As grande amantes reais
Disse Napoleão: " O poder é o maior afrodisíaco".
"De acordo com Demóstenes, o homem ateniense "tinha cortesãs por causa do prazer, concubinas no interesse da saúde diária de nosso corpo e esposas para nos proporcionar uma prole legítima e serem fiéis guardiãs de nosso lar." Citação da Princesa Michael of Kent, autora do livro "As grandes amantes da História." Sabe-se que na Grécia a mulher era restrita ao chamado "Gineceu" e sua função era tão somente procriar. Na Alta Idade Média, durante, por exemplo, a Dinastia Carolíngea, inaugurada por Pépin le Bref, pai de Carlos Magno, era normal enviar-se para um convento pelo resto de seus dias, alguma esposa que tivesse falhado em algum de seus deveres, como dar filhos machos ao Rei. O próprio Carlos Magno cometeu este horror. Na dinastia anterior, dos Reis Merovíngios, o normal era importar Princesas nórdicas, muito valorizadas pela sua beleza. A dinastia seguinte, aquela dos Capetinos, tem início com Hugues Capet, no ano de 987. A ela pertencem os mais conhecidos Reis da França. Luís XVI, depois de destronado foi chamado pelos Jacobinos de Luís Capet, referindo-se à dinastia à qual pertencia.
É verdade que durante a maior parte da Idade Média, não houve amantes. O desprezo pelas mulheres, filhas de Eva que havido produzido o pecado original, era enorme. Somente podia salvar-se Maria, mãe de Jesus. No entanto, isto não regatava inteiramente o pecado original. Segundo os historiadores Georges Duby e Michelle Perrot, " a Idade Média pensou que a lepra podia ser contraída no decurso de uma relação com uma mulher menstruada, e alguns autores afirmam que a criança concebida nessas condições pode ser leprosa." Amantes reais eram, portanto, raras durante um longo período da História da Europa.
Mas voltando ao assunto propriamente dito, que pretendemos abordar, a verdade é que muitas amantes reais tiveram um grande objetivo de poder ao compartilhar a intimidade de um Rei, mas há também aquelas que o fizeram por amor. É também verdade que se sua influência era maior do que a da Rainha, sua situação era de profunda ansiedade, pois a qualquer momento seu real amante poderia se enjoar dela e trocá-la por outra. Exemplo disso é Luís XIV, que teve muitas amantes, até apaixonar-se por Madame de Montespan, que era casada e já tinha dois filhos. Com ela teve outros seis. Na verdade, Madame de Montespan, havia sido escolhida para ser acompanhante da Rainha Maria Teresa, Infanta da Espanha. Madame de Montespan era consciente do valor da beleza e fazia massagear-se com finos cremes. Também era motivo de valorização da beleza, que a mulher tivesse barriga e muitas colocavam enchimentos! Faço esta observação para fazer notar o quanto mudam com o tempo os conceitos de beleza.
É preciso levar em consideração que não era nenhum sentimento amoroso que movia estes casamentos reais, mas sim políticos. Luís XIV teve três amantes oficiais, Louise de la Vallière, com quem teve cinco filhos, dos quais apenas dois sobreviveram à infância. Mademoiselle de la Vallière acabou seus dias em um Convento, no ano de 1710. Quanto à Madame de Montespan, caiu em desgraça, acusada de bruxaria, ou coisa parecida. Sua última amante, ou Rainha Consorte, por um casamento secreto, uma vez que Maria Teresa já havia falecido, foi Madame de Maintenon, que havia sido chamada para ser preceptora dos filhos de Luís XIV com Madame de Montespan. Ela já era viúva do poeta satírico, chamado Scarron. Proveniente do Protestantismo, tornou-se uma católica fanática. Não era bela, mas pode-se dizer que foi o grande amor do Rei. Morreu 4 anos depois dele.
