QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O capitão do mato de Fidel

Maria Lúcia Viana


Primeiro ato.
Eu estava certa de que os campeões cubanos, Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, estavam morrendo de saudades da ilha, do Fidel, do regime. Pediram para voltar, depois de terem fugido da concentração, iludidos por dois agentes do capitalismo, decididos a desmoralizar o regime. “Eles quiseram voltar e o governo brasileiro não poderia, como querem alguns – oposicionistas – mantê-los em cárcere”. Foi mais ou menos isto que ouvimos, eu e todos os outros brasileiros. Eu, pobre inocente, acreditei na história que contava o nosso Ministro Tasso Genro, olhando nos olhos, com seu olhar azul e transparente, a população brasileira: “Não pode ser mentira, afinal o homem é ministro!” Ainda que seja do governo Lula.
Segundo ato
Depois, logo depois, fiquei em dúvida, ao lembrar-me de uma matéria, lida há muitos anos, sobre Rudolph Nureyev, o dançarino que fugiu para o Ocidente. Ali se contava que sua família havia sofrido todo tipo de ameaça do regime, que pretendia leva-lo de volta, certamente não para que continuasse dançando no Kirov, mas para que dançasse de outra forma. Afinal, não sei como se resolveu, mas Nureyev acabou morrendo do lado de cá. E, apesar dos olhos azuis transparentes do ministro, que nos falava com tanta serenidade, comecei a raciocinar e me perguntei por que os dois atletas só haviam sentido tanta falta quando foram encontrados pela polícia. E aí me lembrei das explicações: foram drogados, engordaram e foram dispensados, estavam bêbados, acompanhados de prostitutas, logo incapazes de pensar. Quando a polícia os alcançou, PIMBA-bateu a saudade, o remorso.
Terceiro ato.
Leio no jornal: “Chanceler do governo Fidel Castro reconhece que houve coordenação com o Brasil para a expulsão dos desertores”. Afinal, o que significa esta “coordenação”? Mas nem precisa explicar: o ditador pediu a seus amigos brasileiros que deportassem os dois. O governo colocou em ação a Polícia Federal, sem dar a mínima ao direito internacional de asilo. E ainda diz o cubano que os fugitivos não sofrem qualquer tipo de punição legal, levando vida normal. Mas que jamais poderão deixar seu país. Ele não considera isto punição! Ou seja, a restrição ao direito fundamental de ir e vir não é para o ilustre Chanceler cubano uma punição, uma violação de direitos fundamentais.
Quarto ato.
O ilustre ditador moribundo, outrora meu grande ídolo, crê, como tem acontecido ao longo da história com outros ditadores, que é imortal. Fidel é hoje uma figura arqueológica, um espécime em vias de extinção, graças a Deus. Só esperamos que vá embora logo para que os campeões não percam a forma, e que o regime que implantou desapareça com ele.
Quinto ato.
Mergulhados neste mar de lama, nossos representantes, ou melhor, aqueles que têm um pouco de vergonha na cara, já nem se lembram mais em convocar o ministro para esclarecimentos no Senado, como haviam cogitado a princípio. Agora, ou melhor, ainda, temos o Renan, o julgamento da quadrilha do mensalão, a quebra do sigilo de tudo da Denise Abreu, o Zuanazzi, o medo dos aeroportos. Sim porque agora estamos no perigo em terra e no ar. E vamos nos esquecer dos dois pobres diabos que só queriam ganhar dinheiro com seu talento.
Sexto ato.
E pode ser que, ainda, haja mais perigo. Tenho visto um 3 em algumas propagandas do Banco do Brasil. Já me disseram que é subliminar para nos induzir a um terceiro mandato. Será que merecemos tanto? Mas afinal, um quarto da população brasileira tem a Bolsa Família, e Lula já nos ameaçou com sua tropa de choque.
Sétimo Ato.
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sábado, 18 de agosto de 2007

