HÁ CINQUENTA
ANOS: A Revolução que não aconteceu
Como era o
mundo há cinqüenta anos? Estávamos divididos entre dois impérios: o Soviético e
o Capitalista. Estes dois impérios
haviam se formado a partir da Segunda guerra
como frente de combate ao Nazismo. Num erro estratégico brutal, através
da operação Barbarrossa, a Alemanha invade a Rússia, comandada pelo camarada
Stalin, pouco depois o Japão, que juntamente com a Itália e Alemanha fazia
parte do chamado Eixo, bombardeia a base naval americana de Pearl Harbour,
obrigando os Estados Unidos, governado por Franklin Roosevelt, a igualmente
atacar a Alemanha.
Terminada a
Guerra, com a derrota nazista, e seus
parceiros, formam-se dois grupos ideologicamente opostos, divididos pelo que
Churchill , Primeiro Ministro inglês, chamou de “cortina de ferro”. Em 1948, o Partido Comunista Chinês toma o
poder. E assim viveu o mundo entre capitalismo e comunismo. Desde 1945 até a
queda do muro de Berlim, em 1990. Mas
durante estes 45 anos o mundo deu voltas ( ou como diria o francês “ Le monde a bougé”). Várias guerras deram origem
a regimes de orientação comunista como a da Coréia do norte, do Vietnam, do Camboja.
Entretanto, excetuando a Coréia do Norte , os regimes chamados de extrema esquerda
foram desaparecendo. Hoje, somente restam China e seu comunismo capitalista, a
miserável Coréia do Norte, Cuba, igualmente miserável, e o bolivarianismo, na
infeliz Venezuela.
Naquele ano
de 1968, o mundo começou a mexer-se de forma mais expressiva. Vários
acontecimentos determinaram este pipocar, de um lado e de outro. Já em 1956,
lembro-me que morava na França, tinha 10 anos e assistia pela televisão, a revolta na Hungria, talvez
o primeiro movimento de insurreição contra o comunismo. A princípio foram
estudantes que invadiram uma estação – evidentemente estatal – querendo
transmitir suas reivindicações. Apesar de brutalmente contidos, com mortes, o
movimento que buscava mudanças espalhou-se pela cidade. Forças do Pacto de
Varsóvia, que reunia a União Soviética e todos os países do Leste (fundado na
cidade de Varsóvia , em1955, e extinto em 1991) sufocaram o movimento, que se extinguiu em
definitivo em janeiro de 1957. Pedia-se liberdade, democracia, como se pedia
também em países do mundo capitalista, dominados por Batistas, Trujillos, Somozas, Duvaliers ( Papa Doc) ,
respectivamente ditadores de Cuba, República Dominicana, Nicaragua e Haiti, além de outros que não conheço. Todos
protegidos pelos Estados Unidos e enriquecidos às custas do empobrecimento do
povo. E sem esquecer Alfredo Stroessner, crudelíssimo ditador do Paraguay,
durante dezenas de anos. Deu abrigo ao nazista Joseph Mengele, médico-monstro,
cujas proezas incluíam, entre outras, amarrar as pernas de mulheres em trabalho
de parto. Morreu de forma misteriosa, se não me engano no Brasil, assim como
seu protetor, Stroessner.
Em 1959, o
primeiro movimento “libertador”, liderado pelos guerrilheiros de Sierra
Maestra, instala o comunismo na ilha. Em 1964, ocorre o golpe militar no
Brasil, com prisões, tanques nas ruas, foragidos políticos, gente
torturada e assassinada. Quem viveu estes anos, sabe bem o que é realmente um
“golpe”. Na verdade, poucos eram os países democráticos no chamado “mundo
livre”. Sou da geração que assistiu a tudo isso, que se horrorizou, que teve
medo. E ao tomarmos conhecimento de tudo o que acontecia, muitos de nós optou
pelo lado oposto. Viramos “comunistas”.
Em 1967,
morre Chê, e torna-se nosso grande herói, vítima do capitalismo, no qual
vivíamos confortavelmente. E é interessante notar que foi naquele ano, e no
seguinte, que surgem no Brasil os primeiros sinais da frustrada guerrilha, que
tantas vidas jovens levou. Movimentos insurrecionais surgem em regiões
afastadas mas também nas cidades. Houve seqüestros, de Embaixadores sendo o
mais famoso o do Embaixador americano. E ainda a inesquecível luta pelos direitos civis dos negros nos
Estados Unidos e o brutal assassinato de Martin Luther King, o maior líder
negro, orgulho da raça. Seu assassino cumpriu prisão perpétua até sua morte em 1998. O assassinato de Robert Kennedy, que também
provoca grande comoção no mundo. Havia um movimento de revolta por um mundo
melhor, fosse de que cor, ou ideologia, fosse.
