QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

“ME CHAMA DE LAGARTIXA”

OU...” METAMORFOSES ERÓTICAS”

Minha amiga olha o rapaz lindão e não se contém: - “Que homem! Olha!” Olho e concordo. Aliás, eu já havia visto o garotão. Mas ela está realmente encantada. “Olha que coisa! Etc. etc...” De repente, numa espécie de desabafo, solta: “Que vontade de dizer: “Me xinga, me joga na parede, me chama de lagartixa”. Acho engraçado, nunca havia visto, nem ouvido uma fantasia erótica associada à lagartixa, bicho feio, cinza, triste e...gelado! Mas o que não inventam as nossas metamorfoses eróticas! A lagartixa - alguém conhece um bichinho menos erótico? – ao assegurar seu lugar no imaginário de minha amiga, nos traz a maravilhosa convicção de que todos – humanos ou não – temos garantido o nosso direito de ser objeto de desejo.
É verdade que não podemos viver felizes sem nossas pequenas, ou grandes, fantasias, diárias ou esporádicas. E as eróticas são as mais freqüentes, ainda que “politicamente incorretíssimas”. Minha amiga, ao expor a sua, mostra autenticidade, gana de viver, prazer. E coragem. Isto sem falar no princípio democrático de que todos têm os mesmos direitos. Enfim, tudo que uma significativa parte da sociedade em que vivemos censura e expurga. Confessar desejos secretos, soltar a imaginação, quanta censura sempre acarreta, ainda que as pessoas, por boa-educação, evitem demonstrar. Mas por que não tentar despertar esta gente bem comportada para o tesão da vida? Conheci e conheço muitos que se negam qualquer fantasia, mergulham no papel que lhes determinou a sociedade, ou melhor, que se determinaram a si mesmos, de esposa, marido, filha, mãe, pai, avó. Conheço gente que abdicou de toda libido, numa sociedade ainda conservadora, e optou por contar a história de outros.
Meu companheiro chama-me de “Gatinha”, metamorfose doce e dengosa de fantasia erótica que compartilhamos. Conheço gente que gostaria de ser chamada de leoa, de onça, tigrona, e até de cadela. Enfim, vale tudo no objetivo de trazer ao imaginário aquilo que tenha a função de nos subtrair, ao menos por algum tempo, das contas, impostos, fantasmas, enfim todo tipo de aborrecimento do cotidiano.
E viva a lagartixa, erigida em símbolo erótico por minha amiga, cujo nome, agradecida, vou manter em segredo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Laços de família -I

Há dias falamos da Imperatriz Josefina, esposa de Napoleão. Chamava-se Josephine de Beauharnais, e salvo o fato de ter sido esposa tão amada de Napoleão, quase nada mais há a acrescentar à sua biografia. E é este quase nada que quero contar. Josephine teve de seu primeiro marido, igualmente traído, dois filhos, Hortense e Eugène, ambos muito queridos do padrasto. Hortense, que segundo dizem era uma linda moça, foi escolhida pelo padrasto para esposa de seu irmão caçula, Louis, que parece ter sido um homem de temperamento sombrio e paranóico. Também consta que Louis jamais quis casar-se com Hortense, frívola e perigosa, como a mãe. Mas, afinal, o que significaria a negativa de Louis diante da decisão do irmão. Napoleão fez dele rei da Holanda e tornou rainha a enteada. Louis assumiu a paternidade dos dois primeiros filhos de Hortense, mas negou-se a assumir a do terceiro. O fato é que já viviam separados há algum tempo quando, durante uma excursão aos Pirineus, acompanhada de fidalgos e damas, Hortense novamente engravidou. Na verdade, sendo bela e fácil de ser agradada, Hortense poderia ter engravidado de qualquer um dos muitos homens que a acompanhavam. E desta vez, Louis não agüentou e negou-se a assumir a paternidade do novo rebento. Por fim, provavelmente pressionado pelo irmão, teve que dar seu nome ao novo membro do clã. Numa carta lamentava-se ao Papa: “Minha desgraça é estar casado com uma messalina que procria”.E foi assim que surgiu Charles Louis Napoléon, futuro Imperador Napoleão III. Figura interessante, aventureiro, acusado de homicídio, despido de qualquer escrúpulo.
Na juventude, Louis Napoléon meteu-se em todo tipo de distúrbio, até ser mandado para a América. De volta à Europa, fixou-se em Londres e freqüentou os indivíduos e lugares mais suspeitos da cidade. Algum tempo depois, clandestinamente, voltou à França e meteu-se em outras aventuras, com a fixa idéia de derrubar a Monarquia constitucional de Louis-Philippe. Fracassou e foi mandado para uma prisão, em perpetuidade. Fugiu e instalou-se em Londres onde passou a ser sustentado por uma prostituta de ricos. Após a queda de Louis-Philippe, voltou à França e candidatou-se a uma cadeira na Assembléia. Foi eleito, aliás, com enorme quantidade de votos. A seguir, ousou outro passo dentro de sua estratégia de tornar-se Imperador, sim por que sua grande meta era continuar a caminhada interrompida do tio. Assim, por um lado ostentando o nome Bonaparte e, por outro, apoiado no dinheiro de sua amante inglesa, que muito faturara com os ricos de Londres, e também na herança recebida pela morte do “pai”, distribuiu farta propaganda e elegeu-se Presidente da França, inaugurando a Segunda Republica. Mas dois anos depois, deu o golpe e tornou-se Imperador.
Teve que abdicar em 1870, quando da derrota da França diante das tropas prussianas.
Mas ainda há muita coisa para se contar destes laços de família.