MEIO GRÁVIDA

Maria Lúcia Viana
Professora de Francês.
Mestre em Lingüística Aplicada pela PUC-RS.
Membro do Núcleo de Estudos sobre Madame de Staël e o Romantismo, da UFJF.
E-Mail: marialucia.viana@gmail.com



“Eu acho que o caos aéreo está resolvido em parte”. Ou está ou não está! Não há meio termo. “Resolvido” briga com “em parte”. Para um doente não se pode dizer que está curado em parte, que uma mulher está grávida em parte, que uma ferida está cicatrizada em parte, que alguém é alfabetizado em parte. O comportamento maluco de não querer assumir nada leva o Presidente a dizer mais esta barbaridade: está resolvido, mas não totalmente, uma parte já está, mas algumas outras não, mas tudo vai ficar bem, o resto será logo resolvido, eu não sei de nada, quem manda é o Jobim, etc, etc. Mas afinal, qual parte está resolvida? As pistas? Os controladores? Os aviões superlotados? A ANAC? Zuanazzi? Denise Abreu? E o que não está? São Pedro? A fatalidade? O mau tempo?
Será que não há ninguém capaz de dizer-lhe que seu comportamento irresponsável e covarde, incapaz de assumir os fatos que insistem em nos ofender cada dia, está se tornando uma grande e trágica piada de mau gosto? Não seria melhor que Lula dissesse, com sinceridade, deixando de lado o palanque, que seu governo assumiria suas responsabilidades e tudo faria para que nunca mais se repetissem tragédias e tampouco as cenas a que assistimos durante tantos meses? Não seria muito mais digno se o Presidente confessasse que nada foi resolvido ainda? Todos nós, por mais ingênuos que sejamos, temos consciência de que, infelizmente, continuamos no escuro do apagão, e que se não há tanta espera é porque depois da tragédia ninguém ousa “brincar” tanto com os pobres passageiros. Mas se, por enquanto, não há atrasos de horas, há pistas cheias de ameaças, controladores ineptos, mal pagos, monoglotas, descontentes, agências cheias de gente incompetente, superfaturamentos, relações promíscuas com as companhias, abusos de todo tipo. Não seria mais confiável um Presidente que assumisse seu posto de chefe, ao invés de entregar o “abacaxi” para um novo ministro, que ele espera operar o milagre e deixa-lo de fora, mais uma vez? Será que não há ninguém, que o ame de verdade, talvez dona Marisa, que tenha a coragem de aconselha-lo a abandonar toda esta dubiedade que agride nossa inteligência cada dia?
CANSEI! Cansamos todos nós, sobretudo aqueles que, como eu, esperavam. Mas não adianta chorar sobre o passado. O que devemos temer agora é o futuro. Aliado ao que há de mais retrógrado e totalitário na América Latina, apoiado por milhões de eleitores incapacitados para qualquer reflexão, e também os fanáticos, que talvez sonhem com uma América Latina bolivariana, e os incorrigíveis “politicamente corretos”, o Presidente pode, quem sabe, sonhar com um prolongamento ao estilo Chavez. E aí, que Deus nos acuda!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Viva a Gisele

Levi–1 ano e oito meses, Maria Isabel-10 anos, Rebecca – 14 anos, Renan – 13 anos, Raquel -19 anos, Rafaella-17 anos, Thaís-14 anos, Bruno-3 anos, Caio Augusto-12 anos, Caio Felipe-13 anos, Alanis-2 anos, Ana Carolina-10 anos, Larissa-13 anos, Júlia-14 anos.

Não teria sido mais justo se o Lula tivesse morrido, ou o Renan, ou o Dirceu, ou o Marco Aurélio?