Mas há uma que foi amante de um Rei, na Baixa Idade Média. Chamava se Agnès Sorel. Ainda muito jovem, apaixonou-se e entregou-se de corpo e alma a Carlos VII. Era uma linda mulher, enquanto o Rei era horrendo e fraco. Seu reinado ocorreu durante a Guerra dos Cem anos, que opunha ingleses a franceses. E foi graças ao heroísmo de uma jovem camponesa, visionária, chamada Jeanne D'Arc, padroeira da França, que seu país venceu a Inglaterra. Ainda assim, Carlos VII, não hesitou, por razões políticas, em entregá- la aos ingleses, que a condenaram à fogueira.
Agnés Sorel, era ambiciosa, gostava de belas roupas, e as mais caras joias. Inovou a moda, descobrindo a sensualidade dos decotes, que expunham parte dos seios, o quê seria impensável antes. Esta é a razão pela qual nas pinturas, um de seus seios está sempre exposto. Engravidou várias vezes, mas não sei quantos sobreviveram. A humilhação pública de sua mãe, Marie d'Anjou, leva o Delfim, futuro Luís XI, a detestá-la. Malgrado tudo isto, o casal real tem 13 filhos. Apaixonado, o Rei dá de presente a sua amante, um "manoir" (mansão), chamado "Beauté" , donde vem a denominação, justa, para a amante do Rei, de "Dame de la Beauté" . Um canal no Youtube, chamado "Secrets d' Histoire", mostra uma experiência notável. Há alguns anos, seu túmulo foi reaberto, e descoberto em uma urna, seu crâneo. Uma incrível reconstituição facial, com técnicas modernas e artistas, foi realizada. E como diz a comentarista: " Neste momento um milagre se produz, Agnès Sorel aparece sob os nossos olhos." E o rosto que se vê é de estonteante beleza. Perfeição de traços, colocaram-lhe olhos azuis, e cabelos louros, tal como descreviam seus contemporâneos.
Grávida, ela viajou 4 dias para encontrar o Rei. Ao voltar, após uma gravidez e parto particularmente difíceis, ela dá à luz, e morre logo depois. Suspeita-se de que foi envenenada por Luís XI, filho de Carlos VII. Durante o período Jacobino, todos os túmulos reais foram profanados, inclusive o seu. A cabeça, destacada do corpo foi colocada dentro de um pote e coberta de terra. Passado o Terror, um religioso que havia que havia testemunhado a infâmia, retira o pote e o entrega a alguma autoridade. Não sei exatamente em que data, o pote e o resto de seus despojos foram finalmente levado a um túmulo de mármore negro, de onde foi retirado já nos anos 2000, para a reconstituição facial.
Incrível história de uma mulher que muito amou e muito foi amada, que revolucionou a moda de seu tempo, que vestiu renda e usou tecidos bordados a ouro e joias as mais lindas.
Outra amante famosa foi Diane de Poitiers. Nascida em 1499, já no alvorecer da Renascença, com o mundo emergindo das trevas medievais. O homem agora se voltava para a beleza das artes, retomando valores esquecidos da Grécia e de Roma. Por esta razão é a chamada "Renascença". Neste alvorecer de uma nova era, a criança recebe o nome de Diana, em homenagem à deusa da caça e da lua. Desde cedo, mostrou-se uma criança excepcional, cuidando de sua higiene, levantando-se cedo para banhar-se nas águas frias de um riacho. Manteve ao longo da vida o hábito de exercícios e massagens, numa época em que ainda a formosura tinha vida curta. Ainda criança, órfã de mãe, foi criada por uma tia, que cuidou de seus estudos. Conta-se que aos sete anos era capaz de ler latim e aos nove, grego. Além disto, era linda, de pele alva e cabelos vermelho dourados.