Também do
outro lado do mundo, do outro lado daquela “cortina de ferro” surgia o
movimento de liberação chamada “ Primavera de Praga”. O dirigente do Partido Comunista Tcheco Alexander Dubcek procura dar
ao povo maior liberdade , introduzindo Reformas importantes e sobretudo uma nova
Constituição. A incrível experiência da Liberdade, inspira o escritor Milan
Kundera a escrever o mais famoso de seus livros “ A insustentável leveza do
ser”. Mas Praga é invadida pelos tanques do Pacto de Varsóvia, e a esperança de
LIBERDADE acaba tendo muitos
intelectuais fugindo, como o próprio Kundera , que exilou-se na França, onde
recebeu cidadania francesa.
Ora, neste
ano de 1968, sobre o qual Zuenir Ventura escreveu o livro “1968, o ano que não
acabou”, no qual se refere especialmente ao Brasil, e que ainda não li, há
coisa demais acontecendo. Fazendo uma breve retrospectiva, lembremo-nos que até
1958, vigorava na França a IVa Republica, instituída após a Segunda Guerra, e que
não funcionou. E Charles de Gaulle era, indubitavelmente,
um herói nacional. Exilou-se na Inglaterra, quando da invasão nazista, de onde
liberou “La France Libre”, com uma emissão de rádio que os franceses ouviam às
escondidas. Voltando à França, o general de Gaulle, funda seu partido e reúne
forças para promover a V Repubica . Ou seja, a V Constituição. Eleito em 1958,
reelegeu-se até 1965. Mas sua atuação autoritária, ainda que tenha sido
extremamente positiva para uma França, há poucos anos saída de uma guerra e de
uma invasão, desagradava a estudantes e operários, estes comumente comunistas.
Foi então,
em meio a este mundo conturbado que ocorre um incidente talvez banal de uma
revolta localizada, mas que teria grande
repercussão. Não se pode localizar exatamente o momento em que surgiu a idéia
de revolucionar a França. O Mundo brigava, americanos lutavam contra vietcongs,
tchecos eram massacrados, africanos lutavam por suas liberdades. Um pequeno
incidente na Universidade de Nanterre –Paris X – desencadeia uma reação
desproporcional. Na inauguração de uma piscina,
comparece o Ministro da Juventude
e dos esportes, há uma discussão entre
ele e um estudante ruivo de origem alemã e judaica, Daniel Cohn-Bendit, que torna-se
líder do movimento reivindicatório . O Ministro é vaiado pelos estudantes , o
que deixa bem claro o descontentamento. Não
consta que Daniel pertencesse a algum partido político, mas pensava que era
necessário movimentar a França , diante de um mundo em ebulição. Greves de estudantes
e operários obrigam De Gaulle a tomar providências policiais. Após o envolvimento da polícia , com prisões,
a revolta concentra-se no Quartier Latin
. Dali se expandiu por toda a França. Houve barricadas em várias cidades, o
movimento , ao que parece pretendia trazer de volta a célebre Comuna de 1871,
que pretendia instituir o primeiro governo proletário no mundo. À Revolta de
1968, unem-se intelectuais como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Jean-Luc
Goddard, e François Truffaut, entre outros. O Partido Comunista Francês, sob a
direção de Georges Marchais, toma posição contrária, como havia acontecido no
Brasil, com a posição de Luís Carlos Prestes contrária à guerrilha. Num dia memorável, o grande poeta surrealista,
Louis Aragon, já bem velho, tenta falar
aos estudantes. Membro do Partido Comunista, é estrondosamente vaiado. Vergonha
para os que o vaiavam, Louis Aragon, tinha uma história de luta e era um
símbolo da cultura francesa. Finalmente, concedem-lhe a palavra. Esta
manifestação de intolerância já marca o começo do fim do movimento. Finalmente,
operários, obedecendo às grandes Centrais Sindicais, ligadas ao Partido
Comunista, voltam às fábricas . O movimento enfraquece até sua extinção. Sem o
prometida Revolução.
Ao todo o
movimento rebelde dura de maio a julho. Em 1969, De Gaulle propõe um referendum para regionalização do Senado , mas não
consegue vitória. Em seguida, renuncia.
Morre em
1970, O próximo Presidente da
França é Valéry Giscard
D´Estaing. De direita.
Um comentário:
Muito interessante esse resumo histórico
Guacira
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