Diz a psicóloga Rosa Reis, em artigo publicado no Globo de 29 de julho: “De repente, como se acordássemos de um sonho, a realidade se impôs mais uma vez: um avião explode, levando quase 200 vidas. Não importa se foi falha mecânica, a chuva, a pista. Só podemos falar em tragédia quando um fato acontece inesperadamente. Não podemos admitir como tragédia algo que vinha se anunciando. Por se anunciar, ela está nos dando chance de evita-la, clamando por ações”.

Trinta e sete vítimas tinham entre 20 e 30 anos. Quarenta tinham mais de 50. Quase todos os demais tinham trinta e poucos anos.

Ivanaldo morreu com toda sua família, esposa e um casal de filhos. Wilma e seu filho Bruno também se foram. Márcio, que estava voltando de uma temporada de trabalho e férias, morreu acompanhado da mulher Melissa, da filha Allanis, de 2 anos, e do jovem cunhado de 24. Jamille, de 21, estava com o filho Levi, o marido os esperava no aeroporto. Maria Elisabeth morreu com as duas netas de 14 e 10 anos. Caio Augusto de 12 anos e sua irmã Raffaella de 17, únicos filhos, eram esperados pela mãe no aeroporto. O que podemos dizer diante de tanta dor?

E se não se trata de uma tragédia, o que foi então? Se sabemos que havia tanta gente que tinha consciência da iminência de uma catástrofe, e se nada foi feito, foi um assassinato. De 200 pessoas. Todos nos lembramos da bravata de Lula, há meses: “Quero dia, hora e mês para solucionar o problema”. Realmente, não há um culpado, há vários: as companhias ávidas por lucro, o que, afinal, não é tão anormal, os pilotos, que podem ter errado, afinal eram seres humanos, a manutenção, que não levou em conta o tal de reverso, o piso, o tempo, São Pedro, até o destino. Mas, acima de tudo, há um, que é impossível eximir de culpa, ANAC, o órgão fiscalizador. Caberia a ela fiscalizar as companhias aéreas, a manutenção, a sobrecarga de trabalho. De todos os possíveis culpados, talvez só lhe escapassem o santo, e o destino. Isto se não houvesse sido loteada entre companheiros e ex-colegas. Gente inepta até para dirigir um condomínio, gente cujo único objetivo é tirar o máximo proveito do cargo, pouco se incomodando com a sorte daqueles por quem deveriam zelar. Mas há ainda a INFRAERO, cujo presidente teve, como única iniciativa, nos aconselhar a ter calma. E o Ministério da Defesa, dirigido pelo sonolento Waldir, cuja “história” justificaria toda incapacidade.
E Lula o que fazia ele enquanto se preparava este espetáculo inigualável de morte e dor? Falava mal da zelite, tendo a seu lado Sarney, Maggi, o Inimigo No. 1 do Pantanal, Jader Barbalho, de quem, aliás, beijou as imaculadas mãos, banqueiros empanturrados de lucros,etc, etc. Já esquecido do caos aéreo. E depois? Depois nos informava de que tem duas orelhas, que não tem medo da zelite e que ninguém melhor do que ele pode colocar seu povo na rua. Mas afinal que espécie de democracia é essa em que o Presidente ameaça com sua tropa de choque aqueles que não concordam com ele? Que diabo de Presidente é esse que não sabe sequer que há uma crise tão grave que há dez meses quase paralisa o tráfego aéreo? Que espécie de sujeito é esse, que escrevia em 2002, que nosso sistema aéreo agonizava, e que em 2007 diz que não sabia de nada, ou não sabia que era tão grave. Que droga de sujeito é esse, que se encarrapitou no poder sem ter nenhuma idéia do que se passa a seu redor?
Lula é a grande mentira, que embalou nossos ideais de juventude, e que teremos de engolir por, no mínimo, ainda três anos e meio. Se quando jovem odiei o golpe que derrubou Jango, já no crepúsculo espero, em respeito a tudo aquilo em que tenho acreditado ao longo da vida, sinceramente, que termine seu mandato. Porque sou democrata, de fato. O que todos nós que lutamos pela liberdade exigimos é que haja jogo limpo, que a corrupção não seja tão debochada, que haja justiça, que nossos direitos sejam respeitados, que os homens a quem confiamos os destinos de nosso país não sejam tão ordinários.
Como dizia o âncora de um telejornal, a única coisa que temos de que nos orgulhar para o resto do mundo é a Gisele Bünchen.

