QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 10 de agosto de 2018


Os atos da vida
Imagine a vida como o teatro. Neste teatro cada um representa um papel. Escolhemos o que queremos, já que para isto temos o livre arbítrio ou, como diz Sartre, somos condenados à liberdade. E não podemos culpar ninguém por nossas escolhas, elas são nossas e de mais ninguém. Quando crianças, vivemos o primeiro ato, e aí somos preferencialmente coadjuvantes. Mas já começamos a escolher e tentar abrir caminho. No segundo ato, somos adolescentes e nossas escolhas já começam a refletir o que queremos. Na juventude, já nos tornamos adultos. Devemos saber o que queremos e sabemos que nossas escolhas são aquelas que nos permitirão chegar ao terceiro e derradeiro ato. E não há quarto.
Há alguns dias, uma amiga mandou-me uma foto que me remeteu ao passado.  Tirada há mais de cinqüenta ou sessenta anos, mostra, reunidos, na porta principal do colégio onde estudei, velhos rostos. Já havia esquecido aquelas pessoas. Ou pensava que havia esquecido, porque ao revê-las ali, olhando-me fixamente, senti um aperto no coração. Uma saudade.
E assim, comecei a relembrar o meu passado. Minha mais remota lembrança, está fixada em uma foto. Foi num remoto dia de minha vida, em que estava sentava numa espreguiçadeira, numa varanda que havia nos fundos de minha casa, no colo de meu pai. Eu ainda era um bebê. De repente, ele sumiu, vi-me sozinha, e comecei a gritar. Escondido, ele tomou a foto.  Guardo-a até hoje. Quando conto, muitas pessoas não acreditam, mas não me importo. Tenho certeza. Alguns meses depois, eu já andava, cadeiras haviam sido postas numa passagem externa da casa onde nasci, faziam faxina. Peguei a tampa de uma panela corri e, feliz, comecei a bater no assento de uma cadeira.  E há meu aniversário, de quatro anos. Lembro-me de minha  mãe me vestindo e penteando meus cabelos e me dizendo carinhosamente alguma coisa. Lembro e quase revivo este momento.  Tenho duas fotos minhas, neste dia inesquecível, sobre um móvel em minha sala. E o filme, onde apareço brincando com crianças que não sei mais por onde andam, nem se estão vivas. E a festa com um “lindo” bolo feito por minha irmã, Teresa, eu de pé sobre uma cadeira, observando cada uma das crianças antes de assoprar as velinhas. E alguns anos depois, no velho cinema Glória, no colo aconchegante de minha mãe, que não perdia um filme mexicano. Naquele tempo as crianças iam ao cinema à noite, para dormir. E quando minha mãe me ninava, ouvindo as novelas e  contando-me histórias de sua infância. Lembro-me de minha oração, de camisolinha, ajoelhada na cama, recitando com minha mãe – sempre ela- “Com Deus me deito, com Deus me levanto. Com a graça de Deus e do Espírito Santo. Menino Jesus na beira, São José no canto. Que a Virgem Maria me cubra com seu divino manto.” E aí eu desfiava um rosário de nomes queridos : “ Deus abençoe a mamãe, o papai, a vovó, ....” E o dia em que vendo meus irmãos, bem mais velhos do que eu ( Teresa onze anos e Sergio quatorze anos) indo para o colégio, coloquei uma capinha de neném – que se usava naquele tempo – peguei um merendeira velha e fui esperar o ônibus. O mais incrível é que cheguei a subir, sendo salva por uma vizinha que veio correndo e me pegou no colo. Eu devia ter menos  de quatro anos, pois mudei-me desta casa com esta idade.
