QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A sonoterapia de DETRAN e outras brasilidades

Hoje quero falar de algumas coisas que tenho visto neste país, que dizem ser abençoado por Deus.
Primeiro discorro sobre a renovação de minha carteira de motorista. Antiga. Nem ouso dizer quando tirei a primeira. Digamos que eu era muito, muito jovem. Quase uma criança. E agora, para renovar, sou obrigada a fazer um tal curso de direção defensiva e ainda de alguma outra coisa. Quinze horas! Lamento não haver nascido trinta anos mais tarde! Mas o quê fazer? Percorro as auto-escolas e, afinal, encontro uma que dá um curso intensivo. Quinze horas em dois dias! Ricardo, que também é daquela geração que aplaudiu Woodstock, resolve me acompanhar, ainda que sua renovação seja em setembro. Solidariedade inestimável. Já na véspera, à noite, nossa cadelinha, Tila, foi devidamente exportada para a casa de uma amiguinha, E assim partimos às sete e meia da manhã de uma sexta-feira para uma dupla jornada, que teria seqüência no sábado.
Quando saímos, eu estava agitadíssima, já imaginando o que seriam aquelas horas de fantástica excitação naquele encontro de velhos condutores! E lá estavam nossos colegas, coroas como nós, alguns mais velhos, outros mais jovens, mas todos maiores de quarenta e cinco. Havia policiais, médicos, caminhoneiros, donas-de-casa, comerciantes. Já de cara fomos informados pelo proprietário que o curso não servia para nada, que era uma invenção de burocratas em Brasília, que não precisávamos anotar nada e que estávamos de antemão aprovados, já que não haveria prova. Apresentou-nos o “professor”, seu filho, que nos olhava com cara de sono. E a “aula” começou. A cada hora tínhamos que provar presença com a impressão digital- claro, senão pulávamos todos fora. Marcávamos entrada – saída- entrada- saída. Um milhão de vezes. Mas, afinal aquilo servia para nos acordar e também o “professor”. Entre uma soneca e outra, eu abria os olhos e o via de costas, olhando o quadro e também dormindo. Depois, tomava um golinho de água, nos olhava sonolentamente: “Bem, quando houver atropelamento,...” Acordamos quando falou em respiração boca-a-boca. Então é preciso esperar passar a gripe suína!Tomara que eu não atropele ninguém! Contei que já havia sido atropelada duas vezes, sendo que uma para salvar minha cadelinha. Proporcionei um descanso no cochilo geral. Todos riram. Afinal contribui em alguma coisa. E também havia o lanchinho de manhã e à tarde, que esperávamos avidamente.
Mas o pior foi depois do almoço. Sono incontrolável. Houve gente que despencou por cima do vizinho. Ricardo tinha medo de roncar e quis incumbir-me de vigiá-lo. Recusei, já que eu também estaria ferrada no sono. Tentei ler, mas foi pior, o livro despencava, desmarcava a página, e eu tinha que me abaixar para apanhá-lo, o que, naquelas alturas, constituía perigo, já que, com reflexos adormecidos, sempre batia com a cabeça nas costas da cadeira à minha frente e assustava o colega, que, é claro, também dormia. Resolvi colocar óculos escuros e pensei que sentada na última fila, com a cabeça encostada na parede, poderia dormir mais tranqüila. Mas não adiantou por que a cabeça despencava. Por vezes, um silêncio profundo se estabelecia. Dormíamos todos. E assim continuamos até as seis horas da tarde. Creio que todos, como Ricardo e eu, chegaram em casa aos pedaços. Comemos alguma coisa e fomos dormir... de novo. Para recomeçar no dia seguinte, que o professor nos disse que seria muito mais interessante!!!! Será que foi?
Nosso consolo foi na noite de sábado ter ido jantar no nosso restaurante japonês preferido, e sentir-se exatamente como um passarinho que reconquistou a liberdade.
E por falar em liberdade, li há poucos dias que em 1966, uma escolinha primária de Curitiba foi fechada, acusada pelos agentes da ditadura de propagar idéias marxistas para as criancinhas. As professoras foram condenadas, duas conseguiram escapar e uma cumpriu pena de mais de um ano. As ditaduras são realmente burras, ridículas e aterrorizantes. Sejam de direita ou de esquerda. Tenho certeza de que coisas assim acontecem em Cuba, Coréia do Norte, Miamar, etc. E por falar em ditaduras, estamos assistindo a implantação de várias, aqui, vizinhas. E com o aplauso discreto, mas não tanto, do governo Lula. Afinal, será que ninguém se habilita a dar cabo do Chávez? Francamente, jamais pensei em aplaudir um golpe, mas aplaudo, sem medo de NÃO ser politicamente correta, o que houve em Honduras. Afinal, por que apoiar em novo Chávez?
E o bate-boca asqueroso no Senado, até com a ressurreição nacional de Collor? E o Renan, o Sarney e toda esta imundice? E o bate-boca de comadres da Dilma e da outra senhora que não me lembro como se chama: Disse /Não disse/Disse/ Não disse... Aliás, tendo em vista as mentiras já pregadas por dona Dilma em relação ao seu currículo acadêmico, acredito piamente na outra. Enfim, juntando tudo, desde a ditadura até hoje, que, afinal, é o Brasil que eu presenciei – incluindo o meu surrealista curso de direção – tenho o direito, e até a obrigação de perguntar: será que este país tem jeito?
Alô, lulistas renitentes. Eu também já acreditei no homem, votei nele muitas vezes, até levei uma paulada na cara de uma colorida, mas tenho a coragem de dizer que errei. Vocês não acham que ele chegou ao fundo do fosso, beijando as mãos de Jáder Barbalho, abraçando Collor, aliando-se a Renan, e defendendo Sarney como um brasileiro superior aos demais? Será que algum deles, incluindo o chefe, se compadece daquelas crianças que catam lixo em Maceió, sendo que uma morreu atropelada por uma máquina, quando dormia exausta sobre um monte de imundices? E também pelas outras que se espalham pelo Brasil afora? Será que não mereciam melhor sorte, ainda que não sejam, como Sarney, brasileiros de melhor estirpe?
E para terminar com chave de ouro esta nossa pequena amostra de brasilidade, não podemos deixar de lado aquela frase inesquecível, expelida por Renan num desses dias memoráveis do Senado. Dizia o indigitado referindo à oposição: “Minoria com complexo de maioria.” Repetiu-a várias vezes, encantado com própria genialidade. Frase de uma profundeza com condiz com o momento e com seu autor. Estou até agora embasbacada. Repito para mim mesma a toda instante, para jamais esquecê-la “Minoria com complexo de maioria.” Viva o Renan!

Um comentário:

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

Gatinha, adorei o teu relato. A sonoterapia do Detran, pelo menos, poupou-nos de algumas horas de noticiário, embora tenha confirmado que o País foi nivelado bem por baixo pelos políticos corruptos, pelos causídicos do sistema e pelos burocratas de plantão. Ninguém precisa estudar! Ninguém precisa ser cobrado por nada. O que vale é o ritual da liturgia cartorial. O fim da picada do país (eterno) do futuro! O País da "política alimentar" de que falava Oliveira Vianna, integrado pelo "juíz nosso" e pelo "delegado nosso". Tudo em família. É o Patrimonialismo na sua versão mais troglodita.