ANOS DE SEDA

Para Zaida


Lembro-me bem dos “Anos de chumbo”, fazem parte de minha história. “Anos dourados” percorrem minha infância e início da adolescência. Anos de seda, estes não vivi. Mas gostaria de tê-los vivido, eram ainda mais lindos que os dourados. Afinal, o que foram estes “Anos de seda”? Penso neles com especial carinho, olho suas fotos, amarelecidas nos álbuns da família, admiro as mulheres, os vestidos, os homens sedutores, como não se vê mais. Foram os anos de juventude de meus velhos afetos, como os “Anos Dourados” enfeitaram a juventude de meus irmãos. Os de chumbo, infelizmente, marcaram minha geração.
Anos 20 foram os “Anos Loucos”, dos cabelos e vestidos curtos, do charleston, da liberação da mulher de velhos tabus herdados do século anterior. Eram os anos de “revolta”. Foi então, no início dos anos 30, que no mundo que ditava a moda, descobriu-se uma nova fórmula, ou uma nova estratégia. O cinema, já falado, despejou pelas telas sua imagem carregada de sedução. E os astros e estrelas encheram de fantasia a imaginação de mulheres, ávidas por viverem aqueles intensos amores. Até os homens se deixavam enredar nesta trama urdida com sedas, plumas, olhares lânguidos. Os ambientes eram acetinados, havia cortinas brilhantes, espelhos emoldurados de arabescos, colchas que faziam nascer o desejo de enroscar-se, de acariciar e ser acariciada, de amar e ser amada. Tudo numa cor meio acinzentada, meio azulada, que caracteriza os filmes daquela década.
Podem criticar-me, afinal nestes anos, justamente, fortalecia-se o Nazismo, com a ascensão de Hitler ao poder. O Fascismo instalava-se em definitivo na Itália, e Franco sairia vencedor na Espanha. E ainda havia todas as barbaridades do camarada Stalin. Mas não é de política que quero falar. Pela primeira vez, incorro no pecado de me fazer alienada e gozar o belo, procurando esquecer o feio.
“Anos de Seda”, trazem-me a imagem de Zaida, com seus “tailleurs” impecáveis, chapéus de infinita sedução, saltos altos, sobrancelhas arqueadas, lábios carmim. Ou seus vestidos de baile, feitos de cetim, que modelavam seu corpo esguio. Ao lado, seu homem, também incrivelmente sedutor. Vendo estas velhas fotos, chego a sentir um cheirinho de perfume francês no ar. Quanta coisa Zaida me contou destes anos! Lembro-me de seu entusiasmo ao narrar-me minuciosamente a sua primeira sessão de “O Tempo e o Vento”. E também as demais, porque todas as moças e senhoras apaixonavam-se secretamente por Clark Gable e viam o filme várias vezes. Lembro-me, como se tivesse participado, de seus lanches nas elegantes casas de chá de Porto Alegre dos anos 30, ao lado de suas amigas, todas fumando, já que era tão chique e todas as estrelas tinham este mau hábito. Mas naquele tempo não se tinha consciência do perigo do tabagismo. Lembro-me do enredo de muitos outros filmes, que ouvi enlevada, há tanto tempo atrás. E não esqueci. Ainda hoje, vendo canais especializados em filmes antigos, recupero imagens que imaginei naqueles tempos que já vão longe, mas que ficaram de tal modo gravadas em minha memória que tenho a impressão de estar revendo-os. E sinto uma especial emoção. Lindos tempos, aqueles de minha tia-prima Zaida. Prima de minha mãe e de meu pai, eles próprios primos, amiga inesquecível, uma mulher especial. Talvez por não haver tido o ônus, e também a alegria, da maternidade. Conservo dois de seus chapéus, lindos! Coloco-os, por vezes, em ocasiões especiais, e além do sucesso que fazem, sinto-me um pouco transportada para aqueles tempos. Tempo de glamour, de uma certa “insouciance”, de um gozo especial da vida. Talvez, quem sabe, já antevendo o que viria justo no último ano da década, e todos os horrores da guerra.
Zaida tornou-se uma velha diferente, que gostava de bom uísque e uma cervejinha, que muitas vezes nos acompanhava nos nossos bate-papos. Gostava da vida, do amor, que viveu em toda sua intensidade. Falava de sexo sem falsos pudores, mas ainda jovem viúva ficou eternamente fiel ao seu homem. Sim, era diferente e poderia ter tido um fim de vida mais feliz. No entanto, como muitas mulheres daqueles anos sedutores, decidiu não se tornar totalmente adulta, ou não conseguiu. Eram anos de cetim, de plumas, de corpos modelados através da doçura do tecido, mas ainda era a mulher a eterna menor de idade. Ainda que fossem lindos seus “tailleurs”, seus chapéus, seus longos e lustrosos vestidos de baile. Linda época, sim era linda, mas ainda havia muito a caminhar. E na sua súbita orfandade pela morte do marido, Zaida optou errado. Mas esta história conto depois.
“Anos de Seda”, que precederam “Anos de Horror”, permanecerão para sempre na minha imaginação como o conto de fadas de minha juventude. Terminado o maravilhoso dos contos infantis, pude perpetuar um pouco em mim a magia da beleza daquilo com que sonhamos candidamente e que sabemos não existir, ou não existir mais, mas que foi tão lindo. E ainda que a tenha conhecido já velha, Zaida será para sempre na minha história e na minha imaginação a viva imagem daqueles anos de glamour de há tanto tempo.