Napoleão III tinha um bigode besuntado, era extremamente inteligente e ardiloso. Não sei porque sempre que falo nele lembro-me de José Sarney.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Bonaparte, Sarko... e seus tristes amores.

Ou “A História se repete como farsa”

Karl Marx citando Auguste Comte

Bonaparte era feioso. Sarko também é. Bonaparte era pequeno. Sarko também é. Bonaparte tinha origem não-francesa. Sarko idem. Bonaparte decidiu tirar a França do caos em que havia mergulhado após a Revolução. E depois de colocar ordem na casa, resolveu conquistar, senão o mundo pelo menos a Europa, o que não é pouco. E, aos 35 anos, coroou-se imperador. Sarko não aspira a tanto, mas também quer fazer alguma coisa acontecer numa França prestes a sair do circuito internacional. Bonaparte era um gênio, Sarko nem tanto. Mas é brilhante, e tem um claro projeto. Bonaparte foi vencido pelo heroísmo do povo russo e pelo inverno, o que depois também aconteceu ao exército nazista. Para Sarko, os tempos são outros, não pretende conquistar nenhum país, lutar contra um inimigo, mas tem inimigos internos poderosos. Bonaparte ficou na História mundial e só é menos conhecido que Jesus Cristo. Sarko, quem sabe, ficará na história francesa como figura inovadora, depois de tantos anos de absoluta mediocridade.
Mas tem um outro lado, que Sarko, num mundo globalizado, expõe despudoradamente. Bonaparte e Sarko podem ser considerados infelizes nos seus amores. O general francês amou profundamente sua Josefina. Conheceu-a viúva de um outro general, guilhotinado na Revolução Francesa. Tinha um casal de filhos, era mais velha do que ele, não era bela e consta que tinha maus dentes. Mas o pequeno grande Bonaparte sucumbiu e de tudo fez para tornar-se seu amante. Foi motivo de chacota da própria amada entre seus amigos, e contam que ela lia em voz alta, rindo, suas cartas transbordantes de amor. Ao fim de algum tempo, quando o sucesso começava a bafeja-lo, decidiu aceitar sua proposta de casamento. E acabou sendo coroada imperatriz de França, pelo próprio marido, alguns anos depois. Era um homem extraordinário, muito além da capacidade de compreensão de sua mulher, admirado até por adversários, como o escritor Renée de Chateaubriand, que o descrevia como “... o mais poderoso sopro de vida humana que já havia passado pela face da terra”.Dizem que Josefina o traiu durante muito tempo, mas que ao ter que se divorciar por não conseguir engravidar sentiu grande dor. Continuou vivendo na sua Malmaison, próxima a Paris, com uma belíssima pensão. Contam as más línguas que Maria Luíza da Áustria, sua segunda esposa, também o traia. Mas, afinal, o homem vivia fora de casa!
E Sarko? Apaixonado por sua bela Cécile, que vem de abandoná-lo pela segunda vez, procurou sua Maria Luíza, que se chama Carla Bruni. A razão desta imediata busca não foi a célebre “raison d`État”, mas uma terrível “dor de cotovelo”, ou talvez uma dor mais acima, em ambos os lados da cabeça. Sarko não foi vítima da globalização, mas se serviu dela infantilmente, confundindo o público com o privado e desprestigiando-se diante de uma população que jamais quis cogitar da vida privada de seus governantes E o mundo inteiro assistiu. Justo ele que tanto fez e tem feito, cada dia, para tornar-se uma figura internacional, colocando a França no lugar em que já esteve, bem antes da galeria de governos e governantes medíocres. Ele que encarna o que se espera de modernização de uma França coberta de poeira de um passado que já não pode repercutir no presente. Erro imperdoável que já se faz sentir na queda de sete pontos na sua aceitação.
Mas afinal, Sarko não é “... o poderoso sopro de vida humana...”, o grande Bonaparte. De qualquer forma, quem sabe, esteja aí, nas desventuras amorosas de ambos, alguma coisa misteriosa, que não se consegue explicar, que parece coïncidência, mas que é quase uma predestinação, um aviso. Quem sabe Sarko, mal-amado como o grande Bonaparte, uma vez superada a crise adolescente, não vá exercer um grande papel na história da França? Quem sabe, ao final de seu governo ele tenha conseguido desbloquear a França e coloca-la nos trilhos da modernidade? Afinal não há um velho ditado que diz: “Feliz no jogo, infeliz no amor”? Só resta saber se Carla Bruni, que já disse ser fiel a si mesma, será uma nova Maria Luíza da Áustria. Mas Carlas, Céciles, Josefinas, Marias são, ou serão, lápides. Resta-nos torcer para que Sarko repouse algum dia, seguramente não nos Invalides, onde repousa o grande Bonaparte, mas quem sabe num belo mausoléu ao estilo daquele de JK em Brasília.
JK, que, um dia, sonhou em fazer deste país uma grande nação.