QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Império do efêmero ou A Geração sem idade

Ambos os títulos, copiei-os: o primeiro de um fantástico livro de Gilles Lipovetsky, o outro da reportagem de capa da revista “Veja” de algumas semanas atrás. Gilles Lipovetsky é daquela turma dos “nouveaux philosophes”, como Bernard Lévy, que despontaram nos anos sessenta e teorizaram sobre os grandes movimentos de renovação dos sixties. Como o próprio Lévy, e alguns outros, Lipovetsky, cansou-se da carrancuda dialética marxista e trocou Marx por Tocqueville, tornando-se um liberal. Tem livros que derrubam mitos há muitos estabelecidos, como “La troisième femme” ou “Le crépuscule du devoir”.
Em “L´Empire de l´éphémère – La mode et son destin dans les sociétés modernes”, ele fala da evolução da moda na história e sua importância na sociedade moderna. Fala do “prêt-à-porter”, e da democratização da estética. Gilles Lipovetsky fala daquilo que não fica bem intelectuais falarem. Não tem medo. Põe em dúvida o que se estabeleceu como único motivo de reflexão, nossas eternas cogitações, que como diz certa propaganda da televisão, produz perguntas e não respostas. Quer falar do efêmero, ou seja, da própria vida, com sua celeridade, que torna tudo passageiro, nossa juventude, nossa beleza, nossa saúde. Afinal, senhores intelectuais, o quê não é efêmero? No efêmero da moda, e da beleza em geral, se oculta um universo que podemos desvendar e assim compreender melhor nossa trajetória no mundo. E diz ele logo no início da apresentação: “A questão da moda não faz furor no mundo intelectual. O fenômeno precisa ser sublinhado: no momento mesmo em que a moda não cessa de acelerar sua legislação fugidia, de invadir novas esferas, de arrebatar em sua órbita todas as camadas sociais, todos os grupos de idade, deixa impassíveis aqueles que têm vocação para elucidar as forças e o funcionamento das sociedades modernas.”
O que me levou a retomar o livro, já lido há algum tempo, é justamente a sua pertinência neste início de século, em que a moda, onde se insere a beleza, ou vice-versa, ocupa, sem medo ou falso pudor, seu lugar em nossa sociedade. Queremos todos a beleza, a elegância, o máximo prolongamento da juventude. Nós todos, homens, mulheres, jovens, maduros, velhos. Vejo na academia de ginástica, que freqüento diariamente, a democrática convivência de homens e mulheres de todas as faixas etárias, todos ajustados em suas malhas, sem distinção de indumentária, sem complexos. Mulheres maduras, e muito maduras, como eu, usam as mesmas peças que as jovens. Cuidamos de nossos corpos como um valioso patrimônio, afinal o único que temos de fato. Vejo num canal de TV por assinatura uma pletora de programas dedicados à beleza, à moda, à juventude: “10 anos mais jovem”, “Esquadrão da moda”, “Timm Gun”, “Mude meu look”, “Glamour e.... (?)” são tantos que já me perdi. Uma dessas tardes, resolvi passar todos em revista, e durante horas estive embevecida com a moda, a beleza, a juventude. E saibam que havia acabado de ler “Le ventre de Paris” de Zola. Ou seja, não fiquei burra por curtir aquele desfile do que chamam de supérfluo, efêmero. Ou fútil. Imagino um mundo sem isso e acho que deve ser prá lá de entediante. E o sucesso é tamanho que já há similar em canal aberto, aqui no Brasil. E sem esquecer que neste momento, em São Paulo, tem lugar o maior salão especializado em produtos de beleza da América do Sul.