domingo, 5 de agosto de 2007

Tudo que me contaram

Maria Lúcia Viana

A escolha deste “título” refere-se a um livro que escrevi, há alguns anos, sobre a história de minha família, desde lá bem longe, ainda no século XIX. Acumulei, pela vida afora, todas as histórias ali relatadas, como ouvinte atenta de minha mãe, tias, primas, e até de meu pai, sempre mais reservado. Muitas foram vidas vividas ainda muito antes de meu nascimento, algumas outras pude acompanhar, há aquelas quase totalmente esquecidas e as que serão ainda por longo tempo lembradas. Há vidas felizes, trágicas, longas, breves. Vidas vividas em épocas distantes, de um tempo que entrou para a história. Sei que todas as famílias têm seus segredos, mistérios, dramas e comédias, mas as outras não são a minha, e só dela posso falar. Um dia, quem sabe, publicarei tudo isto que guardei na minha memória e, porque não dizer, também no meu coração.

Pode ser até que eu coloque neste blog, inspirado naquele livro já escrito há alguns anos, algumas destas histórias. Sem censura, e sem culpa.

sábado, 4 de agosto de 2007

O politicamente correto

Maria Lúcia Viana
Há algum tempo tenho pensado nesta espécie de aberração social, de que fui, eu própria, vítima, que se chama o “politicamente correto”. Pode ser que alguém, sobretudo os mais jovens, não saiba exatamente o que isto quer dizer, já que as novas gerações não dão a mínima bola para o que dizem os outros. Ser “politicamente correto” é “estar antenado” é ser cult, moderno, anti-reacionário. Aliás, Luís Fernando Veríssimo, segundo li, saiu-se com uma jóia ilustrativa do “politicamente correto”: “não faço críticas ao Lula para não ser confundido com reacionário”. Ou seja, mais importante do que qualquer valor moral é a imagem que os outros possam ter dele. Fiquei perplexa! Aliás, este tem sido um estado permanente em mim nos últimos tempos. Pensando nisso, resolvi fazer uma lista inicial do que consegui catalogar até agora como “politicamente correto”. E estou aberta a inclusões ou a revisões.
Mas vamos lá.
Ser “politicamente correto” é:
1- Ser da esquerda, abdicando de qualquer princípio crítico ou ético.
2- Ser antiamericano e dizer que somos o que somos, por culpa dos EU. Como se não fossemos competentes para isso.
3- É não aceitar os números que indicam que a direita matou menos (cerca de 65 milhões) do que a esquerda (cerca de 200 milhões), ao longo do século XX. Aliás, a direita não alcançou o recorde da esquerda, não por bondade, mas porque não teve tempo para completar o número. (Senão vão dizer que tenho simpatia pelo Nazi-Fascismo)
4- É dizer que Cuba é uma maravilha e que é a propaganda capitalista que pinta a ilha como uma droga.
5- É defender o Chavez e acha-lo um grande líder - já que fala mal do Bush - ainda que o ditador venezuelano seja um desclassificado.
6- É não admitir que, algum dia, por acaso, talvez até sem querer, o Bush acerte. O que, realmente, ele não fez até agora.
7- É achar que o Chico Buarque ainda é um tesão, lindo e maravilhoso, quando, de fato, ele “escorreu”.
