Há alguns dias, um amigo e eu, tomando uma cervejinha neste
verão antecipado, começamos a conversar sobre aquelas mulheres que, em tempos
idos, fizeram sonhar homens e também mulheres, que gostariam de ter sua beleza,
fama, fortuna, milhões de admiradores a seus pés. Aquelas que podiam ter
amantes, casar muitas vezes, sempre com homens famosos, passear em cadilacs
imensos como transatlânticos. Mulheres que viveram numa época de intenso
glamour, que apareciam nas telas com peignoirs de seda, viviam em ambientes de
luxo. Parece que foi Jean Harlow, que deu início a esta sedução dourada. Morreu
aos 26 anos, em 1937, segundo se diz em decorrência da recusa de sua mãe, ou
sua, em permitir uma cirurgia necessária, já que pertencia a uma crença
religiosa denominada Ciência Cristã que proibia intervenções cirúrgicas. Outra
famosa e glamorosa loura foi Carole Lombard, morta em um acidente de avião em
1942, aos 34 anos, quando fazia venda de bônus para as tropas americanas
durante a Segunda Guerra. Teve um ardente romance com Clark Gable, com quem se
casou. Morto em 1960, o galã, que tantas mulheres fez suspirar, está enterrado
ao seu lado. E mais recentemente, mas não tanto, o mundo da sedução perdeu a belíssima
dominicana Maria Montes, morta de um ataque cardíaco em uma banheira. O ano é o
já longínquo 1951.
Mas estas já estão num passado muito remoto. Ava Gadner, que
o poeta e pintor francês, Jean Cocteau, classificou como o “mais belo animal do
mundo”, teve uma vida amorosa tumultuada. Foi casada com Frank Sinatra, que,
fascinado por sua beleza, abandonou a mulher, com quem fora casado desde a
juventude. No filme “O Poderoso Chefão” (o primeiro), com Marlon Brandon no
papel de Don Corleone, este romance, e posterior divórcio de um cantor, protegido
pela Mafia, é comentado e censurado. No casamento da filha do chefão, ele canta
para a noiva e é clara a alusão a Sinatra. O ano do casamento é 1951 e Frank
era seu terceiro marido. Como tudo na vida dela, foi tumultuado, incluindo uma
tentativa de suicídio dele, acabou em 1953.
Era fascinada por
toureiros, e manteve um arrebatador romance com o mais famoso de todos, Luís
Miguel Dominguin. Conta-se que, certa noite, em um hotel em Roma, durante uma
briga, tentou suicídio, atirando-se de uma sacada. Para sua sorte, a roupa
enganchou numa grade e a grande star teve de ser resgatada pelos bombeiros. Alguns
anos antes de sua morte, em 1990, a atriz confidenciou a um jornalista que,
logo após a Revolução, foi a Havana, hospedando-se na casa do escritor
americano Ernest Hemingway. Lá conheceu Fidel Castro, então jovem, e herói ,o
que a encantou. Sem dizer claramente, deu a entender que mantiveram um romance.
Pela biografia amorosa de ambos, pode-se crer ser verdade. E também, talvez, com
Juan Domingo Perón. No Brasil, provocou escândalos, com bebedeiras e
quebradeiras no Copacabana Palace.
E também Rita Hayworth
, ou melhor, Rita Margarita Cansino. Vinha de uma família de dançarinos
ciganos. Seu avô era considerado o maior dançarino de flamenco da época. Rita
aprendeu dança desde os três anos, tornando-se parceira de seu pai nas
exibições. Ao ser descoberta, trocou o sobrenome pelo de sua mãe, de origem irlandesa.
Sua beleza foi aprimorada por longas e dolorosas sessões de eletrólise que lhe
descobriram a testa. Pintou os cabelos de ruivo e tornou-se a inesquecível “Gilda”.
Foi mulher de Orson Welles, com quem teve uma filha, Rebecca, que faleceu em
2004, aos sessenta anos. Seu terceiro marido, foi o célebre play-boy, Ali Khan,
com quem teve a segunda filha, Yasmin. Ali Khan, nasceu em Turim de mãe
italiana e morreu em Paris, em 1960. Creio que jamais foi ao Paquistão, ainda
que tenha sido seu representante na ONU! Pertencia a uma dinastia muçulmana,
descendente de um certo rei de nome complicado. A ignorância do povo paquistanês
fez dos Aga Khan, e toda sua família, uma das mais ricas do mundo.
Ainda na década de sessenta Rita deu os primeiros sinais de
uma doença que a aniquilaria até a morte. O terrível mal de Alzheimer. Conta-se
que certa noite, seu vizinho, Glenn Ford, com quem havia filmado o célebre
“Gilda”, telefonou à sua filha Rebecca relatando que a mãe passava as noites
caminhando pelos jardins na mansão, ao que ela respondeu : “É bebedeira”. Em
1987, já totalmente lesada, morreu no apartamento de sua filha Yasmin. Tendo
assistido todo o horror por que passara ela própria e sua mãe, Yasmin organizou
uma Fundação que ajuda as vítimas da doença. Acerca disso, vi uma entrevista
sua há alguns anos. Rita casou-se cinco
vezes e para justificar seus múltiplos casamentos dizia: “Os homens vão para
cama com Gilda, mas acordam comigo.”.
