Inventado pelos irmãos Lumière, o
cinema mostra, a um público ávido por novidades, cenas da vida cotidiana. São
operárias saindo da fábrica Lumière, “A chegada do trem à estação Ciotat”,
amigos jogando cartas no jardim, e o cômico “L´arroseur arrosé”. A primeira
sessão deu-se no "Grand Café", 14, Boulevard des Capucines, no dia 28 de dezembro
de 1895. Um cartaz exibia:
“CINEMATÓGRAFO LUMIÈRE, entrada 1 franco” A arrumação da sala sumária: uma
tela, uma centena de cadeiras, um aparelho de projeção em cima de uma escadinha
Foram exibidos dez filmes documentais, cada um com duração média de dois
minutos. O público parece não haver se interessado muito, nesta primeira sessão
foram registrados somente trinta e três espectadores. A imprensa, convidada, não compareceu. Mas a
propaganda boca a boca faz afluir o
público. Em poucos dias, formam-se filas, onde ocorrem brigas, tendo a polícia
que intervir. Estava nascendo a grande invenção do século, que hoje, passados
mais de cem anos, ainda nos seduz.
Pode-se dizer que a primeira sala de cinema do
mundo, ainda existe, chama-se Eden, é uma saleta situada no subsolo do Grand
Café. Na época chamava-se Salão Indiano. Posteriormente, foi comum a exibição
de filmes de curta metragem, cerca de oito minutos, nos parques de diversão, ou
nos museus temáticos, do tipo Grévin, em Paris, ou Egyptian Hall, em Londres. É
a partir de 1905, que, nos Estados Unidos, surgem as primeiras salas de cinema,
tal como a concebemos hoje.
E pouco a pouco, o cinema, nosso
velho conhecido, foi surgindo, contando histórias, inventando truques. Georges
Méliès, prestigiditador famoso, é convidado pelos irmãos Lumière e se encanta. Sai sonhando em fazer a aliança
do que acaba de ver com a mágica. Genial, ele, vai pouco a pouco, desenvolver o
drama, a comédia, a aventura, a magia. Conta-se que um dia, estando a filmar
diante da Opéra, em Paris, a película fica presa. Ao soltá-la e continuar a
filmagem, produz-se um acontecimento mágico: uma carruagem converte-se em um bonde,
uma mulher em um homem, um cavalo em um cachorro. Então não será mais preciso
utilizar milhares de artimanhas em suas mágicas, o cinema se encarregará disso.
Em 1897, constrói no jardim de sua
mansão em Montreuil, nos arredores de Paris, o primeiro estúdio
cinematográfico, adaptando-o às necessidades de suas criações. Foi o inventor e
um mestre dos efeitos especiais. Pela superposição de filmagens, consegue criar
múltiplas imagens duplas, em atitudes e expressões diversas, entre muitos
outros truques. É considerado, ainda hoje, o maior cineasta do mundo, sendo
chamado por Chaplin de “Mestre da luz”. Fez mais de quinhentos filmes de curta
duração. Os atores eram amigos, vizinhos, empregados. Somente sua esposa,
Jeanne Dalcy, era atriz profissional. O mais célebre de seus filmes “ Voyage
dans la lune” realizado em 1902, permanece célebre e é considerado um prodígio
de efeitos, tendo em vista a época. Os filmes em preto e branco eram
minuciosamente coloridos, quadro a quadro por grande número de mulheres
coloristas. Trabalho incansável e perfeito , que podemos ainda hoje admirar.
Pensou-se em utilizar o
extraordinário invento para mostrar cirurgias, e chegou-se à filmagem da
separação de duas irmãs siamesas em 1902, apesar dos protestos da sociedade
médica francesa contra esta prática. Afinal, tal proeza acabou exibida em
parques de diversão. E então surgem outras sociedades como a Pathé, produzindo
filmes dirigidos por um jovem corso, funcionário da casa, Ferdinand Zecca, que
inicia sua carreira em 1901 com o filme “Histoire d´un crime”. E a industria cinematográfica expande-se, é
preciso mais aparelhos para os compradores de filmes. Léon Gaumont põe no
mercado um projetor destinado tanto à filmagem quanto à projeção. E algum tempo
depois, outro aparelho de projeção mais silencioso: o Chronophotographe
Gaumont. Confia a realização das obras, pequenas “sainetes” à sua jovem
assistente Alice Guy, considerada a primeira cineasta feminina do mundo. Mademoiselle Guy revela-se uma grande
realizadora, que de 1897 a 1906, produzirá mais de 200 filmes. E realiza filmes
de enorme sucesso, como “La vie du Christ” em 1906, sua obra mais importante.
Não se trata mais de uma “sainete” ingênua, mas de um verdadeiro drama com trezentos figurantes e vinte e cinco
cenários, uma verdadeira epopéia.
A França possui três competidores
Méliès, Pathé e Gaumont, que se vigiam. Nos Estados Unidos também progride a
indústria cinematográfica. Thomas Edson e outros pesquisadores constroem outros
aparelhos com o mesmo fim. As exposições universais de 1889 e 1900 são ocasião
para exibição de novos aparelhos. Outros produzem e dirigem filmes. As
reportagens mostram cenas da guerra dos bôeres na Africa do Sul em 1899, a
coroação do Tsar Nicolau II em 1896, onde aparece a Tsarina e suas fillhas
Olga, Tatiana, Maria , Anastácia e o pequeno Alexei. Todos fusilados pelos
Bolcheviques em dezessete de julho de mil novecentos e dezoito. E também filmam
banalidades, já que não tinham nenhuma formação jornalística. Reportagens
aconteciam dos dois lados do mundo e igualmente cativavam o público.
Na França, pouco a pouco, as
filmagens e truques de Méliès perdem o interesse. Ele acaba vendendo seu
estúdio e mais tarde perde toda sua fortuna. No final da vida, tinha uma banca
de brinquedos e doces na estação de metro de Montparnasse. Já bem no fim, foi
devidamente reconhecido e homenageado, passando a receber uma pensão do governo
francês por serviços prestados à cultura. Morreu em 1938. Alice Guy passou
parte de sua vida nos Estados Unidos, onde morreu em 1968. Ferdinand Zecca,
Charles Pathé , considerado o pai da industria cinematográfica, também já se
foram há muitos anos. Mas de todos eles restou a beleza, o lirismo e a
nostalgia de um tempo lindo, em que a fantasia da nova arte iluminava com
sorrisos ou lágrimas os rostos de nossos
antepassados.
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