8- É partir do princípio de que TUDO que ele faz é fantástico, até cantar.
9- É achar que qualquer coisa da família Buarque de Hollanda é extraordinária. Até a Miúcha.
10- É ler o caderno MAIS da Folha.
11- É ter votado pelo SIM no plebiscito sobre o desarmamento, considerando ser “direitaço” quem votou pelo NÃO.
12- É achar que o cinema americano é uma droga, não importando qual seja o filme.
13- Não assistir nunca a nenhuma novela e não conhecer nenhum ator. E, se possível, telefonar para um amigo, suspeito deste mau hábito, no horário em que se supõe que ele esteja cometendo o delito.
14- É adorar Bossa Nova, considerando-a a melhor música – popular ou até erudita – que já se fez no mundo.
15- É ser contra qualquer mudança no Estatuto do Menor e do Adolescente, mesmo sabendo que aos 16 anos todo brasileiro é considerado apto para votar.
16- É a-do-rar a Bahia.
17- É querer discutir a questão, já superada, – salvo para alguns doentes mentais – do homossexualismo.
18- É ser absolutamente favorável ás cotas raciais, sendo que na UNB foi formado um “tribunal racial”, cuja última execrável aparição remonta à Alemanha nazista.
19- É malhar quem malha.
20- É ser favorável à Reforma agrária, sem colocar nenhuma questão, mesmo que seja para aperfeiçoa-la.
21- É declarar-se agnóstico ou, melhor ainda, ateu, e, simultaneamente, admirar profundamente Boffs e Betos.
22- É defender o Movimento Negro, até quando ele se mostra intolerante e racista.
23- É considerar o Mel Gibson um fascista assassino.
24- É declarar-se feminista “enragée”, e odiar Lipovetsky, autor de “La troisième femme”, tido como reacionário. Ainda que não se tenha lido a obra.
25- É dizer que odeia atividades domésticas, como fazer comida, cuidar da casa, das plantas, etc. Atividades consideradas antiintelectuais.
26- É odiar passear no Shopping, lazer pequeno-burguês, ainda que a própria pessoa pertença a esta classe social.
27- É ser contra a cobrança de matrícula nas Universidades públicas, embora elas sejam, majoritariamente, freqüentadas por filhos da burguesia (vide os estacionamentos).
28- É odiar Paulo Coelho, mesmo sem ter lido nenhum de seus livros. Eu também não gosto, mas li (com inegável sofrimento) “O Alquimista”.
29- É admirar profundamente Paulo Freire, mesmo sem conhecer nada de sua obra.
Estou tentando lembrar-me de mais características do “politicamente correto”. Caso você se lembre de alguma(s) outra(s) não deixe de enviar-me. Como disse no início, estou aberta a sugestões e também a revisões. Quem sabe, todos juntos, não possamos mais tarde publicar “O manual do politicamente correto”? E talvez a gente até possa convidar o Luís Fernando Veríssimo para escrever o prefácio! E também para o lançamento! Mas é para ninguém tomar como exemplo!
E se você se encontrou em muitas das características que enumerei aqui, sugiro que faça como eu e tente rever seus conceitos. Quem sabe eles já estão defasados? Desculpem-me as indelicadezas.
Beijos a todos meus queridos amigos e amigas.