Pertencemos, Ricardo e eu, àquela geração que, como Lipovetsky, sonhou com um mundo socialista, o único, críamos nós, capaz de gerar justiça social. Hoje, passados tantos anos, nada temos a lamentar, vivemos intensamente o nosso momento, acreditamos nele do fundo de nossos jovens corações. Hoje, já no crepúsculo, ainda cremos firmemente na justiça social, e esperamos por ela, mas também sabemos que já migraram para a História os sixties, Woodstock, a imagem do Cristo-Chê. Nossa geração é aquela que aparece na reportagem da “Veja”, a que vive intensamente a vida, sem culpa, porque sabe o quanto ela é efêmera. Vejo uma foto de minha mãe, mais jovem do que sou hoje, e me causa lástima. Pobres mulheres, como minha Alice, voltadas exclusivamente para o lar e os filhos, gordas, tímidas, eternamente submetidas a um macho comandante. Vejo minha mãe aos quarenta e oito anos, parece minha avó, hoje. Gostaria de poder inscrevê-la num “10 anos mais jovem”, vê-la rejuvenescida, exuberante. Linda e sensual como foi na juventude.
Confesso que já utilizei e continuarei utilizando todos os recursos que a moderna ciência e tecnologia colocam à disposição de mulheres vaidosas. Que sempre sentirei imenso prazer em discorrer sobre o efêmero, ou seja, sobre a própria vida, mas que jamais renunciarei às minhas leituras, minhas indagações, e meu amor a toda criação de Deus. Como me ensinou minha mãe.
E afinal, confesso que adoro esta minha futilidade e não poderia viver sem ela.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A sonoterapia de DETRAN e outras brasilidades

Hoje quero falar de algumas coisas que tenho visto neste país, que dizem ser abençoado por Deus.
Primeiro discorro sobre a renovação de minha carteira de motorista. Antiga. Nem ouso dizer quando tirei a primeira. Digamos que eu era muito, muito jovem. Quase uma criança. E agora, para renovar, sou obrigada a fazer um tal curso de direção defensiva e ainda de alguma outra coisa. Quinze horas! Lamento não haver nascido trinta anos mais tarde! Mas o quê fazer? Percorro as auto-escolas e, afinal, encontro uma que dá um curso intensivo. Quinze horas em dois dias! Ricardo, que também é daquela geração que aplaudiu Woodstock, resolve me acompanhar, ainda que sua renovação seja em setembro. Solidariedade inestimável. Já na véspera, à noite, nossa cadelinha, Tila, foi devidamente exportada para a casa de uma amiguinha, E assim partimos às sete e meia da manhã de uma sexta-feira para uma dupla jornada, que teria seqüência no sábado.
Quando saímos, eu estava agitadíssima, já imaginando o que seriam aquelas horas de fantástica excitação naquele encontro de velhos condutores! E lá estavam nossos colegas, coroas como nós, alguns mais velhos, outros mais jovens, mas todos maiores de quarenta e cinco. Havia policiais, médicos, caminhoneiros, donas-de-casa, comerciantes. Já de cara fomos informados pelo proprietário que o curso não servia para nada, que era uma invenção de burocratas em Brasília, que não precisávamos anotar nada e que estávamos de antemão aprovados, já que não haveria prova. Apresentou-nos o “professor”, seu filho, que nos olhava com cara de sono. E a “aula” começou. A cada hora tínhamos que provar presença com a impressão digital- claro, senão pulávamos todos fora. Marcávamos entrada – saída- entrada- saída. Um milhão de vezes. Mas, afinal aquilo servia para nos acordar e também o “professor”. Entre uma soneca e outra, eu abria os olhos e o via de costas, olhando o quadro e também dormindo. Depois, tomava um golinho de água, nos olhava sonolentamente: “Bem, quando houver atropelamento,...” Acordamos quando falou em respiração boca-a-boca. Então é preciso esperar passar a gripe suína!Tomara que eu não atropele ninguém! Contei que já havia sido atropelada duas vezes, sendo que uma para salvar minha cadelinha. Proporcionei um descanso no cochilo geral. Todos riram. Afinal contribui em alguma coisa. E também havia o lanchinho de manhã e à tarde, que esperávamos avidamente.
