“No seu curto livro “ A room of one´s own” , Virginia Woolf se diverte
inventando o destino de uma suposta irmã
de Shakespeare :enquanto ele aprendia no colégio um pouco de latim, gramática,
lógica, ela teria permanecido no lar na mais
completa ignorância: enquanto ele
caçava , percorria os campos, dormia com mulheres da vizinhança, ela
teria remendado retalhos sob o olhar de
seus pais, caso tivesse partido, como ele fizera ousadamente , tentar a sorte
em Londres, ela, não se tornando uma atriz bem sucedida: ou teria sido
reconduzida à casa paterna que a teria forçado a um casamento, ou seduzida, abandonada, desonrada, teria se
matado de desespero. Pode-se também imaginá-la
como uma alegre prostituta......mas em nenhum momento ela teria dirigido
um elenco ou escrito dramas.”
Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”
Na
verdade, diz Simone,o status legal da mulher continuou o mesmo desde o início
do século XV até o século XIX. Mas, salvo algumas pequenas distinções, pouco se
alterou desde a Antiguidade greco-romana até os nossos dias. Muitas mulheres
continuam súditas de seus maridos-senhor, confinadas ao lar, ou quando têm seu
próprio trabalho, sua remuneração é sempre infinitamente inferior à do macho,
já que sempre se consideraram inferiores. “ Abrem-se
às mulheres as fábricas, os escritórios, as universidades, mas continua-se a
considerar que o casamento lhes é uma carreira das mais honoráveis, que
dispensa qualquer outra participação na vida coletiva.” ....” Tudo encoraja à jovem a esperar a esperar do príncipe encantado
dinheiro e felicidade do que tentar sozinha a difícil e incerta conquista. “
E é verdade que o mito de Cinderela ainda vigora . E continua Simone” “Entretanto tendo tomado consciência de
si-mesma e que pode libertar-se do casamento pelo seu trabalho , a mulher não
aceita a submissão.” Mas a que generalização não iluda ninguém. É bom
lembrar que Simone escreveu o 1º. Volume de sua obra em 1947, e que de lá para
cá muita coisa mudou, mas a verdadeira igualdade ainda está para ser
conquistada Até os anos 50 muito pouco havia mudado. Em nossos dias, a mãe
solteira deixou de ser objeto de escândalo. A sexualidade feminina rompeu
barreiras, mas ao marido é permitida a traição, não à esposa, que passa a ser
execrada. Quantos maridos apaixonam-se, abandonam suas esposas, as expõem à
crueldade pública e, uma vez terminada a paixão, voltam fagueiramente ao lar,
que lhes dá segurança. E alguém já ouviu falar de algum caso oposto? Poucas
mulheres , em nossos dias, participam do orçamento da casa, dividem decisões,
são mulheres autônomas. Até pouco tempo atrás, as mulheres eram menos
preparadas que seus irmãos, dedicavam- se menos à profissão. E em muitas
famílias isso ainda é freqüente. Conheço mulheres que ganham sua vida mas
,ainda assim, admiram outras mulheres porque encontraram um marido mais rico do
que o seu, ainda que vivam exclusivamente do dinheiro do macho. Conheço
mulheres que aceitaram a traição porque é mais cômodo, menos perigoso, mais de
acordo com regras sociais ainda vigentes.
Em
muitos casos, hoje, 2014, o homem ainda considera a mulher uma conquista sua. “
Não é somente um prazer subjetivo e
efêmero que procura o homem no ato sexual.Ele quer conquistar , tomar, possuir:
ter uma mulher significa vencê-la: ele penetra nela como o arado no sulco da
terra : ele a faz sua como faz sua a terra que trabalha.....” E esta é a razão de exigir a virgindade, ele
será cavaleiro a colher a flor que
existe no fundo da mulher, daí o termo deflorar. No casamento burguês
diz Simone, a virgindade é moeda de troca, a mulher entrega seu corpo virgem e
recebe em troca uma pensão vitalícia, seja ela em quaisquer condições. No
início do 2º. Volume Simone começa com a seguinte reflexão: “O destino que a sociedade propõe
tradicionalmente à mulher é o casamento....” Mas ela própria conclui, já
naqueles tempos que vão longe, que a condição econômica da mulher estaria mudando
esta união. A mulher deixou de estar restrita à função reprodutora , livrou-se
e continua livrando-se, da servidão , produz pelo seu trabalho. Mas ainda há
muito a conquistar. E a luta continua, não com soutiens sendo queimados, machos
odiados, mas com a certeza de nossa individualidade e consequente liberdade, e
de nossa recusa permanente na desigualdade.
Um comentário:
Belo texto! Um grito de alerta para as mulheres.Por Que Não uma Mulher?
Tudo podemos e devemos.Brisas e flores para você.Bjs Eloah
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