Quando conheceu Henrique II, Diana já era viúva de Luís de Brezé, neto de Carlos VII e da bela Agnès Sorel. E tinha duas filhas. Quando se conheceram "Henrique tinha dezessete; Diane de Poitiers trinta e cinco. O jovem tímido de olhos escuros e apertados, com um esplêndido corpo de atleta debaixo dos trajes desalinhados, que jamais se esforçara para cultivar amigos, desenvolvia agora uma nova confiança e um comportamento apropriado à sua condição"(Princesa Michael of Kent). Henrique havia sido forçado a uma casamento político com Catarina de Médicis, sobrinha do famoso Lourenço de Médicis, o Magnifico, grande incentivador das artes que embelezam Florença. Catarina era uma mulher extremamente feia, e seu marido não sentia por ela nenhum amor ou desejo. Assim, durante cerca de doze anos, não gerou nenhum filho. Quando conheceu Diana, a paixão foi fulminante. Conta-se que Diana o excitava suficientemente para que ele pudesse manter relações com a esposa. Afinal, ela deu à luz a doze filhos. Mas, também entre os dois amantes a paixão levava-os à loucura. Foi o mais belo dos Reis da França. De origem Capetina, mas de linhagem Valois, sendo seu pai Francisco I, o primeiro da dita linhagem. Henrique II deu a sua amante todo o esplendor que o poder pode dar. Vale lembrar o célebre castelo de Chenonceau na Vallé du Loire, que visitei há anos. Henrique mandou construir uma majestosa ponte ligando o castelo á margem. Ali, Diana realizava festas monumentais. Há incrustados nos cantos do teto, dois croissants entrelaçados (croissants significando "crescente"). E o Rei se vestia de preto e branco, cores de sua amada.
Henrique era fascinado pela chamada "justas", em que dois cavaleiros, munidos de lança, a cavalo um contra o outro, tentavam derrubar-se. Era um esporte de alto risco e conta-se que a Rainha, Diane e todos seus familiares haviam implorado para que não se expusesse. Naquele dia fatal, o Rei entra na arena com as cores de sua amante e seu emblema do crescente. Aos quase sessenta anos, Diane parecia tão radiosa quanto aos trinta. Os cavaleiros portavam elmos com viseiras, mas, para terror de todos a lança do adversário penetra na viseira e perfura um dos olhos do Rei e parece que atingiu seu cérebro. A desolação é total. Catarina, a Rainha, manda decapitar quatro prisioneiros para que seus cérebros fossem estudados. Mas, evidentemente, de nada adianta, ele agoniza durante dez dias e acaba morrendo em meio a terríveis dores
Enfim, chega a hora da vingança! Ela fora humilhada, muitas vezes era Diane que estava ao lado do Rei em solenidades oficiais. Ao saber da morte de seu amado, ela havia pensado que seria presa. Mas Catarina era muito astuta para isto. Assim, despojo-a de bens, que lhe haviam sido dados por Henrique. Seus amigos se afastaram durante algum tempo com medo de represália de Catarina. Ao fim de cerca de dois anos, voltaram. Diane refugiou-se no "manoir" de Anet, onde vivera momentos de intenso amor. Os aldeões, passaram a amá-la . Para eles, retribuindo este amor, Diane construiu um pequeno hospital , além de lares para mães solteiras, órfãos, meninas carentes e viúvas.
Pouco antes de morrer, em decorrência de uma fratura em uma das pernas, Diane dividiu sua enorme fortuna entre suas duas filhas, com a condição que nenhuma se tornasse protestante. "Jamais um protestante receberá um rendimento de Diane de Poitiers".
É bom lembrar que pouco antes Lutero havia divulgado seu libelo contra as indulgências vendidas pela Igreja Católica, ou seja, o Vaticano, e começavam as guerras religiosas.
Morreu no dia 25 de abril de 1566, justamente aos 66 anos.
