicleta, e foi durante aqueles quarenta minutos, que se transformaram em
momentos incrivelmente prazerosos, que li vorazmente o livro. Trata-se de um
trabalho de pesquisa gigantesco, que contou com a colaboração de historiadores
importantes deste período e também de testemunhas daqueles anos sombrios,
alguns já falecidos quando da publicação do livro. Mas cabe a mim um
agradecimento especial a Allan Riding, por ter permitido que um dever quase
suplicial se transformasse em puro deleite.
Para
melhor compreender a pesquisa é necessário um pequeno passeio pela história da
França com suas múltiplas Repúblicas, ou Constituições. A primeira, elaborada
pela Assembléia Constituinte Nacional em 1792, aboliu definitivamente a
monarquia. A ela seguiram mais duas, surgidas por acontecimentos políticos
importantes. Depois da derrota na guerra
contra a Prússia, foi elaborada a Terceira República. Foi sob ela que Paris viveu
seus dias mais gloriosos, que entre 1870 e 1914 foram chamados de “Belle Epoque
“. No entre- guerras (1918-1940), Paris reuniu artistas do mundo inteiro,
tantos que não dá para citá-los. Foram os “anos loucos”, que Woody Allen
genialmente mostra em seu filme “Meia-noite em Paris”. Todos viviam a ilusão de
que o mundo girava a seu favor, que nunca mais haveria guerra, sem atentarem
para o que se passava na Alemanha falida, onde um partido de extrema direita,
seqüestrava e matava qualquer opositor, e onde surgia uma figura sinistra,
carismática, feita no modelo exato para um povo desesperado. Da forma mais
imoral, França e Inglaterra a ele foram cedendo tudo, a começar pelo vergonhoso
Tratado de Munique, que entregava uma parte da Tchecoslováquia aos nazistas.
Mas o que era a Tchecoslováquia? A França vivia um momento especial chamado
“Front Popullaire” que durou de 1936 a 1939, cujo Primeiro Ministro era Léon
Blum, socialista, judeu, posteriormente preso pelos nazistas. Foi um momento de
euforia Os trabalhadores conquistaram o direito a quinze dias de férias anuais,
a quarenta horas de trabalho semanal, e a um aumento de salário. Uma velha
canção interpretada por Jean Gabin, cantor e galã da época, conta a
perplexidade da classe operária, que não sabe o que fazer com os dias sem
trabalho. No entanto, o Front Populaire era formado por uma coalisão de
partidos, que jamais se entenderam. E durou até o momento em que Hitler invadiu
a Polônia e começou a avançar pela Europa Ocidental, ainda tendo seu Ministro de Relações
Exteriores, Ribbentrop, firmado com a União Soviética um tratado de não
agressão. A França compreende então que suas aspirações são muito maiores do
que se havia imaginado.
Depois
de vergonhosa derrota, que incorporou à Alemanha, duas províncias: Alsácia e
Lorena, os nazista invadiram Paris e em maio de 1940 desfilaram na Avenida des
Champs Elysées, tendo atravessado o Arco do Triunfo. A França despedaçada, com
uma extrema direita, nazista ou não, mas profundamente anti-semita, foi
dividida em duas partes, a região ocupada ao norte, incluindo Paris, e ao sul
um governo fantoche comandado pelo General Pétain, herói na Primeira Guerra. Muitas
famílias parisienses, crendo ser mais seguro, fugiram desesperadas para o sul,
sob um governo instalado na cidade de Vichy. No entanto, este governo fantoche
era quase tão perigoso quanto o dos nazistas. Mas era preciso sobreviver, ainda
que não se vislumbrasse nenhuma luz no fim do túnel. A esta III Republica foi
promulgada e 1945 a IV, e , finalmente,
em 1958, o General Charles de Gaulle, eleito Presidente inaugurou a V, que
persiste até agora.
Mas
o texto já está bem longo e tenho medo de chateá-los. Logo, estarei contando o
que realmente me interessa, Paris sob a ocupação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário