QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 29 de março de 2024

 Os anos 40. Destruição e reconstrução

"Mais do que qualquer outra década do século, os anos quarenta se compõem de duas partes diametralmente opostas. Até 1945, tudo foi guerra e destruição. A reconstrução do pós-guerra que se segue foi uma obra admirável" Nick Yapp

Mas, estamos falando do esforço de recompor tudo aquilo que o horror nazista havia destruído. Na verdade, neste fantástico esforço, havia falta de alimentos, de vestimentas, de casas, as pessoas haviam perdido tudo. E ainda a luz era escassa. Segundo alguns relatos, comia-se o que se encontrava, desde cavalos até ratos, como sucedâneo de proteína. Foi, sem dúvida uma época de heroísmo e de brutalidade, de coragem e de covardia (covardia não só durante a guerra). Foi neste pós-guerra que o mundo veio a conhecer o Holocausto, a "solução final", que visava a exterminação de todo um povo coisa, jamais vista na História da Humanidade. Foi aí que se criou a palavra "genocidio". Mas ainda havia coisa por vir, a Bomba atômica, que, a mando do Presidente americano, Harry Truman, reduziu a cinza duas cidades japonesas - Hiroshima e  Nagasaki. E foi o momento do nascimento da Guerra Fria, que dividiu o mundo em dois, sendo o Leste, intitulado pelo Primeiro Ministro Inglês,  Winston Churchill, a "cortina de ferro".

Por outro lado, havia um mundo que renascia. A moda, desaparecida nos anos de Guerra, sobretudo por falta de material, que fora substituído preferencialmente pela sarja, renascia com costureiros como Jacques Fath, prematuramente  falecido em 1954, Christian Dior e Pierre Balmain. E o mundo conheceu tecidos como nylon, hoje fora de moda. Na literatura, o mundo leu o trágico diário de Anne Frank, a menina judia holandesa, que durante anos viveu com sua família escondida no sótão de  uma casa, até ser denunciada, transportada para um campo de concentração, onde morreu com toda sua família. O escritor inglês , Georges Orwell, lançava obras memoráveis como "A Revolução dos Bichos", que li há muitos anos e não me lembro mais. "1984", fantástico e inesquecível  romance, cujo fundo é um libelo contra ditaduras. Este  li e reli várias vezes. É interessante que o escreveu em 1948, o quê é o contrário de 1984. Suas perspectivas eram sombrias.  E  Gandhi, ainda vivo , responde o quê pensava da "civilização ocidental": "Penso que seria uma ótima ideia." Ele, que vivia  sob o domínio inglês e que experimentaria na própria carne a barbárie desta dita civilização.

Glenn Miller e toda sua orquestra desaparecem numa viagem de avião sobre o Oceano Pacifico, em 1942. Sua finalidade era distrair tropas americanas. Lembro-me de um filme que vi quando criança, chamado "Músicas e Lágrimas", que relembra este trágico acontecimento. Os atores são James Steward e June Allyson. Na França, é descoberta, por quatro garotos, a caverna de Lascaux, considerada obra prima da arte rupestre. Alguns a chamam a "Catedral gótica de Lascaux". Evidentemente, hoje interditada ao público.

E quanto ao povo alemão, francês, inglês, dos países nórdicos, e dos países baixos? Sem esquecer os russos! Lembrando que entre oficiais, civis, mulheres, velhos e crianças, somam a monstruosa quantidade de 20 milhões de russos! E estes, que perderam tudo na aventura nazista? E os judeus, que sobreviveram, sem família, sem esperança de futuro, depois do quê haviam passado? Muitos eram rejeitados em seus próprios países de origem, onde disputavam os raros empregos. Sem ter para onde ir, muitos optaram pelos Estados Unidos, que não saíra falido da Guerra. A princípio, ainda atordoados pelo  que acabara de acontecer, os alemães não tinham noção da real proporção da monstruosidade nazista. Mulheres transportando seus haveres em carros de bebê, ou nas costas. E foi nestas condições, há quase 80 anos, que no Palácio de Nuremberg, onde Hitler tantas vezes comemorara seu triunfo, que se reuniram os lideres das potências vencedoras: Estados Unidos, Inglaterra, Rússia e França. O objetivo do Tribunal era não somente condenar os carrascos, mas também mostrar ao povo alemão o quê havia de fato acontecido durante aqueles anos. Aos alemães foram mostrados os objetos de ouro roubado dos judeus, alianças, anéis e até dentes. A grande finalidade do Tribunal era,  além de punir, mostrar a morte definitiva da Alemanha nazista. 

Entre 20 de abril de 1945 e 1o. de outubro de 1946, foram julgados os principais lideres do nazismo, como Joachim Von Ribbentrop, Herman Goering, General Wilhem Keitel, que assinara a rendição total da Alemanha, General Alfred Jodl, Alfred Rosenberg, Rudolf Hess, entre outros. Aos criminosos foram mostrados filmes dos campos de concentração, com os prisioneiros esquálidos, montes de cadáveres esqueléticos, amontoados em valas.  As cenas eram tão horrendas que muitos deles tiravam o microfone de tradução simultânea (que fora criada e ensinada para o Tribunal), ou desviavam o olhar. Muitas conferências já haviam sido realizadas, ainda durante a vida de Roosevelt (falecido em 1945), para que fosse resolvido o que fazer após a evidente queda do nazismo. Após o julgamento, condenado a forca Hermann Goering, escapou, cometendo suicídio, com uma capsula de cianeto, que lhe fora misteriosamente passada. Martim Bormann, foi  condenado a revelia, já que havia fugido. Mas não conseguiu. Seus restos mortais foram encontrados, algum tempo depois, perto do Bunker, onde Hitler se escondera com outras figuras proeminentes do nazismo, e se suicidara com sua amante, Eva Braun. Interessante notar que contraíram matrimônio poucas horas antes do suicídio, ela com uma capsula de cianureto, ele com um tiro na têmpora. Heinrich Himmler, comandante das SS - tropa de elite no governo nazista - homem de confiança de Hitler, no momento da prisão, também cometeu suicídio, engolindo uma capsula de cianureto. Ao todo, foram condenados a forca 10 carrascos nazistas, três à prisão perpétua. Entre estes estava Rudolf Hess. Décadas depois, muito velho e sozinho na prisão de Spandau, acabou por suicidar-se, o quê é contestado por seu filho, com quem conviveu  somente um ano, que afirma que seu pai foi assassinado pelos britânicos receosos de que revelasse segredos. Albert Speer, arquiteto de Hitler,  Ministro dos armamentos de 1942 até o fim da Guerra, e também  responsável pelo trabalho escravo de prisioneiros para produção de armamentos , estava presente no Tribunal. Ali, mostrou alto nível intelectual e não  procurou fugir à sua culpa.  No entanto, sua condenação a somente vinte anos provocou revolta, sobretudo na França onde muitos membros da Resistência foram explorados, assassinados ou torturados por sua ordem. Tenho um livro seu, que herdei de meu pai, intitulado "Por dentro do IIIo. Reich - A derrocada" Além deste, publicou outros, e ganhou muito dinheiro. Certa vez, já em liberdade, tentou entrar na Inglaterra, mas foi impedido. No dia seguinte, foi mandadode volta para a Alemanha. Seu filho, também arquiteto, Albert Speer Jr. não se preocupou com o nome, e se tornou um dos maiores arquitetos do país, acumulando prêmios e deixando para trás o repugnante  passado de seu pai. Morreu em 2017. O filho de Joseph Mengele, chamado "O Anjo da Morte" nasceu um ano antes da fuga de seu pai. Chamava-se Rolf e, pelo que se sabia, não  lhe tinha nenhum afeto. E nem podia! Correspondia-se com o pai, que usava nome falso. Em 1977, resolveu conhecê-lo. Convencido de que ainda mantinha os ideais nazistas, Rolf voltou para a Alemanha e viveu uma vida tranquila, no ramo da farmácia. Nunca mais teve qualquer contato com o pai, que morreu de um infarto fulminante na praia Atibaia.  Hans Frank, o "carniceiro da Polônia", executado em Nuremberg, teve um filho, Nikolas. Este tornou-se jornalista e escritor. Não negava a vergonha que tinha de sua ancestralidade, chegando a escrever um livro em que não poupava sua mãe, sobre a qual escreveu um livro "Minha mãe alemã".  E o mais impressionate, o filho de Martin Borman, braço direito de Hitler, chamado Adolf, talvez em homenagem ao Furer. Adolf, quando adolescente participou dos grupos hitleristas. Após a derrota, fugiu. Dizem que foi adotado por uma família italiana. Convertido ao catolicismo, tornou-se padre foi morar no Congo, onde dizem rezava todas as noites pelas vítimas do Holocausto. 

Bem , ainda há tanto a falar desta Guerra e do horror jamais visto!  Em um só texto não há espaço para tanto. Segurei na próxima semana. Até lá!    

segunda-feira, 18 de março de 2024

 Os Anos Loucos

Os chamados "Anos Loucos" são aqueles que seguiram a 1a. Grande Guerra. Foram loucos, como a vida, repletos de coisas boas e péssimas. As mulheres se libertaram dos espartilhos e das longas cabeleiras. Cabelos curtos, calças compridas, cigarros. Depois dos horrores desta Guerra, todos sabiam que nada mais seria como antes. Ela deixara profundas cicatrizes. Muitos soldados voltavam desfigurados, mutilados, com graves  problemas psicológicos . E foi em 1917 ou 18 que ocorreram os primeiros casos da pandemia chamada "gripe espanhola", e se espalhou rapidamente pelo mundo através de uma mutação do vírus "influenza". Não se sabe onde surgiu, mas, certamente, não na Espanha. O nome "gripe espanhola" veio da grande divulgação dada pela imprensa espanhola. Calcula-se que mais de 500 milhões de pessoas sucumbiram. Há alguns anos, vi uma foto  terrível, nos Estados Unidos, de crianças abandonadas  na varanda de casa. Toda a família havia morrido. Uma cunhada de meu pai, esposa de seu irmão mais velho, faleceu e deixou órfã uma criança de dois anos, que foi criada por minha avó. No Brasil, morreram figuras importantes como o recém reeleito Presidente Rodrigues Alves. Foi por esta época que começaram a despontar nomes como Hitler, Mussolini, Stalin, Hiroito. Mas o mundo ainda não sabia o que viriam a  significar. 

Mas como não se podia prever nada, o melhor era viver este presente que parecia tão radioso. Surgem figuras importantes, como Coco Chanel, que reinventa a moda, o genial compositor russo, Igor Strawinsky, refugiado, e ,futuramente, um dos inúmeros amantes de Chanel. Surge o Ballet Russo, sob a direção de Serge Daighlev, e  com a icônica figura de Nijinsky, considerado o maior bailarino todos os tempos. Foi em 1921, ou 22,  que  Nijinsky, com coreografia creio de Daighlev, dança no Thèâtre de l'Elysée a genial obra de Debussy, "Prélude à l'après midi d'un faune", inspirado  no poema simbolista de Stéphane de Mallarmé. A peça não pode ser apresentada inteiramente, por causa da vaia dos espectadores, que não haviam entendido nada da coreografia inovadora. Foi uma época também marcada pela morte da bailarina americana Isadora Duncan, enforcada por sua echarpe, que se enrolara nas rodas de seu carro. 

Na música popular, surgem dois compositores genais; George Gershwin e Irving Berlin. E na ciência, Einstein, recebe o Prêmio Nobel de física e Alexander Fleming descobre a penicilina. E na arqueologia, Howard Carter e Lord Carnarvon, abrem a tumba de Toutankhamon, que ali repousava há milhares de anos. Foi nas minhas constantes visitas ao Louvre quando criança, a que me levava meu pai, que me apaixonei pela Arqueologia e sonhei, desde minha infância até a idade adulta, em ser arqueóloga, da mesma forma que meu irmão sonhava em ser paleontólogo. Em 1927, o piloto americano, Charles Lindenberg, atravessa sem escala o Oceano Atlântico.

Para as mulheres, era a libertação. De agora em diante, podiam, dirigir carros, fumar em público, dançar, movendo o corpo como quisessem. O trabalho feminino, que já fora admitido desde  a guerra, por falta de mão de obra masculina, torna-se  frequente e, afinal, significa uma libertação da mulher do macho protetor. E muitas passaram a frequentar Universidades e a se qualificar profissionalmente.

No cinema, Chaplin, Stan Laurel e Oliver Hard, a notar que Stan Laurel foi para os Estados Unidos na trupe de Chaplin. E havia também Harold Loyd e Buster Keaton. Todos eles fizeram a alegria de minha mãe e de minha tia Aracy. E só para lembrar, muitos e muitos anos depois, eu não podia ver as deliciosas comédias do Gordo e do Magro, sem chorar. Eu morava em Paris e nas tardes de quinta feira (ou seria quarta?), em que, sem ter aula, eu podia assistir a sessão infantil. Minha mãe sempre me dava um trocado para comprar meu chocolate preferido. Naquele momento, de dor, faziam-me crer que eu JAMAIS voltaria a andar normalmente! Felizmente, isto já passou! E estou andando normalmente, ainda que tenha medo das calçadas! Mas voltando para os anos 20, foi o momento do surgimento do Surrealismo e do Dadaismo, que pretendiam desconstruir  a linguagem. 

Grandes grandes escritores americanos escolheram Paris para viver,  sendo, Ernest Hemingway, o mais apaixonado pela cidade. Disse ele "Se você, quando jovem, teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante." Eu tive esta experiência na infância, e esta lembrança me acompanha até hoje. Infelizmente, hoje, Paris não é mais a mesma. Muita coisa desapareceu, coisas fantásticas, como Les Halles Centrales, construído por Napoleão III, e que inspirou a Emile Zola o fabuloso "Le ventre de Paris". A destruição ocorreu sobretudo durante  o nefasto governo de Georges Pompidou, político corrupto e megalomaníaco. Hoje no lugar de Les Halles , há um certo Centre Georges Pompidou. Vice de De Gaule, chegou ao poder pela morte do titular. Certa vez, fui ver uma exposição que tratava do "Inicio de tudo",  e, logo na entrada, havia uma pintura, não me lembro de quem, que mostrava uma enorme vagina. Achei a ideia inteligente. Aliás, a única coisa que achei especial, nas poucas vezes que fui lá. 

No Brasil, 1922, marca a Semana de Arte Moderna, com a intenção de fugir dos paradigmas europeus e marcar nossa brasilidade. Vale lembrar Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade. Já na Alemanha vencida, assinado o Tratado de Versalhes, com todas suas exigências,  instalou-se a maior inflação da História. Um livro de Eric Maria Remarque, chamado "Obelisco Negro",  retrata esta miserabilidade do povo alemão. Pessoas acordavam de madrugada para comprar pão, pois uma hora depois estaria mais caro. As notas serviam para cobrir as paredes. É aí que surge o Expressionismo alemão, que retrata através do monstruoso esta catástrofe da chamada República de Weimer.  O filme "Nosferatu" mostra bem este movimento. Ainda por volta de 1923 ou 24, surge, como salvador da pátria, o "Nacional Socialismo", mais tarde rebatizado por Hitler como "Partido Nazista".

1938- Tratado de Munique, em que parte da Tchecoslováquia, região dos Sudetos, é dada de presente a Hitler, já Ditador, com a morte de Hindenburg.  Responsáveis: o Presidente do Conselho de Ministros da França,  Edouard Daladier e o chanceler da Inglaterra Neville Chamberlain, para sempre marcados na História como covardes. Há sobre este triste evento um livro de Jean-Paul Sartre, escrito na época, mas creio que publicado posteriormente, chamado "Sursis", que, impressionada, li há anos, e que faz parte de uma trilogia chamada "Os caminhos da liberdade". O segundo livro tenho, e também li: "Com a morte na alma". O terceiro, não conheço, "A idade da razão". Creio que todos publicados após a 2a. Guerra, lembrado que a França foi invadida em 1940  e permanecendo invadida até 1944.    

1939- Os Nazistas invadem a Polônia. ...O resto já conhecemos. 

A verdade é que os ANOS LOUCOS terminaram tragicamente.

Para conhecer, de maneira genial, o que foram estes anos, aconselho " Meia-noite em Paris" , do sempre surpreendente Wood Allen.   



segunda-feira, 4 de março de 2024

 O Terror e os " sans culottes"

Minha relação com a Revolução Francesa vem de muitos anos. Desde os meus 10 ou 11 anos, quando morava na França, mas precisamente em Paris, e fui assistir, com minha mãe e minha irmã, um filme intitulado "Marie Antoniette". Fazia o papel da Rainha , a lindíssima Michele Morgan e um ator irlandês , Richard Todd, o  de Axel de Fersen, Embaixador da Suécia, que parece ter sido o grande amor da Rainha. A verdade é que ele se preocupava com o futuro da Família Real, tendo sido o preparador da célebre fuga interceptada na cidade de Varennes. Apaixonei-me por ele, quando num baile de máscaras, se conhecem, ele massageando o pé que a Rainha havia torcido, ajoelhado diante dela. De repente, ambos tiram  as máscaras e mostram seus belíssimos olhos azuis! Que emoção! Coup de foudre! Em 1989, durante a comemoração do bicentenário da Revolução e da Inconfidência, o assisti novamente, em Belo Horizonte. E a mulher adulta, vivida, com tantas experiências, sentiu emoção semelhante à da criança de 10 ou 11 anos!

Desde aquele longínquo dia de minha infância, já fui monarquista, jacobina, dependendo do momento de minha vida e de minhas ideias. Hoje, faço uma consideração mais racional deste fantástico movimento de massas, o primeiro da História da mundo, e me coloco em situação diferente. Depois, das reações adversas do Clero e da Nobreza, o chamado Terceiro Estado (Thiers Etat) abandona os Estados Gerais e passa a se denominar Assembleia Nacional Constituinte, e seus membros deputados. Para impedir a reunião, Luís XVI manda fechar o local onde deveriam se reunir, mas eles se reúnem em outra sala e juram não se separar até que tenha havido a elaboração de uma Constituição. 

Mas estes deputados também divergem. Pertencem todos ao Terceiro Estado, mas há os ricos burgueses, chamados Girondinos, e que, em sua maioria, representavam a Gironda, uma região situada no sudoeste da França,  que pretendem uma Monarquia Constitucional e os Jacobinos, radicais que pretendem o final da monarquia. Girondinos tomam assento à direita e Jacobinos, nome tomado de um café, antigo convento, por eles frequentado, à esquerda, donde veio a dominação direita e esquerda.  Aliás, a notar que o último Monarca absolutista foi o Tzar Nicolau II, cujo reinado teve fim em 1918, sendo toda a família dizimada. A notar igualmente que este é o segundo movimento de massas, e que cerca de um século e meio separam estes dois marcos, que mudaram a História do mundo, sendo que o legado de um deles já desapareceu. Foi, portanto, da Revolução Francesa o mais importante legado. A Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão, direitos válidos em qualquer tempo e em qualquer país. Artigo primeiro : "Todos os  homens  nascem  livres e iguais em direito. As destinações sociais só pode fundamentar-se na utilidade  comum..." Esta Declaração teve inspiração na Guerra de Independência Americana, nas ideias Iluministas, e sobretudo no filósofo inglês John Locke  que falava dos Direitos Naturais, aqueles que já nascem com o indivíduo. Esta Declaração tem inspirado todas as demais, inclusive a de 1948, no Pós-Guerra. No entanto, esta notável Declaração colocava de lado as mulheres e a escravatura nas colônias. A escravatura mexia nos interesses dos ricos burgueses, geralmente Girondinos, proprietários de terras nas colônias. Quanto às mulheres, que haviam participado ativamente da deposição do Rei, que haviam marchado de Paris até Versalhes, obrigando a família real a exilar-se no Palácio das Tulherias (posteriormente incendiado pela Comuna de Paris no século XIX), foram esquecidas. Eram quase todas vendedoras de peixes nos mercados de Paris. Este "esquecimento" mostra a importância que estes revolucionários davam às mulheres. 

É aí que surge, e não podemos esquecê-la, a atriz, dramaturga, jornalista e ativista, Olympe de Gouges, uma das mais notáveis feministas de todos os tempos, pois pagou com a vida sua audácia. Em 1791, publica a "Declaração dos direitos dos Direitos da Mulher e da Cidadã " , contrapondo-se à Declaração anterior que falava nos Direitos dos Homens e dos Cidadãos. Reivindicava também uma educação de qualidade para as mulheres.  Segundo consta, chegou a mandar uma cópia à Rainha Maria Antonieta. Além disto, foi uma ardente defensora do fim da escravidão. Mas, por incrível que pareça, Olympe pareceu revolucionária demais para os próprios revolucionários, era preciso que as coisas fossem postas nos seus devidos lugares. Aliás, é bom lembrar não haver na Assembleia Constituinte nenhuma mulher. EGALITÉ, LIBERTÉ, FRATERNITÉ, afinal não era para todos. Olympe subiu ao cadafalso no dia 3 de novembro de 1793 Ao subir, ela teria dito: "Se uma mulher tem direito de subir ao cadafalso , deve também ter o direito de subir à tribuna." 

Voltando um pouco no tempo, não se pode esquecer o mês de setembro de 1792, marcado por uma série de  execuções sumárias nas prisões de Paris. Nobres, homens, mulheres, criminosos comuns, todos foram alcançados pela fúria dos  chamados "sans culottes". Uma das melhores amigas de Maria Antonieta, a Princesa de Lamballe, que estava numa das prisões invadidas, teve seu corpo dilacerado e profanado, e sua cabeça enfiada numa estaca. Os revoltosos dirigiram-se, então, até a Prisão do Templo, onde estava presa a família real, e mostraram, por uma janela, a cabeça decepada da mulher. Consta que Maria Antonieta desmaiou, outros dizem que se encontrava em outro aposento. Também, alguns historiadores afirmam que o massacre foi comandado por Georges Danton, que terminou seus dias na guilhotina, condenado por seu antigo amigo Maximilien Robespierre. 

O Terror       

Em 1793, o poder  está com os Jacobinos com o apoio dos chamados "sans culottes", ou seja, aqueles que não usavam os calções da  monarquia.  Cerca de 40 mil pessoas são executadas, em curto período, sendo a maioria  de deputados Girondinos. Há também ricos burgueses e nobres. É o quê o grande estudioso Albert Soboul, chama de Despotismo da Liberdade. Só para assinalar, conheci, sem querer seu túmulo, simples, no Cemitério de Père Lachaise. onde também estão os despojos de Chopin, Alfred de Musset, e de meu querido amigo Hippolyte Léon Denizard Rivall, conhecido como Alan Kardec, por ter sido em outra encarnação um druida gaulês.