Já com cinco anos, lembro-me de minha manha, me jogando no chão , quando uma empregadinha não pode comprar pipoca para mim. Chamava-se Lurdes, e morreu logo depois, tísica. Minha avó estava muito doente e minha mãe não observava que Lurdes não estava bem. Até que uma vizinha a alertou. Tinha dezoito anos. E do dia em que minha avó morreu. Minha mãe havia ido servir-lhe o chá da tarde e encontrou-a morta. Teresa me contava uma história em outro cômodo, quando minha mãe irrompeu desesperada, chorando alto e dizendo “Mamãe morreu, mamãe morreu.” Lembro-me de mim, sentada no seu colo, chorando, enquanto ela se abraçava a mim, sempre em prantos. Lembro-me de que fomos dormir na casa de uma vizinha, Teresa e eu, e acordei cheia de xixi. Dei um pulo, e corri para a cama de minha irmã. Lembranças.
Naquela foto vejo pessoas de quem não me lembrava mais. Dona Maria Estela, que me alfabetizou e que não gostava de mim. Por qualquer bobagem punha-me de castigo no banheiro, que ficava dentro da sala de aula. Era um lugar escuro e úmido com alguma coisa que parecia um tacho escuro e carcomido. Não me lembro se havia vaso sanitário. Um dia, cheguei em casa e contei para minha mãe, que imediatamente foi ao colégio. Não sei o que aconteceu, mas nunca mais fui presa no banheiro tenebroso. Décadas depois, li no jornal o anúncio de sua morte. Lá está ela na foto , feiosa, meio mal-encarada, com um sorriso forçado. E havia sua irmã, dona Nilda, no segundo ano. Bonitona. Sempre achei que pintava os cabelos de uma cor meio ruiva. Ela sorri. E dona Ruth, acompanhada de seu marido Professor Romano, que encontrei mais tarde, quando já na adolescência voltei à cidade. Eu costumava ficar de castigo depois da aula, não me lembro quem me punha, dona Nilda ou dona Ruth, ou talvez as duas, e tinha que escrever dezenas de vezes: “ Não posso rir na aula.” , ou alguma banalidade semelhante. Anotavam a transgressão no diário, que eu sempre entregava à minha mãe, que assinava sem prestar atenção. Para ela eram besteiras. E vi dona Carolina , a Diretora, com seu corpo disforme, gordinho, de perninhas bem curtas. E tantas outras recordações destes meados do século passado.
Depois fui embora, passei algum tempo no Rio, onde meu pai, engenheiro militar, dava aula no IME. Eu odiava aquele ônibus que ia me  pegar na porta de casa. Afinal,  já era quase uma mocinha. Passado um ano, consegui convencê-lo a me deixar ir de bonde. Ia feliz , fazendo o percurso da Praia Vermelha ao Anglo- Americano, que ficava em Botafogo, onde hoje está um prédio da Petrobras. Era para mim um grito de liberdade, talvez o primeiro, repetido ao longo de minha vida. Algum tempo depois, meu pai anunciou que havia recebido uma bolsa para França. Mandou para Juiz de Fora a família, já que tinha que devolver a casa, enquanto tratava de tudo no Rio. Lembro-me vagamente de um passaporte. Eu tinha dez anos e não tinha idéia do que aquela experiência significaria em minha vida. Lá ficamos por um ano e, acho eu, dez meses. Mas esta experiência com uma cultura e língua diferentes, ainda tão jovem, conto depois.
Voltando ao Brasil, ficamos no Rio. Eu tinha 12 anos e estava na puberdade, com todos seus problemas. Mas havia coisas boas, como meus passeios com Teresa às quintas- feiras na Sears, de saudosa memória. Meu pai sempre nos dava algum dinheiro para um lanche e alguma comprinha a mais. Minha família era do Sul, mas ele preferia vir para Juiz de Fora nas férias. Era perto e barato. Alguns anos depois, viemos para Juiz de Fora, onde eu havia nascido. Minha mãe engravidara logo depois de sua chegada aqui, vindos do Rio. Meu pai tinha na época uma função já na sua área de engenharia. Era capitão, se não me engano. Belo homem , deixou muitas mulheres apaixonadas. Eu ainda não havia nascido. Naquela volta, eu estava entrando no  segundo ato de minha vida. Tinha 15 anos e vivi minha grande experiência do amor. Voltei para o Granbery, onde estudara a maior parte do primário.
