QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 2 de maio de 2022


SIMPLESMENTE MULHERES 



Em lembrança a meu inesquecível amigo Sílvio


Foi há muito tempo. Eu havia me afastado das aulas de francês por divergências com uma de minha colegas, que por ser a mais velha, liderava as demais. Eu havia acabado do chegar de meu pós-Graduação e Margarida Salomão queria fazer seu doutorado nos Estados Unidos. O Departamento de Letras Estrangeiras não queria dar-lhe licença e eu queria me afastar algum tempo da equipe de francês. Assim, eu resolvia meu problema e Margarida o seu.
Quando voltei ao curso de francês, fiquei pasma. Usava-se quadro de feltro , coisa do tempo de meu avô , e o método era totalmente ultrapassado. Resolvi, sem perguntar a ninguém, que daria um jeito. Fui Consulado Francês, onde consegui um novo método, áudio-visual , que se havia introduzido na época. Consegui que uma livraria da cidade comprasse exemplares . Com a ajuda de minha colega, Margarida, bolamos cartazes, que a editora da Universidade publicou. Meu monitor, que eu havia escolhido, já que não me lembro de haver tido monitor antes, Boni Iavo, marfinês, de língua francesa, me ajudou a distribuir pela Universidade. E a afluência foi enorme, maior do que esperávamos. Se houve resistência ? É claro! Uma de minhas colegas , totalmente dominada pela mais velha veio com certas argumentações, que desconheci. 
E o curso deslanchou, com melhor reputação do que outro de qualquer língua. Criei um teatro em francês, que um amigo e meu cunhado José Carlos me ajudaram a ensaiar. Ludmila escolheu ao acaso um nome , Gavroche, o moleque de rua, de "Os Miseráveis" de Victor Hugo ,que morre na Revolução de 1830. Logo depois, uma de minhas colegas criou um coral de músicas francesas , que persiste , e com o mesmo nome "Chorale Gavroche" . Com a equipe de francês e a de inglês, criamos o CELEM (Centro de Línguas Estrangeiras Modernas) e a cada semana apresentávamos uma exposição diferente. Lembro-me de uma que fiz , e que  obteve grande sucesso, sobre o Impressionismo, e minha amiga , Walquíria,  sobre o poeta Rimbaud. 
A peça, que apresentei no SEDIFRALE ( e nem me lembro mais o quê significava ) na comemoração do bi-centenário da Revolução Francesa e da Inconfidência  Mineira, a que estava presente a então Primeira-Dama da França , Michelle Mitterand, me rendeu uma  bolsa na Bretanha , onde conheci meus amigos búlgaros.  Meus " atores" dentre os quais estava Ludmila , ficaram em um hotel que alugou o Consulado da França. Enfim, aquela reacionária , que gostaria de uma Universidade sem alunos , aposentou-se. E ficamos livres de seus problemas.
Formamos muitos bilingues, como o Deputado Júlio Delgado, que se gaba de ser tradutor quando acompanha  ( ou acompanhava) um
grupo de parlamentares a países de língua francesa. Formamos uma grande amiga Cristina , que chamo de "minha menininha", hoje militar , que passou 1 ano na França , e  esteve no Haiti, minha sobrinha Ludmila, que ganhou uma bolsa na França por haver encantado com sua beleza o Adido Cultural,  que tinha em vista  um novo projeto de ensino de francês. O projeto não deu certo por ser o colégio escolhido excessivamente liberal e,  em decorrência,  tendo havido problemas de disciplina. Hoje, ela dá aulas de francês em Caxambu. E formamos Sílvio e seu namorado Sebastião. Tive uma aluna que morou na França , como Jeune-au pair, estudando e cuidando de crianças. 
Mas de todos eles , os que ficaram para sempre meus amigos íntimos foram Silvio e seu namorado , Sebastião, que , carinhosamente , chamávamos de Sebá. Silvio esteve presente nos momentos trágicos e infinitamente felizes de minha vida. Assim como Sebastião. Quando meu pai, altamente cardiopata, tinha crises e precisava tomar choques, ele muitas vezes me acompanhou. Durante os seis longos anos de agonia de minha mãe, ele esteve sempre a meu lado. Vinha lanchar comigo, conversar. E quando meu irmão morreu. E durante a doença de minha irmã! Vinha lanchar em sua casa todas as semanas. E quando meu cunhado se foi, lá estava ele. Finalmente, quando me tornei a remanescente foi com ele que me abracei e choramos juntos. Muito! Era minha única irmã! 
Mas também esteve  presente nos momentos de intensa alegria. Nos aniversários , nas festas de fim-de-ano que Teresa organizava em uma casa que ficou para Alice , no Condomínio Tiguera. Ele, seus pais e Sebastião. Na festa de celebração de Bodas de Ouro de seus pais , entrei na Igreja com Sebastião. Minha irmã já havia partido.
Por tudo isto, quando soube de sua morte, por intermédio de uma amiga, comecei a chorar convulsivamente e a rezar. Então era esta a razão de seu silêncio diante de minhas mensagens no Whatzapp? O quê lhe trazia tamanho sofrimento que, querendo escapar, resolveu colocar fim à própria vida? 
Minha dor foi incomensurável! E hoje , passados meses, ainda sinto uma opressão no peito. Os outros morreram no momento que Deus determinou. Em que seus cartões de validade tiveram fim. Mas ele o precipitou! Todas as noites oro por sua alma. Assim como oro por todos que já fizeram a passagem. Oro, porque acredito na bondade de Deus , porque sei que Ele é justo.