QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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domingo, 20 de novembro de 2011

A foto

Quando minha irmã decidiu raspar a cabeça, depois de tomar conhecimento da queda dos cabelos, telefonou para seu cabeleireiro e amigo, e combinou um horário em que sabia que não haveria ninguém em casa. Como era de seu estilo, sem alarde, sem chorar, sem lamentar sua triste sorte – que compartilhou cada dia com milhões de pessoas – anunciou a seus filhos o que havia feito. E continuou sua vida, enfrentando a cada quarenta dias, se não me engano, sessões de quimioterapia. Eu e sua filha Alice sempre a acompanhávamos, e, durante horas e mais horas, víamos gente entrando e saindo. Lembro-me de um rapazinho bonito, que ficava em outra sala, o braço esticado, recebendo na veia aquela poção terrível, que na reincidência do câncer foi fatal à minha irmã. E havia uma mulher bonita, elegante, que exibia uma peruca loura que lhe caia lindamente. Ninguém poderia imaginar que aquelas pessoas estivessem atingidas por mal de tamanha crueldade. Às vezes imagino quantas delas ainda estarão vivas.


Reinaldo Gianecchini, ator conhecido, homem de grande valor moral, raspou a cabeça antes que lhe caíssem os cabelos. Discretamente. A Presidente Dilma provavelmente fez o mesmo. E quem viu? Tanta gente famosa passou por esta experiência! Ana Maria Braga, Hebe Camargo, são exemplos de mulheres que amam a exposição, mas ninguém as viu raspando a cabeça. Talvez até uma questão de pudor, de não querer expor sua fragilidade, ou melhor, a nossa, de guardar sua privacidade, e sua dor.

Minha avó paterna morreu de câncer na laringe e desde bem pequena ouvi de minha mãe, com sua psicologia de mulher batida pela vida e pela adversidade, detalhes deste terrível sofrimento. O ano era 1939. Não havia quimioterapia, nem radioterapia que só surgiram depois da Segunda Guerra. Nem sei se era usada a tal bomba de cobalto, mas estou quase segura de que foi pouco antes de sua morte. Minha avó tinha cinqüenta e nove anos. Não sei se minha mãe contou-me algum detalhe quando passávamos à noite por uma ponte, mas sempre associo a escuridão das águas à morte de minha avó, e tenho a sensação de que ela foi tragada pelo rio indevassável e frio. E não gosto de passar por pontes à noite. Também tive um amigo, ou melhor, amigo de meu irmão, que morreu de câncer na laringe, provocado pelo álcool e tabagismo. Meu irmão ficou sinceramente consternado, não poderia imaginar que morreria três ou quatro meses depois. Também tenho um amigo que se salvou, mas teve que aprender a falar, se não me engano, chama-se voz faríngea. E o irmão de uma amiga, também sobrevivente. Lembro-me do que ela me contou ter assistido quando foi visitá-lo. Havia tanto sofrimento, dores terríveis para engolir a própria saliva, que, ao sair, ela não sabia que rumo tomar para chegar em casa. Assim, ainda que não tenha nenhum apreço pelo homem público, fiquei sinceramente abalada com a notícia da doença de Lula. Lembrei-me de tudo que ouvi e vi, e senti grande pena. Solidarizei-me. Admirei a transparência com que transmitiu ao povo a notícia de seu mal, e seu otimismo. Como me comovi ao ver o belíssimo depoimento de Gianecchini.

Mas qual não foi minha surpresa, ou talvez minha desilusão, diante de um homem que crescera no meu conceito, ao ver a lamentável foto de Lula sendo pelado por sua amada Mariza Letícia. Não sabia desta habilidade de nossa ilustre ex-primeira dama, e acho que nenhum brasileiro sabia, porque, afinal raspar uma barba e um cabelo deve ser coisa para profissional. Eu, por exemplo, não seria capaz de fazê-lo. E ainda deixou um bigode para o marido ficar mais bonito. Estão ambos tão felizes que dá vontade de enviar parabéns pela barbeira e pela doença. Lula é realmente um populista que nem uma doença grave consegue conter. É muito inteligente, conhece a pieguice do povo brasileiro, e seus valores. Virou herói até para quem não gosta dele. Nem Chavez chegou a este ponto. De sua careca, não se conhece a história. Com aquelas fotos, Lula ultrapassou todos os limites da dignidade, desnudou-se. Lamento, mas ainda torço sinceramente por ele. E ainda agradeço, porque, afinal nunca errei na avaliação que fiz do homem. Que tenha força e coragem, aquela mesma que teve ao anunciar a doença.

Sempre aceitei a morte como um fato inevitável, perdi minha família original, e apesar disso sou feliz. Só não entendo o sofrimento. Lula não é mau, é um populista inteligente e descarado. E que Deus o ajude.

A foto

Quando minha irmã decidiu raspar a cabeça, depois de tomar conhecimento da queda dos cabelos, telefonou para seu cabeleireiro e amigo  e combinou um horário em que sabia que não haveria ninguém em casa. Como era de seu estilo, sem alarde, sem chorar, sem lamentar sua triste sorte – que compartilhou cada dia com milhões de pessoas – anunciou a seus filhos o que havia feito. E continuou sua vida, enfrentando a cada quarenta dias, se não me engano, sessões de quimioterapia. Eu e sua filha, Alice, sempre a acompanhávamos, e, durante horas e mais horas, víamos gente entrando e saindo. Lembro-me de um rapazinho bonito, que ficava em outra sala, o braço esticado, recebendo na veia aquela poção terrível, que na reincidência do câncer foi fatal à minha irmã. E havia uma mulher bonita, elegante, que exibia uma peruca loura que lhe caia lindamente. Ninguém poderia imaginar que aquelas pessoas estivessem atingidas por mal de tamanha crueldade. Às vezes imagino quantas delas ainda estarão vivas.




Reinaldo Gianecchini, ator conhecido, homem de grande valor moral, raspou a cabeça antes que lhe caíssem os cabelos. Discretamente. A Presidente Dilma provavelmente fez o mesmo. E quem viu? Tanta gente famosa passou por esta experiência! Ana Maria Braga, Hebe Camargo, são exemplos de mulheres que amam a exposição, mas ninguém as viu raspando a cabeça. Talvez até uma questão de pudor, de não querer expor sua fragilidade, ou melhor, a nossa, de guardar sua privacidade, e sua dor.