E vendo aquela velha foto revi aqueles anos dourados. A Sala das Moças, no comando de dona Cecília. Lá está ela na foto. Sempre austera. Um dia na semana tínhamos “trabalhos manuais” e dona Cecília nos ensinava coisas interessantes. Lá fiz não sei quantas blusas de tricô, que eu sabia desde criança. Fiz toalhas de vagonite ( alguém conhece?) Ficava na porta que dava para o pátio dos rapazes. Meu namorado fazia um sinal e eu escapava para encontrar-me com ele. As vezes dona Cecília me flagrava e fazia-me voltar. Sempre educadamente. Lembro-me que tinha o hábito de morder o lábio superior e sempre pensei que isso devia trazer algum prejuízo. Vi meu professor de música, Reinaldo, que uma vez por semana lutava para nos fazer cantar “Luar do Sertão” Éramos um bando desafinado, cada um indo para um lado. Tentava nos colocar em lugares estratégicos para a primeira e segunda voz. Embaralhávamos tudo, sentávamos errado. Linda alma aquela, homem infinitamente bondoso. E dona Zilda, professora de francês, que se encantou ao saber que eu havia morado na França e falava francês. Era vaidosa e bonitona. Falava bem o francês, que não sei onde aprendeu. Na foto, diferencia-se das demais, com blusa estampada e manga curta. E  Júlio Camargo, que nos ensinava geografia. Eu tinha uma coleção de Atlas que herdei de meus irmãos e outros que meu pai comprava. Professor Camargo era austero, e jamais ninguém ousou fazer qualquer tipo de algazarra em suas aulas. Mas todos  gostávamos dele. Lembro-me de meu amigo  Nilo Ayupe, que não chegou a vir tomar um lanche comigo, como havíamos combinado.  E tantos outros.
Quando entrei na Universidade, para cursar Letras, quando fiz meu concurso e meu tornei profissional, tudo mudou. Eu mudei. Fui para Porto Alegre fazer minha Pós-Graduação, vivi longe de minha família. Tive outros amores, dancei a noite inteira, cheguei em casa de manhã, tomei banho e fui para minha aula de semântica. Expulsei de casa meu namorado francês, ultra-esquerda, que me chamou de burguesa porque eu me pintava. Amei os Beatles, Elvis. Chorei quando ele morreu. Fui esquerda, meus amores todos eram escolhidos por suas ideologias. Voltei para minha cidade. Trabalhei, ganhei bolsas para a França.
E quando meu pai adoeceu, com gravíssima cardiopatia, trouxe-o para minha casa e cuidei dele até sua morte. Um ano depois, minha mãe quebrou o fêmur, deprimida nunca mais voltou a andar, até sua morte seis anos mais tarde . Eu já entrara no meu terceiro ato. A dor daquelas perdas , o sofrimento , haviam deixado suas marcas em mim. Um ano e meio depois, perdi meu irmão.  Nova dor, noites em claro sem poder compreender como ele pudera morrer tão repentinamente. E a facada final; a morte de minha irmã, Teresa, amiga, companheira, confidente. Acompanhei-a cada dia, sofri cada dia, sabendo que não havia esperança. Mas sempre há um fio de esperança. Teresa faleceu há 13 anos. Naquele dia, com aquela facada no coração, mergulhei no meu terceiro ato.
Sinto-me como  aquele menino, que descreve Mario de Andrade, que já tendo comido a maior parte de suas cerejas , vendo o cesto quase vazio, quer gozar o que resta até o último pedacinho. Hoje cada dia vivido é um presente de Deus. E como diz Gilbert Bécaud no seu maravilhoso “Et maintenant”:* “ Et puis un soir , dans mon miroir, je verrai bien la fin du chemin. Pas une fleur, et pas de pleurs au moment de l´adieu.” Já deixei por escrito o que desejo: sem velório, meu corpo será cremado, e somente estará presente minha família. Minhas cinzas serão lançadas ao vento e meu espírito poderá, melhor do que jamais, apreciar a beleza da criação do Senhor.
*E uma noite , em meu espelho, verei o fim do caminho. Nada de flores , nada de choro , no momento do adeus.”