Mas, enfim, o quê nos interessa agora, é esta época sombria, em que cabeças de inimigos e amigos rolaram. Segundo diz um de seus maiores biógrafos, o esloveno Slovoj Zozek:"A imagem que se formou de Robespierre - um dos principais ideólogos da Revolução Francesa- é a de um homem polido que escondia uma cruel e gélida determinação. Todos concordam, contudo que ele foi um político integro e se dedicou totalmente à causa da Revolução."  Justamente por isso, era chamado L'incorruptible. É interessante notar que a princípio, teria sido contra a pena de morte. Vivia, absolutamente, de acordo com as suas convicções. Ao contrário de Danton, que havia se envolvido em negócios escusos. Danton, advogado brilhante, seguramente mais inteligente do que Robespierre. Preso por conspiração, tornou-se quase impossível julgá-lo. Fouquier-Tinville, advogado incumbido de condenar não sabe mais o quê fazer. Assinalando que, uma vez tomado o poder, Fouquier-Tinville foi mandado para a guilhotina pelos Girondinos.

Durante o Terror,  hospitais, escolas, tudo era esvaziado para receber novos presos, ou novos condenados. A lista esta lida na véspera. Cortou-se toda comunicação com o mundo exterior. O famigerado "Comitê de Salut Publique" ultrapassou qualquer limite. Somente Robespierre tinha real noção do que poderia acontecer. E seus embates com os radicais eram frequentes. Banqueiros como os irmãos Frey foram mandados para a guilhotina, o quê era muito perigoso. A própria execução de Danton, poderia levar contra eles o grande capital da época. Danton, o jornalista Camille Desmoulin, Hérault de Sechelles, Philippeaux (um humilde "sans culotte"),   Basire, todos deputados, são condenados à guilhotina. Todos fazem parte do grupo chamado de "Indulgentes", aqueles que sabiam que era necessário acabar com a carnificina. A carroça que os conduz à guilhotina é povoada por pessoas que mal se conhecem , que cultivam ideias muitas vezes diferentes. Mas todas acusadas de querer destruir a Convenção e restabelecer a Monarquia. No momento em que passa diante da residência de Robespierre, Danton grita com sua voz tonitruante : "Robespierre tu me seguirás!" Ele sabia o que dizia, da mesma forma que Robespierre também o sabia.     

E exatamente três meses depois, durante a madrugada, a sala do Comitê de Salut publique é invadida por tropas ordenadas por Girondinos, ou deputados exaustos dos intermináveis banhos de sangue. Alguns tentam escapar, um se joga pela janela, e Robespierre tenta o suicídio, atingindo o maxilar. Sangra intensamente, e ,segundo os guardas, urra de dor. Ao amanhecer, todos são levados à guilhotina. Alguns são deputados, dentre eles destaca-se o belo jovem , Saint-Just, deputado, talvez, o mais fanático. Um retrato seu no Museu Carnavalet, da cidade de Paris, mostra um belo rosto quase juvenil. Durante o trajeto, a multidão se acumula e janelas e sacadas são alugadas para o espetáculo. A perseguição aos seguidores prossegue durante vários dias.

E assim, termina o Terror, ao qual segue o chamado Diretório, seguido do Consulado, tendo como Consul um genial jovem militar, nascido na Córsega. Até que se faz Imperador, ele próprio coroando-se, e à  sua esposa, Josefina, deixando para trás o Papa. Sobe ao trono Napoleão I.

Interessante notar que me lembro de meu pai dizer que Saint-Just havia sido seu ídolo de juventude. E lendo a escritora  belgo-americana,  Margherite Youcenar, em um livro que muito me impressionou, chamado "Souvenirs Pieux", ela diz a mesma coisa. Margherite e meu pai nasceram no mesmo ano, e às vezes me pergunto se esta geração não terá amado seu idealismo, ainda que fanático, mas sincero.

Sem resposta!!!