Minha avó paterna morreu de câncer na laringe e desde bem pequena ouvi de minha mãe, com sua psicologia de mulher batida pela vida e pela adversidade, detalhes deste terrível sofrimento. O ano era 1939. Não havia quimioterapia, nem radioterapia que só surgiram depois da Segunda Guerra. Nem sei se era usada a tal bomba de cobalto, mas estou quase segura de que foi pouco antes de sua morte. Minha avó tinha cinqüenta e nove anos. Não sei se minha mãe contou-me algum detalhe quando passávamos à noite por uma ponte, mas sempre associo a escuridão das águas à morte de minha avó, e tenho a sensação de que ela foi tragada pelo rio indevassável e frio. E não gosto de passar por pontes à noite. Também tive um amigo, ou melhor, amigo de meu irmão, que morreu de câncer na laringe, provocado pelo álcool e tabagismo. Meu irmão ficou sinceramente consternado, não poderia imaginar que morreria três ou quatro meses depois. Também tenho um amigo que se salvou, mas teve que aprender a falar, se não me engano, chama-se voz faríngea. E o irmão de uma amiga, também sobrevivente. Lembro-me do que ela me contou ter assistido quando foi visitá-lo. Havia tanto sofrimento, dores terríveis para engolir a própria saliva, que, ao sair, ela não sabia que rumo tomar para chegar em casa. Assim, ainda que não tenha nenhum apreço pelo homem público, fiquei sinceramente abalada com a notícia da doença de Lula. Lembrei-me de tudo que ouvi e vi, e senti grande pena. Solidarizei-me. Admirei a transparência com que transmitiu ao povo a notícia de seu mal, e seu otimismo. Como me comovi ao ver o belíssimo depoimento de Gianecchini.


Mas qual não foi minha surpresa, ou talvez minha desilusão, diante de um homem que crescera no meu conceito, ao ver a lamentável foto de Lula sendo pelado por sua amada Mariza Letícia. Não sabia desta habilidade de nossa ilustre ex-primeira dama, e acho que nenhum brasileiro sabia, porque, afinal raspar uma barba e um cabelo deve ser coisa para profissional. Eu, por exemplo, não seria capaz de fazê-lo. E ainda deixou um bigode para o marido ficar mais bonito. Estão ambos tão felizes que dá vontade de enviar parabéns pela barbeira e pela doença. Lula é realmente um populista que nem uma doença grave consegue conter. É muito inteligente, conhece a pieguice do povo brasileiro, e seus valores. Virou herói até para quem não gosta dele. Nem Chavez chegou a este ponto. De sua careca, não se conhece a história. Com aquelas fotos, Lula ultrapassou todos os limites da dignidade, desnudou-se. Lamento, mas ainda torço sinceramente por ele. E ainda agradeço, porque, afinal nunca errei na avaliação que fiz do homem. Que tenha força e coragem, aquela mesma que teve ao anunciar a doença.


Sempre aceitei a morte como um fato inevitável, perdi minha família original, e apesar disso sou feliz. Só não entendo o sofrimento. Lula não é mau, é um populista inteligente e descarado. E que Deus o ajude.

A foto

Quando minha irmã decidiu raspar a cabeça, depois de tomar conhecimento da queda dos cabelos, telefonou para seu cabeleireiro e amigo, e combinou um horário em que sabia que não haveria ninguém em casa. Como era de seu estilo, sem alarde, sem chorar, sem lamentar sua triste sorte – que compartilhou cada dia com milhões de pessoas – anunciou a seus filhos o que havia feito. E continuou sua vida, enfrentando a cada quarenta dias, se não me engano, sessões de quimioterapia. Eu e sua filha Alice sempre a acompanhávamos, e, durante horas e mais horas, víamos gente entrando e saindo. Lembro-me de um rapazinho bonito, que ficava em outra sala, o braço esticado, recebendo na veia aquela poção terrível, que na reincidência do câncer foi fatal à minha irmã. E havia uma mulher bonita, elegante, que exibia uma peruca loura que lhe caia lindamente. Ninguém poderia imaginar que aquelas pessoas estivessem atingidas por mal de tamanha crueldade. Às vezes imagino quantas delas ainda estarão vivas.
Reinaldo Gianecchini, ator conhecido, homem de grande valor moral, raspou a cabeça antes que lhe caíssem os cabelos. Discretamente. A Presidente Dilma provavelmente fez o mesmo. E quem viu? Tanta gente famosa passou por esta experiência! Ana Maria Braga, Hebe Camargo, são exemplos de mulheres que amam a exposição, mas ninguém as viu raspando a cabeça. Talvez até uma questão de pudor, de não querer expor sua fragilidade, ou melhor, a nossa, de guardar sua privacidade, e sua dor.
Minha avó paterna morreu de câncer na laringe e desde bem pequena ouvi de minha mãe, com sua psicologia de mulher batida pela vida e pela adversidade, detalhes deste terrível sofrimento. O ano era 1939. Não havia quimioterapia, nem radioterapia que só surgiram depois da Segunda Guerra. Nem sei se era usada a tal bomba de cobalto, mas estou quase segura de que foi pouco antes de sua morte. Minha avó tinha cinqüenta e nove anos. Não sei se minha mãe contou-me algum detalhe quando passávamos à noite por uma ponte, mas sempre associo a escuridão das águas à morte de minha avó, e tenho a sensação de que ela foi tragada pelo rio indevassável e frio. E não gosto de passar por pontes à noite. Também tive um amigo, ou melhor, amigo de meu irmão, que morreu de câncer na laringe, provocado pelo álcool e tabagismo. Meu irmão ficou sinceramente consternado, não poderia imaginar que morreria três ou quatro meses depois. Também tenho um amigo que se salvou, mas teve que aprender a falar, se não me engano, chama-se voz faríngea. E o irmão de uma amiga, também sobrevivente. Lembro-me do que ela me contou ter assistido quando foi visitá-lo. Havia tanto sofrimento, dores terríveis para engolir a própria saliva, que, ao sair, ela não sabia que rumo tomar para chegar em casa. Assim, ainda que não tenha nenhum apreço pelo homem público, fiquei sinceramente abalada com a notícia da doença de Lula. Lembrei-me de tudo que ouvi e vi, e senti grande pena. Solidarizei-me. Admirei a transparência com que transmitiu ao povo a notícia de seu mal, e seu otimismo. Como me comovi ao ver o belíssimo depoimento de Gianecchini.
Mas qual não foi minha surpresa, ou talvez minha desilusão, diante de um homem que crescera no meu conceito, ao ver a lamentável foto de Lula sendo pelado por sua amada Mariza Letícia. Não sabia desta habilidade de nossa ilustre ex-primeira dama,  e acho que nenhum brasileiro sabia, porque, afinal raspar uma barba e um cabelo deve ser coisa para profissional. Eu, por exemplo, não seria capaz de fazê-lo. E ainda deixou um bigode para o marido ficar mais bonito. Estão ambos tão felizes que dá vontade de enviar parabéns pela barbeira e pela doença. Lula é realmente um populista que nem uma doença grave consegue conter. É muito inteligente, conhece a pieguice do povo brasileiro, e seus valores. Virou herói até para quem não gosta dele. Nem Chavez chegou a este ponto. De sua careca, não se conhece a história. Com aquelas fotos, Lula ultrapassou todos os limites da dignidade, desnudou-se. Lamento, mas ainda torço sinceramente por ele. E ainda agradeço, porque, afinal nunca errei na avaliação que fiz do homem. Que tenha força e coragem, aquela mesma que teve ao anunciar a doença.
Sempre aceitei a morte como um fato inevitável, perdi minha família original, e apesar disso sou feliz. Só não entendo o sofrimento.  Lula não é mau, é um populista inteligente e descarado. E que Deus o ajude.




A foto

Quando minha irmã decidiu raspar a cabeça, depois de tomar conhecimento da queda dos cabelos, telefonou para seu cabeleireiro e amigo, e combinou um horário em que sabia que não haveria ninguém em casa. Sem alarde, sem chorar, sem lamentar sua triste sorte – que compartilhou cada dia com milhões de pessoas – anunciou a seus filhos o que havia feito. E continuou sua vida, enfrentando a cada quarenta dias, se não me engano, sessões de quimioterapia. Eu e sua filha Alice sempre a acompanhávamos, e, durante horas e mais horas, víamos gente entrando e saindo. Lembro-me de um rapazinho bonito, que ficava em outra sala, o braço esticado, recebendo na veia aquela poção terrível, que na reincidência do câncer foi fatal à minha irmã. E havia uma mulher bonita, elegante, que exibia uma peruca loura que lhe caia lindamente. Ninguém poderia imaginar que aquelas pessoas estivessem atingidas por mal de tamanha crueldade. Às vezes imagino quantas delas ainda estarão vivas.
Reinaldo Gianecchini, ator conhecido, homem de grande valor moral, raspou a cabeça antes que lhe caíssem os cabelos. Discretamente. A Presidente Dilma provavelmente fez o mesmo. E quem viu? Tanta gente famosa passou por esta experiência! Ana Maria Braga, Hebe Camargo, são exemplos de mulheres que amam a exposição, mas ninguém as viu raspando a cabeça. Talvez até uma questão de pudor, de não querer expor sua fragilidade, ou melhor, a nossa, de guardar sua privacidade, e sua dor.
Minha avó paterna morreu de câncer na laringe e desde bem pequena ouvi de minha mãe, com sua psicologia de mulher batida pela vida e pela adversidade, detalhes deste terrível sofrimento. O ano era 1939. Não havia quimioterapia, nem radioterapia que só surgiram depois da Segunda Guerra. Nem sei se era usada a tal bomba de cobalto, mas estou quase segura de que foi pouco antes de sua morte. Minha avó tinha cinqüenta e nove anos. Não sei se minha mãe contou-me algum detalhe quando passávamos à noite por uma ponte, mas sempre associo a escuridão das águas à morte de minha avó, e tenho a sensação de que ela foi tragada pelo rio indevassável e frio. E não gosto de passar por pontes à noite. Também tive um amigo, ou melhor, amigo de meu irmão, que morreu de câncer na laringe, provocado pelo álcool e tabagismo. Meu irmão ficou sinceramente consternado, não poderia imaginar que morreria três ou quatro meses depois. Também tenho um amigo que se salvou, mas teve que aprender a falar, se não me engano, chama-se voz faríngea. E o irmão de uma amiga, também sobrevivente. Lembro-me do que ela me contou ter assistido quando foi visitá-lo. Havia tanto sofrimento, dores terríveis para engolir a própria saliva, que, ao sair, ela não sabia que rumo tomar para chegar em casa. Assim, ainda que não tenha nenhum apreço pelo homem público, fiquei sinceramente abalada com a notícia da doença de Lula. Lembrei-me de tudo que ouvi e vi, e senti grande pena. Solidarizei-me. Admirei a transparência com que transmitiu ao povo a notícia de seu mal, e seu otimismo. Como me comovi ao ver o belíssimo depoimento de Gianecchini.
Mas qual não foi minha surpresa, ou talvez minha desilusão, diante de um homem que crescera no meu conceito, ao ver a lamentável foto de Lula sendo pelado por sua amada Mariza Letícia. Não sabia desta habilidade de nossa ilustre ex-primeira dama,  e acho que nenhum brasileiro sabia, porque, afinal raspar uma barba e um cabelo deve ser coisa para profissional. Eu, por exemplo, não seria capaz de fazê-lo. E ainda deixou um bigode para o marido ficar mais bonito. Estão ambos tão felizes que dá vontade de enviar parabéns pela barbeira e pela doença. Lula é realmente um populista que nem uma doença grave consegue conter. É muito inteligente, conhece a pieguice do povo brasileiro, e seus valores. Virou herói até para quem não gosta dele. Nem Chavez chegou a este ponto. De sua careca, não se conhece a história. Com aquelas fotos, Lula ultrapassou todos os limites da dignidade, desnudou-se. Lamento, mas ainda torço sinceramente por ele. E ainda agradeço, porque, afinal nunca errei na avaliação que fiz do homem. Que tenha força e coragem, aquela mesma que teve ao anunciar a doença.
Sempre aceitei a morte como um fato inevitável, perdi minha família original, e apesar disso sou feliz. Só não entendo o sofrimento.  Lula não é mau, é um populista inteligente e descarado. E que Deus o ajude.










sábado, 19 de novembro de 2011

A foto

Quando minha irmã decidiu raspar a cabeça, depois de tomar conhecimento da queda dos cabelos, telefonou para seu cabeleireiro e amigo e combinou um horário em que sabia que não haveria ninguém em casa. Como de seu estilo, sem alarde, sem chorar, sem lamentar sua triste sorte – que compartilhou cada dia com milhões de pessoas – anunciou a seus filhos o que havia feito. E continuou sua vida, enfrentando a cada quarenta dias, se não me engano, sessões de quimioterapia. Eu e sua filha Alice sempre a acompanhávamos, e, durante horas e mais horas, víamos gente entrando e saindo. Lembro-me de um rapazinho bonito, que ficava em outra sala, o braço esticado, recebendo na veia aquela poção terrível, que na reincidência do câncer foi fatal à minha irmã. E havia uma mulher bonita, elegante, que exibia uma peruca loura que lhe caia lindamente. Ninguém poderia imaginar que aquelas pessoas estivessem atingidas por mal de tamanha crueldade. Às vezes imagino quantas delas ainda estarão vivas.



Reinaldo Gianecchini, ator conhecido, homem de grande valor moral, raspou a cabeça antes que lhe caíssem os cabelos. Discretamente. A Presidente Dilma provavelmente fez o mesmo. E quem viu? Tanta gente famosa passou por esta experiência! Ana Maria Braga, Hebe Camargo, são exemplos de mulheres que amam a exposição, mas ninguém as viu raspando a cabeça. Talvez até uma questão de pudor, de não querer expor sua fragilidade, ou melhor, a nossa, de guardar sua privacidade, e sua dor.


Minha avó paterna morreu de câncer na laringe e desde bem pequena ouvi de minha mãe, com sua psicologia de mulher batida pela vida e pela adversidade, detalhes deste terrível sofrimento. O ano era 1939. Não havia quimioterapia, nem radioterapia, que só surgiram depois da Segunda Guerra. Nem sei se era usada a tal bomba de cobalto, mas estou quase segura de que foi pouco antes de sua morte. Minha avó tinha cinqüenta e nove anos. Não sei se minha mãe contou-me algum detalhe quando passávamos à noite por uma ponte, mas sempre associo a escuridão das águas à morte de minha avó, e tenho a sensação de que ela foi tragada pelo rio indevassável e frio. E não gosto de passar por pontes à noite. Também tive um amigo, ou melhor, amigo de meu irmão, que morreu de câncer na laringe, provocado pelo álcool e tabagismo. Meu irmão ficou sinceramente consternado, não poderia imaginar que morreria três ou quatro meses depois. Também tenho um amigo que se salvou, mas teve que aprender a falar, se não me engano, chama-se voz faríngea. E o irmão de uma amiga, também sobrevivente. Lembro-me do que ela me contou ter assistido quando foi visitá-lo. Havia tanto sofrimento, dores terríveis para engolir a própria saliva, que, ao sair, ela não sabia que rumo tomar para chegar em casa. Assim, ainda que não tenha nenhum apreço pelo homem público, fiquei sinceramente abalada com a notícia da doença de Lula. Lembrei-me de tudo que ouvi e vi, e senti grande pena. Solidarizei-me. Admirei a transparência com que transmitiu ao povo a notícia de seu mal, e seu otimismo. Como me comovi ao ver o belíssimo depoimento de Gianecchini.


Mas qual não foi minha surpresa, ou talvez minha desilusão, diante de um homem que crescera no meu conceito, ao ver a lamentável foto de Lula sendo pelado por sua amada Mariza Letícia. Não sabia desta habilidade de nossa ilustre ex-primeira dama, e acho que nenhum brasileiro sabia, porque, afinal, raspar uma barba e um cabelo deve ser coisa para profissional. Eu, por exemplo, não seria capaz de fazê-lo. E ainda deixou um bigode para o marido ficar mais bonito. Estão ambos tão felizes, há tanto amor, que dá vontade de enviar parabéns pela barbeira e pela doença. Lula é realmente um populista que nem uma doença grave consegue conter. É muito inteligente, conhece a pieguice do povo brasileiro, e seus valores. Virou herói até para quem não gosta dele. Nem Chavez chegou a este ponto. De sua careca, não se conhece a história. Com aquelas fotos, Lula ultrapassou todos os limites da dignidade, desnudou-se. Lamento, mas ainda torço sinceramente por ele. E ainda agradeço, porque, afinal nunca errei na avaliação que fiz do homem. Que tenha força e coragem, aquela mesma que teve ao anunciar a doença.


Sempre aceitei a morte como um fato inevitável, perdi minha família original, e apesar disso sou feliz. Só não entendo o sofrimento. Lula não é mau, é um populista inteligente e descarado. E que Deus o ajude.











quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Nunca antes neste país

Passamos oito anos, ouvindo que “nunca antes neste país” aconteceu tanta coisa boa. Viramos BRIC, e logo estaremos no Primeiro Mundo, a saúde é quase perfeita e o ensino vai de vento em popa. Mas será que é verdade? Há gente que acredita. O que fazer? Para mim e milhões de outros brasileiros a coisa é bem diferente.








Nunca antes neste país” houve tanta sujeira. “Nunca antes neste país” houve tanta corrupção, tanta leniência dos governantes, tanto descaso com a saúde pública, onde pessoas não encontram leitos nos hospitais e acabam morrendo. “Nunca antes neste país” se viu tanta pouca vergonha. Vivemos num mar de lama. “Nunca antes neste país” houve “aloprados”, nem “mensalão”, ainda que houvesse, lá pelos anos oitenta, o famoso “ Centrão”, criado pelo amigo do peito para os fins mais espúrios. “Nunca antes neste país” foram criadas tantas Universidades que não ensinam o básico para seus alunos, nem nunca se varreu de forma tão esdrúxula para baixo do tapete a péssima qualidade do ensino, criando-se as vergonhosas “cotas raciais e sociais”. É verdade seu Lula , o senhor criou um país muito pior do que já era.


Passei minha adolescência sob o governo JK, e me lembro de figuras íntegras como Bilac Pinto, Milton Campos, Lott, Negrão de Lima, acusado pela oposição de corrupção, mas que ao morrer deixou para a família um apartamento. Confesso que nesta época, eu não dava atenção à política, mas estas figuras ficaram marcadas em minha mente como símbolos de um país que passou. É verdade, Lula, que “nuca antes neste país”, um homem com o prontuário de José Sarney seria Presidente do Senado, nem seria líder de qualquer coisa um dejeto como Renan Calheiros, nem o Presidente da Câmara, Marco Maia, faria piadinha com a corrupção dos desmandos do segundo homem de algum órgão público importante. Nunca antes neste país, uma entidade estudantil como a UNE, nossa velha heroína de tantas batalhas, se corrompeu com o dinheirão que o senhor lhe passa, a ponto de uma lider estudantil achar normal a absolvição de um tipo nojento como Renan Calheiros, que usava o nosso dinheiro para sustentar a amante: “Não nos cabe julgar a decisão dos deputados”. Ao ouvir esta frase senti uma grande tristeza enojada, se é possível tal conjunção. Senhor Lula, “nunca antes neste país” uma deputada, filmada recebendo dinheiro (nosso), foi absolvida alegando que na época não tinha nenhum cargo político. Neste caso, pense bem, Fernandinho Biera_mar, talvez convertando-se a alguma igreja evangélica, poderá, perfeitamente, ser eleito para qualquer cargo público. Leitores não vão lhe faltar.


Não me atrevo a dizer que o Brasil tenha sido algum dia uma Finlândia. Políticos corruptos sempre existirão, em qualquer país, talvez salvo no citado acima, mas há um mínimo de compostura, de respeito ao cidadão que o elege e o paga. É verdade, nunca antes neste país mergulhamos de tal forma no poço da vergonha. “Herança maldita” seu Lula, é a que o senhor deixou para sua sucessora, que não se sabe para onde virar, que está mais perdida do que cego em tiroteio. E sabe por que? Porque o senhor, assessorado por seu maior conselheiro José Dirceu – é bom a gente se benzer quando disser este nome- fez aliança com todo tipo de bandido para ter maioria e conseguir deste Congresso o que desejasse.


“Há alguns dias, recebendo do porteiro a revista “Veja”, me deparei com manchete:” O ministro recebia o dinheiro na garagem”. Não fiquei estupefata, nada mais me deixa neste estado no país do “nunca antes”, mas resolvi ler em voz alta para meu porteiro, ao que ele retrucou ironicamente: “ Mas isto não foi aqui , não é?” Respondi: “ Foi na Suécia”. Rimos juntos. Isto é o Brasil do “nunca antes”, “herança maldita” deixada pelo maior populista que este infeliz país já conheceu.






Cabotinismo é uma palavra que vem francês cabotinage, e cabotin é o mal ator, o que quer se fazer notar. Franceses são mestres neste tipo de encenação, sobretudo em se tratando do Terceiro Mundo. No caso de Lula, quiseram mostrar que, sem preconceitos, admiram o grande líder, timoneiro deste barco que começa a se desgovernar mais uma vez, só que para a esquerda. Temos aí Chavez, Carrera, Morales, Ollanta Humala, a Kichner, e outros que ainda virão, todos sob a égide do moribundo Fidel. E ai eles entram como patronos, aqueles que reconhecem “Nunca antes neste país”. Fácil, eles vivem longe, ainda que seu barco dê provas de furos na proa. Quem sabe o Brasil possa ajudá-los?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Susto, bala ou vício

“... Estou aqui de passagem. Sei que adiante um dia vou morrer. De susto, de bala ou vício, de susto de bala ou vício...”



Este é um trecho do lindo poema que ilustra “Soy loco por ti America” de Caetano Veloso.


Aqui se fala da inevitabilidade da morte que habita todos nós, ainda que alguns se julguem imortais. Mas eles também, lá no fundo, têm medo, como cada um de nós. Medo do desconhecido, do absolutamente diferente. Mas apesar deste destino comum, há os que amam a vida e procuram preservá-la, e os que a desprezam ou desperdiçam. Há gente com David Servan-Schreiber e também como Amy Winehouse, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain, Brian Jones.


David, que morreu na noite de 24 para 25 de julho, era um neurocientista e psiquiatra de renome na França e nos Estados Unidos. Durante uma pesquisa, por acaso, numa Universidade americana, descobriu que tinha um tumor cerebral. Tinha trinta e um anos. Morreu na semana anterior aos seus cinqüenta e um. Durante estes vinte surpreendentes anos de luta contra a terrível doença, escreveu artigos em revistas especializadas, e dois livros de auto-ajuda, que tenho como livros de cabeceira: “Anticancer” e “Cura”. Ao saber da gravidade da reincidência de seu mal, escreveu um último livro “On peut se dire au revoir plusieurs fois”. Não é meu propósito falar de suas obras, mas de seu amor e respeito pelo que de mais precioso possuímos: a vida. Sem ser religioso, provavelmente era ateu, deu a todos nós um exemplo magnífico de amor ao próximo. Seu site “Guérir” ensina-nos a cuidar da saúde, ser mais fortes, na alma e no corpo.


David morreu dois dias depois de Amy. Eram ambos judeus. David vinha de família rica, filho de um grande jornalista socialista, fundador de “L”Express”, provavelmente a revista mais importante da França, tornando-se um ícone do jornalismo mundial. Também escreveu um livro de grande repercussão: “O desafio americano”. Belo homem, apaixonado pela vida, muitas foram suas paixões. David viveu sua infância e juventude ao lado de gente do calibre intelectual de Jean-Paul Sartre, Camus e outros. Do pai herdou a inteligência, a coragem, nobreza e beleza. E o amor à vida.


Amy era filha de um chofer de taxi, gente da classe média, sem brilho. Feia, não tinha uma história digna de ser contada, mas era uma enorme cantora. O pai, homem simples, narra, emocionado, a história de sua menininha, que ganhou fama pela música e pela autodestruição. Amy morreu deliberadamente. Ao contrário de David, não tinha nenhuma nobreza, desprezava a vida, e dava mostras, como nenhum dos outros deu, de sua decadência física e moral. Amy e David eram antagônicos. Morte versus vida. Decadência versus nobreza. Ao ver a foto de David em uma palestra alguns meses antes de morrer e a de Amy em um hotel em Santa Teresa, totalmente embriagada, seios a mostra, nos damos conta de como é infinita nossa diversidade humana. E a escolha é nossa. Somos diversos porque somos livres, ”condenados à liberdade”, como dizia Sartre. David escolheu a vida, a alegria, o amor ao próximo, a nobreza. E por isso será, eternamente, para aqueles que leram sua obra, uma grande referência.


Histórias diferentes, vidas diferentes, destinos diferentes. Vejo a todo instante desconhecidos, jovens e velhos, cuja vida tantos obstáculos apresenta, mas vislumbro neles a luz do combate. Alguns parecem dizer: “Quero viver, e viver representa lutar.” Como o homem que vi hoje, numa cadeira de rodas automática, o corpo totalmente disforme, passeando na praça com seu cachorrinho. Também vejo os que se degradam. Enfim, a cada um de nós cabe escolher entre a felicidade e amargura, o riso e soturnez, a vida e a morte. E ainda que estejamos aqui de passagem, e que esta passagem em certos momentos seja dolorosa, podemos torná-la feliz.


Afinal, como dizia Gonzaguinha: “O que será amanhã, responda quem quiser; o que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser” É certo que susto, bala, vício, tombo, AVC, câncer, tombo, vão nos levar um dia, mas porque não ser feliz, se ainda temos este instante de vida, que pode acabar num pluft.

E onde foram parar meus seguidores. Acho que alguém andou me sabotando. Será?









quinta-feira, 28 de julho de 2011

O perigo de vem de baixo.

Como tenho relembrado meu passado, também velhas canções me vêm à lembrança. De repente me vejo cantarolando alguma que não podia supor que minha memória houvesse guardado. É impressionante este computador que armazena tudo e que, a um leve toque, traz à tona todo um arquivo guardado há tantos anos! Lembrei-me um dia desses, e só sabe Deus porque, de uma velha música, acho que de Carnaval. Não me lembro do título, mas muito bem da letra, ou de uma parte dela:



A fonte do Manoel é um maná do céu, tira o leite taca água, taca, taca, taca sal. Tira o dinheiro da meia, bate o pé pra Portugal. Isto aqui é um paraíso, qualquer um pode se arrumar, Cabral descobriu o Brasil, Manoel quer carregar.”