Mas o pior foi depois do almoço. Sono incontrolável. Houve gente que despencou por cima do vizinho. Ricardo tinha medo de roncar e quis incumbir-me de vigiá-lo. Recusei, já que eu também estaria ferrada no sono. Tentei ler, mas foi pior, o livro despencava, desmarcava a página, e eu tinha que me abaixar para apanhá-lo, o que, naquelas alturas, constituía perigo, já que, com reflexos adormecidos, sempre batia com a cabeça nas costas da cadeira à minha frente e assustava o colega, que, é claro, também dormia. Resolvi colocar óculos escuros e pensei que sentada na última fila, com a cabeça encostada na parede, poderia dormir mais tranqüila. Mas não adiantou por que a cabeça despencava. Por vezes, um silêncio profundo se estabelecia. Dormíamos todos. E assim continuamos até as seis horas da tarde. Creio que todos, como Ricardo e eu, chegaram em casa aos pedaços. Comemos alguma coisa e fomos dormir... de novo. Para recomeçar no dia seguinte, que o professor nos disse que seria muito mais interessante!!!! Será que foi?
Nosso consolo foi na noite de sábado ter ido jantar no nosso restaurante japonês preferido, e sentir-se exatamente como um passarinho que reconquistou a liberdade.
E por falar em liberdade, li há poucos dias que em 1966, uma escolinha primária de Curitiba foi fechada, acusada pelos agentes da ditadura de propagar idéias marxistas para as criancinhas. As professoras foram condenadas, duas conseguiram escapar e uma cumpriu pena de mais de um ano. As ditaduras são realmente burras, ridículas e aterrorizantes. Sejam de direita ou de esquerda. Tenho certeza de que coisas assim acontecem em Cuba, Coréia do Norte, Miamar, etc. E por falar em ditaduras, estamos assistindo a implantação de várias, aqui, vizinhas. E com o aplauso discreto, mas não tanto, do governo Lula. Afinal, será que ninguém se habilita a dar cabo do Chávez? Francamente, jamais pensei em aplaudir um golpe, mas aplaudo, sem medo de NÃO ser politicamente correta, o que houve em Honduras. Afinal, por que apoiar em novo Chávez?
E o bate-boca asqueroso no Senado, até com a ressurreição nacional de Collor? E o Renan, o Sarney e toda esta imundice? E o bate-boca de comadres da Dilma e da outra senhora que não me lembro como se chama: Disse /Não disse/Disse/ Não disse... Aliás, tendo em vista as mentiras já pregadas por dona Dilma em relação ao seu currículo acadêmico, acredito piamente na outra. Enfim, juntando tudo, desde a ditadura até hoje, que, afinal, é o Brasil que eu presenciei – incluindo o meu surrealista curso de direção – tenho o direito, e até a obrigação de perguntar: será que este país tem jeito?
Alô, lulistas renitentes. Eu também já acreditei no homem, votei nele muitas vezes, até levei uma paulada na cara de uma colorida, mas tenho a coragem de dizer que errei. Vocês não acham que ele chegou ao fundo do fosso, beijando as mãos de Jáder Barbalho, abraçando Collor, aliando-se a Renan, e defendendo Sarney como um brasileiro superior aos demais? Será que algum deles, incluindo o chefe, se compadece daquelas crianças que catam lixo em Maceió, sendo que uma morreu atropelada por uma máquina, quando dormia exausta sobre um monte de imundices? E também pelas outras que se espalham pelo Brasil afora? Será que não mereciam melhor sorte, ainda que não sejam, como Sarney, brasileiros de melhor estirpe?
E para terminar com chave de ouro esta nossa pequena amostra de brasilidade, não podemos deixar de lado aquela frase inesquecível, expelida por Renan num desses dias memoráveis do Senado. Dizia o indigitado referindo à oposição: “Minoria com complexo de maioria.” Repetiu-a várias vezes, encantado com própria genialidade. Frase de uma profundeza com condiz com o momento e com seu autor. Estou até agora embasbacada. Repito para mim mesma a toda instante, para jamais esquecê-la “Minoria com complexo de maioria.” Viva o Renan!