La plus grande horizontale du XIX siècle
Antes de falar destas mulheres que venderam seus corpos, para comprar sua LIBERDADE, é preciso se reportar a esta sociedade patriarcal , existente no século XIX, em que a mulher só existia para os afazeres domésticos, ou para procriar. Os salários eram irrisórios e se quisessem seguir sua vida sozinhas, só lhes restava duas opções : a vida miserável, como vimos que acontecia com as "vendeuses" , obrigadas a um trabalho forçado de 14 horas, de pé , ou à prostituição. Isto quando tinham a sorte de ter atributos físicos. Aliás, esta profunda desvalorização da mulher vem de tempos muito antigos, mesmo na Grécia de grandes pensadores , artistas e arquitetos , a mulher era confinada ao Lar, chamado Gineceu. O exemplo bíblico da mulher adúltera é sinalizador desta anomalia; ela deveria ser apedrejada , mas não o seu amante.
Enfim, para não me alongar numa enorme lista de discriminações , vou começar a falar destas que optaram por outra coisa. E tenho certeza, de que, no século XXI , ninguém pensará que se trata de apologia à prostituição. Aliás, me orgulho de haver sido sempre, ao longo da vida, uma mulher independente, vivido de meu trabalho honesto e eficiente, procurado sempre me alçar ao mais alto, sem depender de casamento, o quê me rendeu sérios embates com meu pai. Não vou dizer "uma mulher livre", porque já fui pejorativamente assim qualificada.
A primeira destas mulheres, denominadas "cocottes", "mondaines", "horizontales" chamava-se Thérèse Lachmann, judia, nascida em 1819, num gueto de Moscou. Era filha de um miserável vendedor de retalhos velhos , que para assegurar-lhe , talvez, um futuro mais estável, mandou batizá-la cristã. Ainda muito jovem, seu pai resolve entregá-la a um pobre alfaiate, francês, que , tendo em vista sua pobreza, era obrigado a morar naquele gueto judeu. Um ano depois, Thérèse , continua na miséria, trabalhando na casa e cuidando de uma criança .Um belo dia, enquanto o filho dorme e o marido trabalha, ela embrulha suas poucas roupas num pedaço de pano e segue adiante. Mulher corajosa, ciente dos perigos que corria uma judia naquela Rússia czarista, onde existiam pogroons ( ataques a Judeus ), como a Noite dos Cristais na Alemanha Nazista. Pretende atravessar a fronteira , que jamais mencionará qual, vivendo de seu corpo. Chega a Constantinopla , execrada por todos , e segue sempre. Enfim, vendendo-se pelo caminho, chega a Paris, onde procura comida e um lugar onde possa descansar seu corpo exausto, não importando quão sórdido fosse. No quartier Saint- Paul, há muitos judeus , que a fazem lembrar o miserável gueto de sua infância, que deixara para trás.
Como diz um de seus biógrafos Pierre Dominique: " Thérèse , só tem seu corpo para escapar do quartier Saint -Paul. E ela usou. Duro ofício . Numa noite gelada de dezembro, pobre prostituta, com um roupa inadequada e sapatos furados , sem haver nada comido, ela desce os Campos Elíseos e desmaia num banco." O que ela ignora é que este Jardin d`hiver, diante do qual caiu, em alguns anos, será demolido e em seu lugar, construído um magnífico palácio, SEU, que ainda hoje existe na famosa avenida, e cujo luxo nababesco atrai especialistas.( Uma visita pode ser vista no canal do YOUTUBE "Les Trésors des Hôtels Particuliers")
A história de Thérèse é longa e cheia de infortúnios e glórias. Com o dinheiro economizado, com sua beleza, carisma, e aguda inteligência atrai grandes personalidades. Certa vez, vendo no pianista austríaco, Henri Herz, uma possibilidade de sucesso, e tendo assistido inúmeras vezes a seus concertos, (é verdade que amava a música), a cortesã simula um desmaio. É acudida por muitos , inclusive pelo virtuose, que se encanta com aquela desconhecida. Mas, afinal, quem será ela? De onde vem? Qual seu passado? Sem se importar, leva-a para morar com ele. Tudo "comme il faut"! Agora são Monsieur e Madame Herz e têm uma filhinha. O músico é rico, e possui uma manufatura de pianos. Nada está mais na moda do que ter um piano Herz. Mas esta devoradora de dinheiro leva-o à ruína. E ele é obrigado a partir para a América. Sem haver se casado, a família do músico, revoltada, expulsa-a do apartamento. Por essa época, ocorre a Revolução de 1848, que, como todas as Revoluções, não é conveniente ao comércio da galanteria.
Mas, logo surge uma barão português, imensamente rico em terras e em dívidas, o quê Thérèse não sabe. Ele é atraente e lhe traz um título de nobreza. Casam-se , já que o casamento com o pianista não fora efetivado. Casamento na Igreja Católica e também no civil. Seu primeiro marido Villoing , o alfaiate, havia retornado à França com o filho e "...e tem a feliz idéia de morrer em 1849!" Logo, Thérèse está livre ! Mas se o título lhe trouxe a nobreza, o marido lhe trouxe problemas. Beberrão, mulherengo, a endivida! Logo ela! E um belo dia, ela se cansa. Coloca-o fora de casa, e manda-o para um hotel. Quer recomeçar sua vida. O ano é 1853. Pleno Segundo Império.
Mas , afinal, o título e o nome lhe trazem sorte. Durante anos, La Paiva , como é conhecida, é mal vista, sussurra-se sobre seu passado, mas ela continua a frequentar os lugares de elite. Até o surgimento de um certo rapaz vindo de uma região chamada Silésia entre Polônia e Alemanha. Riquíssimo, queria gozar a vida, e logo que conhece Thérèse se apaixona , apesar de ser onze anos mais jovem do que ela. Agora, chegou a hora da revanche sobre todos aqueles que a desprezaram. Vive no luxo, e comenta Napoleão III, que seu camarote tem mais conforto do que o da Imperatriz Amélia.
No seu palacete, o leito proposto pelo arquiteto, extremamente caro, é recusado por ela, que achava que poderia valer o dobro. Tudo sob o olhar complacente do amante. Conta-se que num baile da pequena burguesia, tão comum naquele tempo, duas garotas pobres espiam o palacete e uma diz à outra: "Um palacete como este!!! Ao que a outra retruca: "Fácil, basta tirar a calcinha!!" Mas em julho de 1870, a partir de uma tramoia de Bismark, o Chanceler prussiano, Napoleão III dá um passo em falso e declara guerra. Objetivo de Bismarck , reunir os diferentes reinos e ducados e formar o Estado Alemão. A França é vencida e Napoleão III tem que abdicar.
Por sorte sua, Paiva havia se suicidado, o quê ela comemora. Agora, totalmente livre e pode casar-se com seu amante. Nesta época, a cortesã já era, para os padrões da época, uma mulher madura. Havia engordado, seus traços semíticos tornaram-se mais pesados. Olhando para a imagem da noite e do dia, pintadas no teto de seu palácio, aquela não parecia, a mesma mulher. Mas seu amante continuava apaixonado! Qual seria seu sortilégio sexual?
Mas era preciso tomar uma atitude. Prudência exigia deixar a França. A cortesã , obesa , e ainda coberta de diamantes, lança um último olhar a seu palácio. Alguns anos depois, morre, na agora Alemanha, num estranho castelo que tenta imitar aquele de Paris. O motivo de sua morte? Uma hipertrofia do coração! Justo ela, que jamais tivera um!
Proximamente, postarei a história de outras cortesãs que deixaram seus nomes na história da galanteria .
XIX
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