“Este país é uma galhofa.... Ou uma tragédia”

Maria Lúcia Viana
Estou lendo no jornal esta declaração - “este país é uma galhofa” - de Miguel Falabella, que, atônito, não sabe o que fazer para cumprir compromissos entre São Paulo e Rio. Aliás, atônitos estamos todos nós. A cada nova aparição de um dos dirigentes deste governo desgovernado, nos deparamos com alguma coisa chocante. Já faz parte do passado o “relaxa e goza”, largamente suplantado por Marco Aurélio, o Pornô, a condecoração de Zuanazzi, por “relevantes serviços prestados à Aeronáutica”, justo no auge da crise, alguns dias após a tragédia, o sorriso debochado do indigitado – Zuanazzi - quando questionado por deputados, o Lula fazendo piadinhas na posse do Jobim, como se nada estivesse acontecendo. É incrível a inconsciência, a irresponsabilidade desta gang que, infelizmente, foi reconduzida ao poder.
Um dia desses vi uma mulher ter uma crise histérica num aeroporto, após uma semana de tentativas para chegar em casa. Depois, caiu estatelada no chão, sendo socorrida por alguém, possivelmente médico, que lhe aplicou respiração boca a boca. Nem sabemos se ainda está viva. E não foi só no transporte aéreo que se perdeu o rumo, também não há estradas, quase todas em estado lastimável. E, já que as ferrovias foram desativadas há muito tempo, talvez devamos começar a cogitar de circulação marítima, em cruzeiros do tipo que se faz pelos rios da bacia amazônica. E dizer que há um tal PAC, que pretende acelerar o crescimento!
Na saúde, que Lula já classificou como “quase perfeita”, o que vemos, pelos jornais ou assistimos nos noticiários, são cenas africanas. Sendo que lá há, pelo menos, entidades filantrópicas, do tipo Médicos sem Fronteiras. Aqui o que temos são médicos sem salário, ou com salários baixíssimos, hospitais sem remédios, sem macas, sem curativos. E há também a segurança, e os impostos, que a gente não sabe para onde vão (ou melhor, sabe muito bem), e o ensino – nem dá para falar-, e agora a censura que se tenta reimplantar. Este país é uma galhofa para quem não vive aqui, para os gringos que vêem no Brasil um “paraíso tropical”, cheio de mulheres “gostosas”, com bundão, seminuas ou nuas. Mas eles podem se safar quando a coisa fica preta. Para nós é uma tragédia que se repete cada dia, que nos ameaça constantemente, que nos desrespeita, mas Lula e sua gang sabem que somos “um povo ordeiro” e que jamais (?) reagiremos. Para nós é uma tragédia que não podemos suportar, até por uma questão de dignidade. Mas afinal o homem foi reeleito, e grande parte de seu eleitorado é constituída por aqueles que lotam os hospitais e sofrem calados, incapazes de reagir, considerando-o até uma espécie de paizão, vítimas de sua ignorância. Mas há também os safados, tipo Sarney ou Renan, os fanáticos, e os “politicamente corretos”. Estes são os maiores responsáveis e deles será cobrado um dia o preço daquilo que o país deixou de fazer