Talvez algum dos meus leitores se lembre dela. É tão antiga que o Manoel manejava o leite como queria, e ,provavelmente, as industrias e suas inovações eram raras. Mas relembrando esta letra, veio-me à mente aquele magnífico “Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda. Ali ele relata como foi feita nossa colonização, tendo vindo para cá fidalgos já totalmente arruinados, que se misturavam ao povão, e com eles confraternizavam. Tanto isto é verdade que a Revolução Francesa, que acabaria com a mais poderosa monarquia do mundo de então, não teve em Portugal nenhuma repercussão. Ela já havia sido feita, na santa paz de Deus, sem que ninguém se desse conta. Os que aqui chegaram tinham um objetivo claro: viver o melhor possível, transando com índias, e aproveitando tudo que a terra dava. Não parece que pretendessem voltar a Portugal, a vida por aqui valia à pena. Assim entranhou-se na mentalidade do povo brasileiro o princípio de tirar vantagem em tudo, que esperteza é inteligência, e tantas outras mazelas. E neste caldo cultural foi-se pelo ralo, até o esgoto, qualquer resquício de ética. Manoel, o da musiqueta, tira vantagem em tudo, é esperto, e não tem nenhuma ética. É sintomático o que disse uma professora de canto a meu ex-marido: “Vamos, que o mundo é dos espertos!”. Não dos que trabalham e produzem. E assim é a grande maioria dos brasileiros. E se os políticos são exemplos rasgados deste terrível mal, estão lá eleitos por um povo que pensa como aquela médica de quem já falei: ”Roubar todo mundo rouba.” Ou como disse Lula para todos nós na televisão: “Todo partido tem seu caixa dois.” E nós que pensávamos que o Partido dos Trabalhadores fosse pra valer!


Dito tudo isto, que, aliás, nem precisava ser dito, já que a corrupção, a falta de vergonha, a cafajestagem, são esfregadas na cara das pessoas de bem a toda hora, que tal nos lembramos de alguns fatos ilustrativos? Tenho optado por listar as safadezas porque discorrer sobre cada uma delas transformaria este texto em livro:


- A Presidente Dilma faz cara cheia, passa pito, mas o Ministério dos Transportes continua com o PR, já que o Ministro pertence a este partido. Será que ele não sabia de nada, como Lula igualmente desconhecia o “mensalão” e os “aloprados”? E como assinala o jornalista J.R. Guzzo, sendo o número 2, só não ficaria sabendo caso não fosse nunca ao local de trabalho. A verdade é que no aparelhamento do Estado, promovido pelos oito anos de governo Lula, ao PR coube o Ministério dos Transportes. Como ao PDT, o do Trabalho. Não conheço os donos de todos os nacos do Estado brasileiro, generosamente distribuídos em troca de apoio. Mas sei que cada um levou o seu pedaço.


- O Governador do Estado do Rio de Janeiro é pego em flagrante em helicóptero de megabilionário, a quem , se não me engano, deu uma licença para construção de um porto, e, desmascarado, diz que vai escrever um código de ética.


- A lei da “ficha limpa” foi para o beleleu, e todos os “fichas sujas”, devidamente eleitos, estão sentados comodamente nas cadeiras em que o povo os colocou.


- O tal de Alfredo Nascimento, depois de ser confirmado ladrão, como todos os seus comparsas, voltou à sua vida tranqüila – não sei se tem cargo eletivo – e agora muito melhor com a dinheirama que enriqueceu o filhote e, evidentemente, ele próprio. E caso se candidate, aposto que vai se eleger.


- Os bueiros na “cidade maravilhosa” explodem a toda hora e até agora ninguém foi responsabilizado. No Rio de Janeiro o perigo vem de baixo, campo minado. Vi cenas, que chegavam a ser cômicas, de gente correndo dos bueiros. Também vem de cima e dos lados com as balas perdidas. Há seqüestros, relâmpagos ou não, explosão de caixas eletrônicos, assassinatos a qualquer hora. Estamos em guerra.


Ouvi num noticiário na televisão que o Brasil está em terceiro lugar dentre os países que pior recebem seus turistas. Imagino que o primeiro deva ser o Afeganistão e o segundo o Iraque. Ou vice-versa.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Isto é Brasil

Amigos, acho que devo uma explicação pelo meu silêncio. Desde março não tenho escrito, abro raramente meu e-mail, e aproveitei o meu tempo para ler muito. Mas, sobretudo, decidi fazer um balanço de toda minha história, desde o momento em que alcança minha consciência. Tive infância difícil, com um irmão com graves problemas psíquicos, coincidente com insanidade que atingiu minha avó, que hoje se chamaria Alzheimer, mas que só foi diagnosticada em 1971. De minha mãe já contei a história e também seus seis últimos anos de vida, recusando-se a viver. Perdi minha única irmã, vítima de câncer, amiga e companheira em todos estes embates. Agora, sozinha, decidi, com a ajuda de meu analista, passar tudo a limpo. E precisei, acima de tudo, de mim mesma. Conclui, o que não foi novidade para mim, que gosto de viver só, e que é assim que a gente muitas vezes se reencontra.



Meu ostracismo valeu a pena, sinto feliz, tão feliz quanto pode ser alguém exposto aos inerentes perigos da vida. Mas sinto-me mais forte para enfrentá-los.


Um abraço muito carinhoso a todos vocês.


E agora, vamos ao texto.




Lembro-me de um velho samba que começava ufanisticamente “ Ai, nossas noites são tão claras, nossas praias são tão raras (?), isto é meu Brasil” . Mas será que é? Naquele tempo, eu era criança e acreditava firmemente que éramos lindos. Hoje tenho certeza que não. Na verdade nosso céu está irremediavelmente poluído. Por culpa da Petrobras, respiramos um ar contaminado com o dobro de enxofre dos outros países. Ou seja, o sonho de consumo de nenhum carro pode o ser o abastecimento pela dita estatal, como diz a propaganda – enganosa. Falsidade ideológica? Nossas praias estão contaminadas por todo tipo de sujeira, desde excrementos até animais mortos (e também gente morta). O Brasil real é tão diferente daquele do samba de minha infância!

E vamos a uma pequena lista que prova que o velho samba é lindo e enganador:

- acabamos de absolver um criminoso, condenado à prisão perpétua em sua terra natal, a Itália, país democrático onde teria seus direitos de cidadão respeitados. Mas mandamos, imediatamente, para a ditadura geriátrica cubana, dois lutadores de ficha limpa, que aspiravam a uma vida melhor. E tudo abençoado por Lula. Sendo que o então Ministro da Justiça justificava que o assassino Battisti lutava por um ideal. Hitler também. Como disse meu amigo Daniel : “Como existem paraísos fiscais, vamos ser conhecidos como paraíso penal.”

- nossos flagelados do início do ano continuam do mesmo jeito, ou seja, nada do que lhes foi prometido foi cumprido por ninguém;

- nosso Ministro da Educação diz que exigir de uma criança que aprenda a falar corretamente é uma atitude fascista, e cita Stalin e Hitler para tentar nos fazer aceitar a aberração (e tenho uma amiga professora que diz que ele é ótimo);

- uma cartilha distribuída às crianças de escolas públicas – sempre elas – ensina que dez menos três é quatro, ou cinco, não me lembro bem;

- para resolver o “pobrema” do “sete menas quatro é cinco”, criaram as cotas para as escolas públicas;

- defendendo o “anti- racismo”, criaram as “cotas raciais”. E também um “tribunal racial” que só existiu na Alemanha nazista.Ei, meus netinhos vocês têm um tataravô negão, aproveitem e entrem na fila.”