Liz
Taylor, o mais belo rosto do cinema. Ou um dos mais belos. Foi estrela desde a
infância. Sua beleza percorreu sua carreira, encantando o mundo. Foi também a
campeã de casamentos, oito ao todo. Com Richard Burton, grande ator, oriundo do
teatro, tornou-se uma atriz respeitada pela critica, e não somente aquela dos
“olhos violeta”. Relação conturbada, que incluiu dois divórcios e dois
casamentos, muitos diamantes, brigas e muito álcool. De dois dos seus
casamentos teve três filhos, mas nenhum seguiu a carreira cinematográfica. Morreu
em 2011, vítima de uma grave cardiopatia. Não caminhava mais, sendo conduzida
numa cadeira de rodas. Mas conservou a sua beleza, já madura. Disse-me na época
uma amiga em tom de brincadeira: “É, todo mundo morre mesmo! Até a Liz Taylor!”
E Marilyn Monroe ou, mais prosaicamente, Norma Jean. Antiga,
operária durante a Guerra, filha de mãe esquizofrênica e pai desconhecido,
criada em lares adotivos. Tornou-se célebre por sua foto nua, para um
calendário, em que expunha seu corpo escultural. Neste tempo ainda tinha a cor
natural dos cabelos e era Norma Jean. Seu terceiro e último marido, Arthur
Miller, é um dos grandes teatrólogos americanos, sendo autor de peças célebres
como “As bruxas de Salem” e “ A morte do
caixeiro viajante”, dentre outras . Foi um casamento intrigante, pois se
juntavam um intelectual do mais alto nível e o grande símbolo sexual. Para
casarem-se, Marilyn converteu-se ao judaísmo. Arthur Miller teve grande
influência em sua vida e foi o único de seus maridos a engravidá-la. Abortou
durante uma filmagem, cujo roteiro era do próprio Miller. O casamento durou cerca
de seis anos.
Sua morte ficou para
sempre envolta em mistério. Como havia sido amante de Bob e John Kennedy, foi
levantada a hipótese de que fora vítima de homicídio, o que é muito pouco
provável. O mais verossímil é que tenha sido vítima de uma overdose de
barbitúricos, sendo que a hipótese de suicídio está praticamente descartada.
Recentemente, uma revista americana classificou-a como a mulher mais sexy de
toda a história do cinema.
E há também as européias, como Sofia Loren, atualmente com
oitenta e um anos. Sua beleza selvagem encantou platéias durante anos. Teve um
único marido, o diretor Carlo Ponti, feio, baixote e careca, e dois filhos.
Sempre levou uma vida discreta. Dela nunca se soube de escândalo, álcool, amantes.
Hoje, já velha, ainda é uma bela mulher, possivelmente pela vida tranqüila que
sempre levou. E Gina Lollobrigida, hoje com oitenta e oito anos. Casou-se duas
vezes, teve um único filho, com o primeiro marido, um médico iugoslavo. Foi a
grande musa do neo-realismo italiano e seus filmes desta fase tornaram-se
ícones do cinema. Ainda hoje conserva traços de sua inesquecível beleza. E
Silvana Mangano. Esposa do diretor Dino de Laurentis, atriz inesquecível de
“Ulysses”, onde atuou como a feiticeira Circe e a esposa que o espera ,
Penélope. E muitas outras, lindas, mas que não cultivaram aquele glamour
hollywoodiano.
Hoje tudo mudou. Muitas atrizes, cantoras, e até princesas,
estão engajadas em ações sociais. A mais conhecida é Angelina Jolie, Embaixadora
da Boa Vontade da ONU e que ainda coordena projetos políticos em países como a
Etiópia e Camboja. Gisele Bünchen é Embaixadora da ONU para causas ambientais.
E cantoras como Madonna, que trata de uma ONG que visa a inclusão social de
crianças pobres e ainda “Raising Malawi”, que trata de órfãos e crianças com
AIDS no miserável país africano. Há alguns anos, adotou duas crianças no país,
que são criadas com seus filhos. E tantas outras, como a cantora Shakira, que
tem uma ONG que provê alimentação e educação para crianças pobres na Colômbia.
Podemos compreender que o mundo mudou, mudamos nós, mulheres.
Não nos basta mais ser belas, temos projetos profissionais, queremos liberdade,
independência. Queremos respeito pelo que conquistamos. Temos compromissos com
nossa sociedade. Ava Gardner, Rita Hayword, Marilyn Monroe, Liz Taylor e tantas outras,
ainda que admiradas pela sua beleza, morreram sem deixar nada além de suas
cascas, e com o passar dos anos serão totalmente esquecidas.
Um comentário:
Obrigada por essa interessante aula sobre as divas do cinema!
Beijos, Maria Lúcia!
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