segunda-feira, 30 de abril de 2018

HÁ CINQUENTA ANOS: A revolução que não aconteceu


HÁ CINQUENTA ANOS: A Revolução que não aconteceu
Como era o mundo há cinqüenta anos? Estávamos divididos entre dois impérios: o Soviético e o Capitalista.  Estes dois impérios haviam se formado a partir da Segunda guerra  como frente de combate ao Nazismo. Num erro estratégico brutal, através da operação Barbarrossa, a Alemanha invade a Rússia, comandada pelo camarada Stalin, pouco depois o Japão, que juntamente com a Itália e Alemanha fazia parte do chamado Eixo, bombardeia a base naval americana de Pearl Harbour, obrigando os Estados Unidos, governado por Franklin Roosevelt, a igualmente atacar a Alemanha.
Terminada a Guerra, com a derrota  nazista, e seus parceiros, formam-se dois grupos ideologicamente opostos, divididos pelo que Churchill , Primeiro Ministro inglês,  chamou de “cortina de ferro”.  Em 1948, o Partido Comunista Chinês toma o poder. E assim viveu o mundo entre capitalismo e comunismo. Desde 1945 até a queda do muro de Berlim, em 1990.  Mas durante estes 45 anos o mundo deu voltas ( ou como diria o francês  “ Le monde a bougé”). Várias guerras deram origem a regimes de orientação comunista como a da Coréia do norte, do Vietnam, do Camboja. Entretanto, excetuando a Coréia do Norte , os regimes chamados de extrema esquerda foram desaparecendo. Hoje, somente restam China e seu comunismo capitalista, a miserável Coréia do Norte, Cuba, igualmente miserável, e o bolivarianismo, na infeliz Venezuela.
Naquele ano de 1968, o mundo começou a mexer-se de forma mais expressiva. Vários acontecimentos determinaram este pipocar, de um lado e de outro. Já em 1956, lembro-me que morava na França, tinha 10 anos e assistia pela televisão, a revolta na Hungria,  talvez o primeiro movimento de insurreição contra o comunismo. A princípio foram estudantes que invadiram uma estação – evidentemente estatal – querendo transmitir suas reivindicações. Apesar de brutalmente contidos, com mortes, o movimento que buscava mudanças espalhou-se pela cidade. Forças do Pacto de Varsóvia, que reunia a União Soviética e todos os países do Leste (fundado na cidade de Varsóvia , em1955, e extinto em 1991)  sufocaram o movimento, que se extinguiu em definitivo em janeiro de 1957. Pedia-se liberdade, democracia, como se pedia também em países do mundo capitalista, dominados por Batistas, Trujillos,  Somozas, Duvaliers ( Papa Doc) , respectivamente ditadores de Cuba, República Dominicana, Nicaragua e  Haiti, além de outros que não conheço. Todos protegidos pelos Estados Unidos e enriquecidos às custas do empobrecimento do povo. E sem esquecer Alfredo Stroessner, crudelíssimo ditador do Paraguay, durante dezenas de anos. Deu abrigo ao nazista Joseph Mengele, médico-monstro, cujas proezas incluíam, entre outras, amarrar as pernas de mulheres em trabalho de parto. Morreu de forma misteriosa, se não me engano no Brasil, assim como seu protetor, Stroessner.
Em 1959, o primeiro movimento “libertador”, liderado pelos guerrilheiros de Sierra Maestra, instala o comunismo na ilha. Em 1964, ocorre o golpe militar no Brasil, com prisões,  tanques  nas ruas, foragidos políticos, gente torturada e assassinada. Quem viveu estes anos, sabe bem o que é realmente um “golpe”. Na verdade, poucos eram os países democráticos no chamado “mundo livre”. Sou da geração que assistiu a tudo isso, que se horrorizou, que teve medo. E ao tomarmos conhecimento de tudo o que acontecia, muitos de nós optou pelo lado oposto. Viramos “comunistas”.
Em 1967, morre Chê, e torna-se nosso grande herói, vítima do capitalismo, no qual vivíamos confortavelmente. E é interessante notar que foi naquele ano, e no seguinte, que surgem no Brasil os primeiros sinais da frustrada guerrilha, que tantas vidas jovens levou. Movimentos insurrecionais surgem em regiões afastadas mas também nas cidades. Houve seqüestros, de Embaixadores sendo o mais famoso o do Embaixador americano. E ainda a inesquecível  luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e o brutal assassinato de Martin Luther King, o maior líder negro, orgulho da raça. Seu assassino cumpriu  prisão perpétua até sua morte em 1998.  O assassinato de Robert Kennedy, que também provoca grande comoção no mundo. Havia um movimento de revolta por um mundo melhor, fosse de que cor, ou ideologia, fosse.
