QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Meu cesto de cerejas

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas...
As primeiras, ele chupou displicentemente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço...”

Se viro a cabeça e olho para atrás, vejo um longo caminho, onde fui jogando as sementes das cerejas. Alguns caroços ainda trazem vestígios de cor esmeralda da fruta, estes estão mais distantes. À medida que se aproximam de mim, tornam-se mais limpos. Neste longo caminho posso perceber os que me precederam, e cujos cestos já se esvaziaram há tempos. Eles são muitos e sinto saudades.  Dou-lhes adeus. Até qualquer dia.
 Viro-me para frente, meu cesto está pousado no chão. Quantas cerejas haverá nele? Não me importo em contar. Vejo que restam ainda algumas. Preciso preservá-las? Ou não seria melhor saboreá-las tranquilamente, sem pressa. Faço as contas da média da idade de meus irmãos, que me disseram adeus. Já ultrapassei o limite. Estou em débito! E de quanto poderá ser meu débito? Bem, minha mãe viveu muitas décadas a mais do que sua única irmã, que se foi aos dezessete anos. Mas há uma vantagem para minha tia; continua linda e jovem, no retrato que tenho diante de mim. Minha mãe envelheceu, engordou, teve artrose, osteoporose!
Viro a cabeça e constato que há um longo caminho. Cada porção de caroço deixado no chão, como numa trilha, representa um momento, de tristeza ou alegria neste passado que pouco a pouco marcou meu rosto, e orgulho-me de cada uma dessas marcas. Há tanta história! Meu primeiro amor, meu primeiro beijo, meu primeiro contato sexual. Tive os amores que quis ter, as viagens que me fascinavam, a liberdade que construi e que curto a cada momento de minha vida. Enfim, só quero lembrar-me do bom... Como se isso fosse possível!
Meu débito, se assim eu fizer meus cálculos já está grande. Economizo minhas cerejas? Faço pilates, musculação, cuido da pele, do cabelo. Mas sinto que não há como economizar. Mudanças foram aos poucos me transformando. Tenho pequenos- felizmente pequenos- problemas de saúde. Não gosto mais  de cidades grandes, de barulho, de muita gente ao meu redor. Eu, que passava as noites de sábado dançando! Não consigo mais, e nem quero.
Não me importa mais a opinião dos outros, minha personalidade amadureceu. Vivo como gosto. Não estou a procura de nenhuma honraria. Aprendi a fugir de gente chata, e não tenho medo de ser, se for preciso, indelicada. Como disse Jane Fonda, estamos no Terceiro Ato e não há o Quarto! Vou esvaziar tran-qui-la-men-te minha cesta, e quando chegar ao fim, vou poder dizer como Neruda: “Confesso que vivi!”.

Esta é uma homenagem a Mário de Andrade ou a Rubem Alves, ou seja ele quem for,  que nos deu de presente um dos mais belos e profundos textos que já li. Obrigada, amigos.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O que não nos mostraram E não podemos esquecer

Alguns homens, jovens, aparecem numa cena de um filme antigo. Parece que faz frio, vestem sobretudos. São quatro ou cinco. De repente, vemos soldados que lhes metem no pescoço cordas. Serão enforcados. Mas, afinal, quem são eles? Uma voz nos diz que não ficará de pé nenhum sérvio rebelde. Mas já não vimos tanta maldade inimaginável praticada pelos nazistas? Seres humanos amontoados como lixo? Crianças famélicas? Rostos que quase perderam sua humanidade? Por que aquela cena particular causou-me tanto horror?
Um simples gesto. Como aquele de quem arruma alguma gola que o incomoda... Mas ali, aquele jovem procura algum conforto com a corda que lhe quebrará o pescoço dentro de alguns segundos. É como se sua vida fosse prosseguir! Não há desespero em seu rosto. Mostra dignidade, o que faltou a muitos nazistas justiçados em Nuremberg! Logo depois aparece a figura ao mesmo tempo sinistra e ridícula de Hitler! Quanto asco!!!
Já vi e revi esta imagem que sempre me trás muita dor. Ilustra a propaganda de um programa que mostra os filmes secretos da 2ª. Guerra, no Canal Bio, na tevê por assinatura. A imagem me comove, me enoja, me dá calafrios, mas me fascina em toda sua carga de  tragicidade. É como se eu estivesse lá, assistindo a todas as mortes de resistentes que lutavam pela libertação de sua pátria, antiga República Yugosláva, que reunia várias populações naquela região dos Balcans. Mas foi aquele gesto, simples, cotidiano, do pescoço, que mais me emociou. Era seu adeus à vida!
E quem seria este jovem? Um professor, um médico, um artista? Teria um amor,  filhos ? E seus pais? Conheço a bravura destes povos reunidos na resistência ao nazismo, e aos simpatizantes croatas. Sem nenhuma ajuda lutaram isolados, mostrando uma coragem incomparável. Quero imaginar meu mártir como um guerreiro, tão bravo quanto seus compatriotas, e posso fazê-lo ao ver sua dignidade no derradeiro momento.
Já morreu há muitas e muitas décadas. Seu cadáver não dever haver sido restituído á família. Foi empilhado com milhões de outros! Como vemos - meu Deus – fazerem os separatistas pró-Rússia com as vítimas do acidente que eles próprios provocaram.
Se Deus é realmente esta usina de força de que fala John Lennon, que ele nos dê a força de que precisaremos SEMPRE para nos revoltarmos, para gritar ao mundo que não é isso que queremos! Faço a minha parte, revolto-me contra qualquer  tirania, de que é exemplo o jovem sérvio, com seu ultimo gesto de vida. Não sei se meu texto será lido, mas escrevê-lo já reconforta meu coração!