- um assassino mata covardemente a ex-namorada e passa onze anos livre, sendo que com a redução de pena, idade, etc, etc, sairá dentro de dois ou três anos;

- um Ministro de uma casa mal-assombrada, aumenta vinte vezes seu patrimônio, e o ex- Presidente aconselha à Presidente Dilma que o mantenha, já que há no seu Ministério muita gente culpada de malversação do dinheiro público;

- um bandido mata covardemente um estudante no estacionamento da USP, apresenta-se à polícia e sai livre com direito a responder pelo crime em liberdade – assim reza a lei - , defendida magistralmente por nossos causídicos, sendo que aquele que defende o bandido assim justificou a recusa do indigitado de nomear seu cúmplice :” Bandido tem seu código de honra!” . E é verdade, nós é que não temos;

- outro bandido assalta em um túnel, é fotografado, reconhecido, e não pode ser preso por não ter sido feito flagrante: “Ei, pessoal, de agora em diante temos que andar acompanhados de um policial para armar o tal flagrante!”

- há dois meses brigo com uma tal de OI, pois tendo mudado para um plano muito mais barato, recebo contas astronômicas. Fui ao Procom e me disseram que talvez tenha que entrar com uma ação na Justica Especial, que nem sei direito o que é. Viva o Lulinha e seus milhões;

- para combater o banditismo o governo volta com aquela história de desarmamento. Relembro Garrinha, que, ouvindo as instruções do técnico Vicente Feola, perguntou: “Doutor, mas a gente já combinou com o adversário?”

- retirando dinheiro do CAIXA ELETRÔNICO, encontrei uma nota manchada de vermelho, ou seja, quando formos ao banco temos que verificar nota por nota, e, se a quantia for maior, um bandido pode comunicar-se com outro pelo celular e o cidadão acabar sendo assaltado e até morto;

- os hospitais estão pela hora da morte – sem metáfora – e pagamos impostos astronômicos que vão parar em contas particulares da corrupção;

- na tal de Copa, de nem sei quando, vai sobrar roubalheira, as de colarinho branco e as de chinelo de dedo, e faltar obras de infra-estrutura, Estádios, hotéis, etc, que vocês podem imaginar. E aposto que o show de abertura será com Escolas de Samba, muito silicone e muita bunda de fora.

E viva nós que agüentamos tudo, e somos considerados pelos gringos – que não vivem aqui – o povo mais feliz do mundo. Não é o que diz aquela propaganda das Havaianas?

terça-feira, 8 de março de 2011

Começar de novo

Este é o nome de uma antiga série de televisão, com Regina Braga e Denis Carvalho. Lembro-me que contava a história de uma mulher que recomeçava a vida após o divórcio, com uma filha pequena e todos os problemas do dia-a-dia, que teria que enfrentar sozinha. Pois 2011 foi para mim um recomeço de fato, o que não chegou a acontecer em 2010. E não foi somente minha separação de Ricardo, depois de tantos anos, que marcou este recomeço. Recomecei partindo de muito antes. Talvez desde meus primórdios.  Sinto como se, há muitos anos, houvesse plantado em mim uma semente, que só agora germina e começa a dar frutos. Não lamento nada. Vivi felicidade e dor, como ocorre com todos. E vivi intensamente. E agora, quando constato que estou sozinha, que dependo exclusivamente de mim, despojo-me deste passado longínquo, que vai muito além de Ricardo, e recomeço, cheia de vida e esperança, quando muitos já consideram tudo pronto.
Minha mãe, marcada por sua condição de “filha natural”, numa sociedade cruel e hipócrita, onde sofreu todo tipo de discriminação, pobreza e perdas, contou-me desde cedo sua história e eu, tenho consciência disso, a incorporei. A morte trágica, provavelmente por suicídio, de sua única irmã, aos dezessete anos. A morte de Maria, irmã de meu pai por parte de mãe, de peste bubônica, aos 12 anos. Era sua amiga, e minha mãe jamais pode esquecer esta tragédia. Agora, quero recomeçar, construir um futuro, de onde estejam ausentes lembranças e dramas que não são meus. Acerca deste passado escrevi um livro, que na verdade não pretendo publicar, que intitulei “Tudo que me contaram”. Nele relato histórias de família, que me foram passadas por meus pais e por velhos parentes.
Foi depois da saída de Ricardo de minha vida que, percorrendo a casa, constatei, perplexa, que minha presença ali era quase nula. Minha individualidade havia se diluído ao longo dos anos, de muitos anos, em outras presenças, em lembranças de um passado, que muitas vezes eu desconhecia. Fotos de minha tia Aracy, repetidas sobre um móvel e numa parede. Velhas almofadas de casamento, que mandei emoldurar, enfeitavam as paredes de meu quarto. E um fantástico medalhão do casamento de meus bisavós, de 1869, pendurado sobre a cama.  E ainda outras coisas, que eu jamais poderia cogitar em retirar, pois as havia identificado às  pessoas amadas que haviam partido. E desta profusão de recordações, numa tentativa de resgate, Ricardo e eu estávamos ausentes. Foi então que  percebi que meu recomeçar não tinha tanto a ver com a nossa separação e que ia muito além, o que o tornaria mais difícil.
Decidida, comecei pelos velhos livros, papéis, cartas, fotos, etc. O que já contei anteriormente. Depois me voltei para a decoração. Refiz tudo “clean”, com papel de parede de cor neutra, cobrindo igualmente todas as paredes. Cortinas claras. Percebi que minhas idéias acerca da decoração transitavam pelo que já passou. Guardei cuidadosamente as velhas fotos, as velhas almofadas, mas deixei o medalhão que pretendo colocar em algum lugar do quarto. Despojei minha casa. Dei roupas que não considero mais adequadas para mim. Esvaziei armários. Tive a coragem, o que me parecia difícil, de dizer adeus às velhas lembranças visíveis e guardá-las no meu coração. Inesquecíveis, coloquei numa parede fotos de meus pais e irmãos. E porta-retratos com fotos de meus netos. Presente. Passei uma tarde inteira, mais de três horas, posando num estúdio para um fantástico fotógrafo. Tirou cento e oitenta e sete fotos, das quais escolhi dezoito. Mas ainda há muita coisa que gostaria de escolher. Cheguei em casa exausta, mas ainda saí, feliz,  para passear com meus bichinhos. Entrei de corpo e alma na sua brincadeira, porque é brincando que ele trabalha. Aos poucos contei-lhe um pouco de minha vida. Pedi-lhe que mostrasse uma mulher madura, vivida, mas ainda em boa forma e, acima de tudo, feliz. E que não apagasse as marcas do tempo. E ainda que as fotos fossem elegantes, mas com uma pitadinha de sensualidade. Captou exatamente o que eu queria.
Amigos me aconselham a viajar, mas não é disso que preciso agora. Quero reconstruir, e essa reconstrução externa e interna exige minha presença aqui. O passado, o meu passado, jamais esquecerei. Não posso e não quero. Mas ser capaz de repensar minha vida me parece maravilhoso. Distribui fotos minhas pela casa, incluindo dois pôsteres. Vaidade, narcisismo? Talvez um pequeno pecado. Mas, nesta altura da vida, depois de tantos quilômetros percorridos, afinal tenho direito a alguns pequenos e, quem sabe, maiores pecados?