Também do outro lado do mundo, do outro lado daquela “cortina de ferro” surgia o movimento de liberação chamada “ Primavera de Praga”.  O dirigente do Partido  Comunista Tcheco Alexander Dubcek procura dar ao povo maior liberdade , introduzindo Reformas importantes e sobretudo uma nova Constituição. A incrível experiência da Liberdade, inspira o escritor Milan Kundera a escrever o mais famoso de seus livros “ A insustentável leveza do ser”. Mas Praga é invadida pelos tanques do Pacto de Varsóvia, e a esperança de LIBERDADE  acaba tendo muitos intelectuais fugindo, como o próprio Kundera , que exilou-se na França, onde recebeu cidadania francesa.
Ora, neste ano de 1968, sobre o qual Zuenir Ventura escreveu o livro “1968, o ano que não acabou”, no qual se refere especialmente ao Brasil, e que ainda não li, há coisa demais acontecendo. Fazendo uma breve retrospectiva, lembremo-nos que até 1958, vigorava na França a IVa Republica, instituída após a Segunda Guerra, e que não funcionou.  E Charles de Gaulle era, indubitavelmente, um herói nacional. Exilou-se na Inglaterra, quando da invasão nazista, de onde liberou “La France Libre”, com uma emissão de rádio que os franceses ouviam às escondidas. Voltando à França, o general de Gaulle, funda seu partido e reúne forças para promover a V Repubica . Ou seja, a V Constituição. Eleito em 1958, reelegeu-se até 1965. Mas sua atuação autoritária, ainda que tenha sido extremamente positiva para uma França, há poucos anos saída de uma guerra e de uma invasão, desagradava a estudantes e operários, estes comumente comunistas.
Foi então, em meio a este mundo conturbado que ocorre um incidente talvez banal de uma revolta localizada,  mas que teria grande repercussão. Não se pode localizar exatamente o momento em que surgiu a idéia de revolucionar a França. O Mundo brigava, americanos lutavam contra vietcongs, tchecos eram massacrados, africanos lutavam por suas liberdades. Um pequeno incidente na Universidade de Nanterre –Paris X – desencadeia uma reação desproporcional. Na inauguração de uma piscina,  comparece o Ministro  da Juventude e dos esportes,  há uma discussão entre ele e um estudante ruivo de origem alemã e judaica, Daniel Cohn-Bendit, que torna-se líder do movimento reivindicatório . O Ministro é vaiado pelos estudantes , o que deixa bem claro o descontentamento.  Não consta que Daniel pertencesse a algum partido político, mas pensava que era necessário movimentar a França , diante de um mundo em ebulição. Greves de estudantes e operários obrigam De Gaulle a tomar providências policiais.  Após o envolvimento da polícia , com prisões, a revolta concentra-se  no Quartier Latin . Dali se expandiu por toda a França. Houve barricadas em várias cidades, o movimento , ao que parece pretendia trazer de volta a célebre Comuna de 1871, que pretendia instituir o primeiro governo proletário no mundo. À Revolta de 1968, unem-se intelectuais como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Jean-Luc Goddard, e François Truffaut, entre outros. O Partido Comunista Francês, sob a direção de Georges Marchais, toma posição contrária, como havia acontecido no Brasil, com a posição de Luís Carlos Prestes contrária à guerrilha.  Num dia memorável, o grande poeta surrealista, Louis Aragon, já bem velho,  tenta falar aos estudantes. Membro do Partido Comunista, é estrondosamente vaiado. Vergonha para os que o vaiavam, Louis Aragon, tinha uma história de luta e era um símbolo da cultura francesa. Finalmente, concedem-lhe a palavra. Esta manifestação de intolerância já marca o começo do fim do movimento. Finalmente, operários, obedecendo às grandes  Centrais Sindicais, ligadas ao Partido Comunista, voltam às fábricas . O movimento enfraquece até sua extinção. Sem o prometida Revolução.  
Ao todo o movimento rebelde dura de maio a julho. Em 1969,  De Gaulle propõe um referendum  para regionalização do Senado , mas não consegue vitória. Em seguida, renuncia.
Morre em 1970, O próximo Presidente da  França  é Valéry Giscard D´Estaing.  De direita. 