Seguindo a linha do tempo, falemos um pouco de Henrique IV, que promulgou o Edito de Nantes, que permitia aos protestantes, sobretudo calvinistas, o direito a professar sua fé. Este documento colocou fim às guerras religiosas, com especial referência à Noite de São Bartolomeu, ocorrida entre 23 e 24 de agosto de 1572. A Carlos IX, filho de Catarina e Henrique, seguiria Henrique III, homossexual, sempre acompanhado de amigos com seu perfil sexual, grupo chamado de "Henri et ses mignons". Henrique III não forneceu herdeiros ao trono e seu casamento com Louise de Lorraine, constituindo o que se chama "casamento branco" Mas, naquela fatídica noite de 23 de agosto, católicos foram convocados para eliminar os chamados Huguenotes (protestantes) e o sangue correu pelas ruas de Paris. Catarina de Médici, com seu instinto político resolve então unir um huguenote, Henrique de Navarra, a sua filha Margot. Há sobre esta Rainha um magnífico filme; "La Reine Margot", que assisti em Paris em 1993, ano de seu lançamento e que, já me antecipando, compartilhei um pequeno vídeo em meu Facebook. Este casamento, puramente político, é forçado a Marguerite de Valois. E o video postado mostra a sua relutância em dizer o "sim" , até que um de seus irmãos, creio que Carlos IX, lhe dá um murro na nuca que é reconhecido como "sim".
Morta toda a linhagem Valois, Henrique de Navarra, da mesma origem Capetina, mas da linhagem Bourbon, resolve converter-se, por razões políticas, ao catolicismo - "Paris vaut bien une messe" e é coroado Henrique IV. Há um livro de Alexandre Dumas, chamado " La Reine Margot", de quem vale a pena falar um dia. Como esquecer esta mulher bela e culta? Obrigada a abdicar de seu verdadeiro amor, o cavaleiro de la Molle. Há em Paris, no museu de cera, Grévin, uma bela cena sua , despedindo-se de seu verdadeiro amor. Aliás, tenho duas lembranças inesquecíveis deste museu. A primeira, quando era criança e morava na França. Uma noite, fui com meu pai visitar este museu, e fiquei impressionadíssima. Jeanne D'Arc na cela, orando, antes de ser levada à fogueira, Maria Antonieta, já na Torre do Templo, sendo-lhe mostrada a cabeça decapitada de sua melhor amiga, Mademoiselle de Lamballe , o quê é fato histórico. Chegando em casa, ansiosa, contando para minha mãe o quê vira, desmaiei. Lembro-me de minha mãe amparando-me e de meu pai dizendo: "Sou um homem acabado". Aliás, ouvi-o dizer em outras ocasiões esta mesma frase. Hoje, adulta, estou certa de que lembrava-se de sua meia-irmã, Maria, morta aos doze anos de Peste Bubônica, também chamada de Peste Negra. Ele jamais esqueceu esta irmã, que dizia ser linda. O ano era 1922, e a peste. transmitida pela pulga de ratos doentes se espalhou pelo país .Ou talvez pelo mundo. Minha mãe perdeu amigas e até um admirador (na época ela tinha 14 anos). Um Presidente brasileiro, recém eleito também foi vitimado. Os mortos eram enterrados em caixões forrados de zinco, acho eu, e não podia haver velório. A outra ocasião, bem posterior, de meu velho amigo Grévin, foi em 1981, Estava fazendo um curso sobre o Palácio de Versalhes, e fui revisitar o Museu de tantas lembranças. Lá encontrei um rapaz que era vigia, acho eu, e que era refugiado do Afeganistão, invadido pelos soviéticos. Afinal, foram eles que começaram tudo! Hoje me pergunto qual será sua posição, ou se estará vivo.
Henrique IV foi um político genial, mas seu apetite sexual era incomensurável. Dizia-se que tinha mais amantes do que os dias do ano. Posteriormente, apaixonou-se perdidamente por uma jovem de extraordinária beleza, chamada Gabrielle d' Estrées, que vinha de uma família de cortesãs, desde sua avó. Dizem que foi sob sua influência que o Rei assinou o Édito de Nantes, de importância vital para a paz entre católicos e protestantes. Chegou ao ponto de pedir ao Papa a anulação de seu casamento com Maria de Médicis, sua segunda mulher. Pouco antes da anulação chegar, Gabrielle d'Estrées morre em consequência de um parto prematuro.
