QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sábado, 6 de abril de 2013

O prazer nos tempos do Feudalismo I

Já que vamos falar de uma época considerada a escuridão da História humana, seria interessante que vissem numa das últimas “Veja” a imagem do matadouro do qual é um dos sócios o Ministro da Agricultura da Dilma. Será que com 10 anos de PT no governo  voltamos aos horrores medievais? E somente uma voz se levantou no Congresso, a do líder do PPS. Prometo que vou tentar mandar o foto,  mas infelizmente, este não é meu forte.
Idade Média, escuridão, peste, sujeira, maldade. Contam que o Rei Felipe Augusto (1165-1223) desmaiou, estando próximo a uma janela do seu palácio em Paris,  no momento em que  uma carroça que passava pela rua  remexeu a imundice, espalhando um tal fedor que  o rei não resistiu. Os porcos andavam soltos nas ruas, e os dejetos, humanos ou não, eram despejados pelas janelas. Azar de quem passasse embaixo. E um dia foi o rei Luís XIX – Saint Louis – ( 1214-1270)  que recebeu, sobre sua capa bordada a ouro, as fezes de um urinol, jogadas por um estudante. Mas como era Santo (?) perdoou o sacrílego. Aliás, Paris continuou suja até a reforma de Haussmann, em meados do século 19.
Mas do que quero falar é dos “prazeres” na Idade Média, que começa com a decadência do Império Romano, lá pelo século 5 - chamada Alta Idade Média – e termina lá pelo ano 1000. A Baixa Idade Média se estende até o século XV , com o surgimento da burguesia, do capitalismo, do primeiros passos em direção ao centralismo governamental.  Mas aqui nos interessa , sobretudo, a Alta Idade Média.
Para começar, nós, mulheres independentes, podemos dar uma olhada no que pensavam  os clérigos destes tempos. Afinal, somos descendentes de Eva, e” É pela mulher que o pecado começou e é por causa dela que todos morremos”. Como castigo Jeová – Antigo Testamento- nos deu os sofrimentos da gravidez e as dores do parto.  Tudo isso, ainda que no “Cânticos dos Cânticos” chegue-se ao erotismo: “...em teu élan, tu te assemelhas à palmeira e teus seios são os frutos....”. Já no século X, dizia um monge: “ A beleza do corpo não reside senão na pele. Com efeito, se os homens vissem o que está debaixo da pele, a vista das mulheres dar-lhes-ia náuseas...” Dentre as mulheres só se salvava Virgem Maria, que havia concebido sem pecado. Não sei do que diziam de Maria Madalena.
No Cristianismo daqueles tempos primordiais prevaleceu o desprezo do mundo, e a vida considerada somente como uma passagem para eternidade. Para atingi-la, todos os prazeres deveriam ser banidos, a começar pelo sexual. E aí começa o grande imbróglio, como alcançar aquele princípio do Antigo TestamentoCrescei e multiplica-vos “? A Idade Média encontrou , sobretudo, nos escritos de São Paulo , elementos hostis à mulher e ao casamento. Mas como procriar? Se  o coito interrompido havia sido severamente condenado pelo Antigo Testamento, o ato sexual deveria ser o menos prazeroso possível. Buscou-se a “Etreinte reservée , onde o casal une-se pelo sexo sem permitir o prazer, sendo o órgão retirado logo que ele se  anuncia. Para a procriação, recomendava-se que ,enquanto  praticava o ato sexual, a  mulher orasse e recitasse para seu parceiro textos sagrados. Além do mais, havia os dias proibidos para o sexo, e eram tantos que, afinal, pouco sobrava para este ato. O sexo conjugal só tornou-se aceitável através de São Tomas de Aquino, pelas leituras aristotélicas.
E quanto aos demais prazeres? Nenhuma mulher devia esconder sua imperfeições, nem a passagem do tempo. A beleza seria um caminho do pecado  e a juventude logo se transformava em decrepitude. Toda vaidade era ofensiva a Deus. Jovens se encarceravam e passavam a vida orando e alimentando-se de menos do que o estritamente necessário. A tal ponto que o simples odor de um alimento levava-as ao desmaio. São Estevão, de família de posses, renuncia a todo prazer e leva ao extremo seu suplício. Todos os prazeres são banidos, seu pão embebido em lágrimas pelos pecados do mundo substitui os alimentos , usa cilício sobre a pele todo o tempo, no inverno mergulha em um lago gelado e ali permanece até que o frio o tenha penetrado totalmente. E ainda conta-se que São Luís de França, derramava água sobre os pratos que mais apreciava para não haver prazer na mesa.
Bem, mas afinal, não foi só de desprezo ao mundo que se fez a Idade Média. Houve mulheres como Alienor d`Aquitaine, mãe do célébre Ricardo Coração de Leão, Branca de Castela, sua neta e muitas outras de que falarei proximamente. É verdade que houve sempre mulheres que lutaram pela contra a soberania masculina, que brigaram pela sua liberdade. Creio que esta luta começou com nossas antepassadas, ainda nas cavernas, é muito antiga, e muitas de nós já conseguiram. Considero-me uma dessas. Também tive dificuldades, e muita luta. Mas não me deixei curvar. Infelizmente, a mentalidade de muitos homens continua tacanha, como daquele meu ex-namorado, que me encontrando na rua, e ficando sabendo de minha separação e de que toda minha família havia morrido, perguntou: “Mas como é possível? Você vive sozinha? Pelo menos freqüenta baladas? “ Tive vontade de perguntar-lhe: "E você, freqüenta? Somos contemporâneos, olhe-se e veja se dá para baladas.  Mas afinal, há também aqueles que evoluíram. E olhe há quanto tempo estamos lutando. E ainda há tanto a fazer.