sábado, 29 de janeiro de 2011

De volta ao passado

De  volta ao passado
“Mas onde está a cabeça?” Procurei bem lá no fundo. Não era a minha, que está solidamente presa ao pescoço, ainda que meio baratinada. Era cabeça de meu boneco predileto. Os outros membros estavam lá, desmembrados, mas a cabeça... O pobrezinho estava parecendo aqueles bichos indefinidos que “ornamentam” as calçadas de pedras portuguesas perto de minha casa. Ou Ravaillac, o assassino de Henrique IV, “écartelé”, tendo cada membro atado a cavalos que correriam em direções opostas. Mas não vamos pensar em crueldades, o que me interessava era saber onde estava a cabeça de meu bebê, que ganhei quando tinha dez anos. Minhas outras bonecas, tão antigas e queridas, deitadas de lado, de olhos abertos, me olhavam fixamente do fundo da balburdia. Lembrei-me das roupinhas que costurava para elas, e que faziam crer a minha mãe que eu teria grande talento para costura. O que não aconteceu. Desci da escada e fui para outro armário, em outro quarto. Minha prima Maria Luíza, que viera passar o Réveillon comigo, internauta de carteirinha, me trouxe de volta ao presente. Subi na escada, abri a porta superior do armário, e voltei ao passado. Lá estavam bolsas bordadas por minha mãe – há tantos anos! – e uma bolsinha minha de criança, manchada de alguma coisa parecendo ferrugem. Procurei a cabeça do meu bebê, sentindo um grande sentimento de culpa, como a gente pode recusar desta forma algo que, outrora, foi tão significativo? A voz de minha prima, querendo me ensinar alguma novidade na máquina que hoje nos rege, me trouxe de volta ao presente. Mas eu não queria saber de computador, queria a cabecinha do bebê, de cujo nome até esqueci. E remexendo mergulhei na minha infância, adolescência, mocidade. Foi como se estivesse sendo hipnotizada e tudo que minha memória profunda houvesse guardado voltasse à tona: o bom e o ruim. Subi e desci da escada dezenas de vezes, em todos os quartos, fui ao passado e voltei, cada vez que ouvia o barulhinho discreto do computador. Por fim, encontrei a cabeça perdida, envolta  em plástico. Não posso imaginar porque fiz essa maldade! Juntei tudo e doei para uma instituição de caridade. Disse-me uma amiga que não devia ter feito isso, mas, afinal, não brinco mais de bonecas, e minha neta, Luíza, tem 17 anos, e já passou da idade. Aliás, peço a Deus que nunca mais volte a brincar de bonecas. Credo!!!!
Peguei velhos livros de Monteiro Lobato, que meu pai dera a meu irmão, aqueles cujas histórias ele me contava, sentado na cadeira de balanço, enquanto eu, deitada no chão de bruços, escutava atentamente. Lembrei até de uns sonhos recheados de goiabada, que minha mãe fritara num dia de chuva em que ele me contava “Reinações de Narizinho”. Meu peito ficou apertado! Todos aqueles livros, de engenharia, de música, de histórias infantis, de crochê e bordado, haviam pertencido à minha família e todos haviam partido! Em outro armário encontrei quadros e pratos que minha mãe pintava. Via-a claramente, sentada diante de um pequeno cavalete. Saudade! Muita saudade! A voz de minha prima acompanhando alguma música que ouvia na Internet, me trouxe de volta ao presente e à necessidade de por à larga meu coração e despojar-me de tudo aquilo, que, afinal, entulhava minha casa e minha vida.
Meu amigo Cláudio, dono de uma livraria, meio sebo, meio antiquário, ajudou-me na dura tarefa de me desligar do passado. Levou mais de seis carrinhos grandes de feira, e pretende doar os livros infantis para bibliotecas comunitárias, que conseguiu organizar. Também arquiva objetos para cenários de peças de teatro. Os outros livros estão na sua livraria e terão melhor destino do que escondidos em armários. Minhas sobrinhas levaram alguns pratos, mas os quadros dei à minha diarista, que não tem nenhum adorno para suas paredes. Ficou feliz! Eles também estarão melhor ornamentando a casa que Josy e seu marido constroem com o trabalho duríssimo de cada dia.
E também guardei algumas relíquias de que nem me lembrava mais, minha camisola de batismo, de seda cor-de-rosa, com pequenas flores bordadas por minha avó. Camisolinhas de dormir no verão, todas enfeitadinhas, meu primeiro sapatinho, meu primeiro brinquedinho, uma argola de plástico com várias outras penduradas como balangandãs. E ainda um bicho feio parecendo um rinoceronte que me davam para morder. E aventaizinhos bordados, fantasias de carnaval de baiana e cigana, enfim, tudo que só avó faz. E minha capinha de crochê de lã, - será que alguma das minhas leitoras chegou a usar esta indumentária-? Lembrei-me de quando a colocava brincando de chapeuzinho-vermelho. Lembranças, lembranças. E muita saudade! Uma dor no peito, que tive que enfrentar. E tudo isto depois de haver rasgado mais de cinco sacos de cem litros de papel! E milhões de fotos e slides  de gente e lugares que não me interessam. Agora faltam os longplays e os discos de setenta e oito rotações, aqueles bem antigos, com agulhas que se comprava em caixinhas de metal. Meu sobrinho, Bertrand, que é músico, quer tudo para ele. Que bom!
Neste momento, estou despojando minha casa do passado. Mas guardo dezenas de álbuns de fotos  . Distribui pela casa fotos de minha família, e também minhas. Mas depois de amanhã, vou a um estúdio fazer um book meu. Quero fotos que mostrem uma mulher madura, que gosta de si, que soube enfrentar um passado tormentoso, que não se deixou vencer , que é feliz,e  ainda está em forma. A melhor, vou mandar ampliar, bem grande, e colocar na parede do fundo do corredor, que já preparei lindamente par recebê-la. E avisei ao fotógrafo: “Quero fotos glamorosas, mas não sensuais. “   
Afinal: “ Je repars à zero