Com Maria de Médici, Henrique IV teve vários filhos, dentre os quais o Delfim , que viria a ser Luís III. Ao contrário do pai, era tímido e não dado a amantes. Casou-se com Anne d'Autriche, Infanta da Espanha. Conta-se que a Rainha era infiel e que durante anos tivera vários amantes. Há também no Museu Grévin uma cena em que a Rainha passa um bilhete a seu amante. Durante a menoridade de seu filho, futuro Luís XIV, foi Regente. Já Luís XIV, herdara do avô a devoção ao sexo. Mas dele já falei bastante.
Jeanne-Antoinette Poisson nasceu em 29 de dezembro de 1721. Foi a primeira filha de uma casal firmemente ancorado na classe média. Com casamentos baseados em finalidades políticas, todas as esposas podiam ter amantes . Segundo seus mais gentis biógrafos, sua mãe teve pelo menos doze amantes, todos ricos e influentes.
Quando o Rei , Luís XV, tataraneto de Luís XIV, que durante sua longa vida e seu longo reinado, havia perdido todos seus descendentes mais próximos, lembrando que naqueles tempos a expectativa de vida era curta e o Rei era longevo. Chegado o momento do casamento de Luís XV, era preciso escolher uma noiva. O Rei da Polônia, Stanislas Leczinski , era um Rei que vivia sob o protetorado de potências , como a Suécia , tendo residência na cidade francesa de Estrasburgo, e tinha uma filha disponível. Era Maria Leczinka , sete anos mais velha do que o Rei e que nada tinha a ver com a corte fastuosa de Versalhes. A futura Rainha é descrita como" profundamente religiosa, modesta, despretensiosa, bondosa, sem graça e maçante." Princesa Michael of Kent. E relutava em deixar a vida que levava para ser Rainha da França. Mas para espanto geral, aconteceu uma irresistível atração entre eles. Luís XV era um homem de família, que não se entediava com esta vida, ou melhor, que se entediava com as regras tolas da corte de Versalhes. No entanto, seguindo a tradição de seus predecessores mantinha sempre uma amante. Seu sogro, o Rei Stanislas, dizia que as duas mulheres mais insípidas da Europa eram sua mulher e sua filha.
Mas voltemos à futura Madame de Pompadour. Devido à negócios escusos, ou talvez como bode expiatório, Monsieur Poisson, tem que exilar-se na Alemanha. Conhecendo os maus hábitos da esposa, pede a duas cunhadas, freiras, que tomem sob sua custódia a pequena "Reinette" ( Rainhazinha) e seu irmãozinho. Responsáveis por Jeanne-Antoinette, as freiras cuidaram de sua saúde, já que a criança era vítima de uma persistente bronquite, que com o correr dos anos, terminaria por levá-la. E também cuidaram de sua educação levando a ler clássicos e a escrever. Assim, aliada a beleza, a "petite Jeanne" deveria encontrar um marido que valesse a pena. Esta era a ideia de sua mãe. E assim, preparou-a para entrar no Grand Monde. E para isto não bastava ser linda, nem culta, nem tão inteligente, era preciso ser divertida, ambiciosa, saber distrair. E para isto, levou-a a aprender clavicordio (espécie de teclado) , a cantar, a recitar.