sábado, 13 de janeiro de 2018

Temps de dire adieu



Ma mère est morte un certain vintg-six février, il y a déjà longtemps. On nous avait averti que son temps serait court. Pendant six ans, j´avais lutté contre son désenchantement de la vie. Elle avait fait une chutte et fracturé le  fêmur. Et puis, elle n´a plus jamais marché.  Elle se refusait à marcher, elle refusait la vie, toujours adossée à son lit. Les médecins venaient et revenaient. Toujours de nouveaux médicaments, surtout des antidépressifs, et des psychiatres, qui se renouvelaient sans cesse. Ce furent des années de souffrance, surtout pour nous deux, puisque le reste de la famille pouvait vivre sa propre vie. Et j´ai eu la force de lutter pour ne pas succomber. Il me restait toujours l´espoir , qui le sait, qu´ elle reviendrait à la vie. Mais sa perte était sans retour, elle avait perdu son amour et plus rien ne l´intéressait. La mère que j´avais connue toute ma vie, qui m´avait fait dodo dans la vieille chaise balançoire en écoutant les feuilletons à la radio, qui m´avait raconté des histoires de son enfance, qui avait arraché avec un fil chacune de mes dents de lait, que je conserve jusqu´aujour´hui,  qui me soulageait quand je me blessait, qui avait pleuré le jour où je suis partie pour compléter mes études, cette mère était déjà morte six ans avant que son coeur ne s´arretât.

Mais cette force divine, qui vient pour celui qui sait la voir , a illuminé mon chemin et m´a fait dresser la tête. C´est cette force  qui est dans le mystère de la vie et de la mort, dans le solei qui brille et nous illumine, et que mes petits chiens recherchent pour se chauffer. Cette force qu´ils ressentent, et que beaucoup d´êtres humains ne sont pas capables de percevoir. C´est elle, que ,chaque matin,  je ressentais sur ma peau, ayant passé une nuit blanche ou non.  Et j`ai mené ma mission jusqu`à la fin.

Le jour ou ma mère est morte, je l´ai emmenée à l´hôpital, dans mon auto,  agonisante , assise à côté de moi. Je savais  que c´était la fin. Je suis arrivée em  klaxonnant. On l´a immédiatement  menée,  je ne sais pas où. Mais avant qu´on ne  la menât, j´ai enlevé  l´alliance de son doigt. L´alliance que mon père avait mis dans sa main droite, à quatorze ans, et qui m´accompagne chaque jour de ma vie.  Ma soeur et moi, nous sommes restées dans le hall,  attendant  ce qui arriverait ou était déjà arrivé.  Et quand je suis sortie de l´hôpital, après la fatale nouvelle, j´ai regardé le ciel et j´ai vu, confondus à mes  larmes, des amas de nuages , qui s´amoncelaient comme des enfants qui jouaient . J´ ai rappellé une vieille histoire qu´elle me racontait toujours , des successives Coralies,  toujours habillées  en blanc et qui mouraient encore enfants. Ça s´était passé dans son adolescence. Prise d´une conviction divine,  j´ai ressenti que Dieu m´envoyait un message.  Qui le sait?  Peut-être c´étaient elles qui était venues la prendre.

Puis, la funéraire,  mais il y avait quelques minutes  elle était encore vivante ! Ou, alors,  ce n´était qu´une impression? Je suis rentrée, épuisée.  Dans la salle sombre et silencieuse , j´ai ressenti mon corps courber. Et  j´ai prié pour  Celui que je savais être là. Je suis sortie dans le balcon et  la vie a pénetré  en moi. Pendant ces années de souffrance , j´avais appris a percevoir Dieu.  J ´ai  parcouru  le couloir en allumant les lumières,  et d´un coup , je suis entrée dans sa chambre.  Le vieux fauteuil, où on l´ asseyait  était là . Je m´y suis assise . En bas, le petit coussin pour les pieds.  J´ai fermé les yeux et des milliers de souvenirs de ma première enfance  me sont venus à la mémoire. C´était comme un carroussel de mon passé, le plus lointain, qui tournait  dans ma tête épuisée. Des rues mal illuminées où des enfants jouaient la marelle, des fêtes de juin, froid, le jour où je me suis coupé le menton, et les  Soeurs de Saint Vicent-de-Paul, avec leurs énomes chapeaux , glissant dans les couloirs. Soudain, j´ai ouvert les yeux et ,sur la petite table, j´ai vu ses médicaments,  que je laissais toujours organisés dans un petit pot. Alors, des larmes ont coulé sur mon visage. Mais je ressentais une grande paix. J´ai décidé de prendre un bain, et j´ai laissé l´eau couler sur ma tête et mon corps. Eau, vie! J´ai respiré profondément, remplissant d´air mes poumons. La vie!  J´avais compris, finalement! Comme l´eau qui avait rafraîchi mon corps, il y avait une sécheresse interne. J´étais assoiffée! Sur mon corps mouillé, j´ai mis une chemise et j´ai pris le téléphone pour avertir quelques amis et familiers à Porto Alegre.

Et il y aurait encore les funérailles ! Des amis ou ceux  qui venaient par devoir! Je devrai voir son corps mort, inerte, ses belles mains,  qui avaient crée tant de belles choses, croisées sur la poitrine. Je baiserais son visage gelé. Et  il fallait encore avertir mon frère! Je ne rappelle plus comment j´ai fait. Mais je me rappelle l´avoir  emmené en  auto  au cimetière. Il ne disait rien, mais je savais qu´il souffrait énormement.  Mon amie, Many, est arrivée peu après  et m´a  emmenée pour me reposer un peu dans une chambre. J´étais profondément abbatue! Pourtant, quelque chose au-dedans de moi, m´assurait qu´elle , finalement , était heureuse! Soudain, un énorme cafard , près de ma tête, m´a fait faire un saut, retournant dans la grande salle.

Alors, j´ai décidé d´aller chez moi. J´avais besoin de quelques documents. Le jour commençait à pointer. Many, mon  amie dans le bonheur ou le malheur, m´a préparée  une bouille que j´ai engloutie  automatiquement. Alors, j´ai regardé le soleil qui commençait a avaler la nuit et j´ai ressenti bien au-dedans de moi-même que toute cette beauté des couleurs du jour qui se levait était une preuve de l´existence de Dieu. Ainsi que la lune qui avait illuminé ma triste nuit.  Et cete splendeur m´ assurait que tout venait de Lui. Je le savais!

Aujourd´hui, après tant d´années  écoulées, je répète  Fernando Pessoa “ Accorde-moi de l´âme pour te servir et de l´âme pour t´aimer. Accorde –moi l´ acuité pour te voir toujours dans le ciel et la terre.” Et c´est cela que j´ai ressenti,  à sa vue , morte , rigide , dans ce cercueil . Je savais , et ce ciel resplendiscent, m´a paru un signe.  J´ai vu mon amie Sônia, assise sur un banc, à côté de mon frère, lui tenant caressement la main. Ils sont restés là longtemps, jusqu´à ce que mon pauvre  frère , que je perdrait un an et demi plus tard, eut le courage de voir sa mère morte.

Alice a été ensevelie quand le soleil se couchait déjà derrière les montagnes. Mon coeur rebondissait dans ma poitrine, je n´ai pas voulu continuer. Mère, ta rencontre avec moi est finie, comme tout finit dans la vie. Et  parodiant Fernando Pessoa;  accorde –lui que son âme puisse paraître devant toi , comme un fils qui retourne à son foyer. Mère, le sol qui sert de lit à tes dépouilles et de tous ceux que j´ai aimés et perdus, n´est jamais fréquenté  par moi. Là où tu es, et tous les autres , n´est pas la terre sèche et aride. Ta demeure est  au-delà  de moi et de tous ceux qui iront après. La demeure de mon  corps , consommé par la crémation, devra être le chemin du vent. Mes cendres trouveront le chemin le plus élevé , qui puisse presque toucher le ciel. Lá haut, je verai toute ton oeuvre , Seigneur, et pourrai plus que jamais m´émerveiller de toute ta beauté.


“Seigneur , protège-moi , appuie-moi. Accorde-moi que je me remette à toi. Seigneur , libère-moi de moi.”