Em 1738, ela tinha dezessete anos. Era alta, bem feita de corpo, cabelos castanhos dourados, rosto de oval perfeito e olhos que variavam entre o azul escuro e o violeta. Enfim, tinha tudo para entrar no Grand Monde. Este é também o ano em que o Rei se separa definidamente de sua entediosa mulher. Em 1739, aos dezoito anos, Jeanne- Antoinette, casa-se com Le Normand d'Etioles, sobrinho do amante de sua mãe. Embora, não profundamente apaixonada, ela estava feliz. Naquele momento do século XVIII, chamado "Século das Luzes", as mulheres da burguesia, e também algumas da nobreza, encontravam lugar para dialogar com homens que deixariam sua marca para o futuro. Foi nestas residências da alta burguesia que se formaram os "Salons", onde Iluministas Franceses se reuniam e foi deles que partiram ideias que viriam, anos depois, a chamar a atenção da burguesia revolucionária. E aqui podemos citar, Diderot, D'Alembert, Voltaire, Montesquieu e Rousseau, que a partir de certo momento se distanciou do grupo. Pretendiam a igualdade entre as pessoas, o fim do domínio da Igreja Católica, embora não fossem ateus, exceção feita a Diderot. Mas pretendiam também mudanças econômicas e sociais. Jeanne-Antoinette não era até então uma mulher de profunda cultura, mas com sua inteligência ágil, foi aprofundando seus conhecimentos, o quê lhe permitia discutir qualquer assunto com homens do mais alto nível. Voltaire a chamava de "a divina Etioles", a visitava frequentemente e tornara-se seu amigo íntimo.
Um ano após seu casamento, ela dá à luz um menino , que morre um ano depois. Seu pesar é imenso! Mas no ano seguinte, nasce uma menina que chamou de Alexandrine, em homenagem a uma amiga. Não se sabe exatamente quando Luís XV conheceu e se interessou por sua futura amante. O que se sabe é que sua separação do marido foi mal recebida e que ele lhe escreveu uma carta pedindo a reconciliação. O que também fica claro é que Jeanne-Antoinette foi mal recebida na corte, acostumada a dividir a Humanidade em Nobres e Terceiro Estado, ou seja, não nobres. Consideravam-na uma burguesa fora de seu lugar. Por defender filósofos, como Diderot, ela foi lançada às chamas, mas conseguiu o seu intento. No auge de seu poder, sofre um duro golpe com a morte d sua filha Alexandrine de apenas nove anos. Esta burguesa, (e jamais poderiam imaginar que a Burguesia os destruiria) cria escola para crianças pobres, e a Porcelaine de Vincennes.
Em 1750, por razões ginecológicas, que não consegui descobrir, as relações sexuais terminam. Já antes, ela havia comentado em uma carta a seu irmão, que morava na Itália, seu pouco interesse pelo sexo, e que era por amor ao seu amado Rei, que ela suportava o contato sexual. Neste momento, ela passa de amante a conselheira do Rei. Passaram os anos, com derrotas e vitórias.
Mas estes anos, arruinaram pouco a pouco sua saúde. Após vários abortos espontâneos, a progressão de sua doença respiratória, seu corpo vai definhado. Também a higiene precária, a falta de sol em ambientes sombrios, tudo contribuiu deixá-la mas frágil. Torna-se esquelética, alimentando-se com o quê lhe prescreviam para restaurar sua saúde e sua vida sexual. E a respiração cada vez mais difícil. Nos seus últimos anos tinha constante dor de cabeça e febre. Só a morte a libertaria.
E ela chega em 15 de abril de 1764, em Versalhes, com a tuberculose. Seu corpo foi retirado coberto com um simples lençol. Ao saber de sua morte, o Rei retirou-se para seus aposentos. Dois dias depois, prestou à velha amante e amiga uma derradeira homenagem, acompanhando de longe o cortejo fúnebre, que seguia sob uma chuva torrencial. Depois, com o rosto coberto de lágrimas disse a seus serviçais:" Foi a única homenagem que pude lhe prestar."
Ainda há muitas amantes de que poderia falar, mas estas foram a meu ver as mais interessantes. Algum dia, falarei de Teodora, Rainha de Bizâncio, que de prostituta no Hipódromo de Constantinopla, tornou-se Rainha. Mas para ela é preciso um texto inteiro.