QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quinta-feira, 21 de março de 2013

Morreu o Coronel

Herança sombria”, “ A maldição da múmia” , “A morte do caudilho”, etc, etc. Tudo é verdade. Saiu nas revistas, em manchetes garrafais. Tudo que havia para se conhecer do coronel com suas idéias bolivarianas já foi lido, analisado, revisado pelos especialistas. A mim não cabe dizer mais quase nada. Mas, convenhamos, o que há de novo em  morrer?  Morreremos todos, como disse Caetano “...de susto, de bala ou vício”. Morre-se de qualquer coisa. Conheci uma mulher que morreu falando ao telefone, um homem que morreu dançando ( que bonita morte!) Chavez  morreu de câncer como milhões de pessoas cada dia no mundo inteiro. Minha irmã morreu de câncer, minha avó paterna, amigos, amigas. Para mim, com a morte do coronel o mundo não ficou pior, ao contrário, acho que ficou um pouquinho melhor. Para seus afilhados , Carreras, Kichner, Morales, Mujica, Ortega e, principalmente, a gerontocracia cubana formada pelos irmãos Castro, esta morte tem significado especial. Para os Castros representa uma dúvida cruel, já que privados do dinheiro soviético, se abasteceram do petróleo venezuelano. E não podem contar com os outros, pobres coitados. Lula, um grande amigo, anda se debatendo com uma incipiente, mas visível, inflação. E ainda tem outros problemas internos, como a reeleição de sua pupila.
O Coronel foi tratar-se em Cuba, com aparelhos totalmente obsoletos, alguns apelidados de “Frankstein” pois são contituídos de peças descartadas por países desenvolvidos. Não veio ao Brasil, apesar do convite do governo, para que não fosse divulgado seu verdadeiro estado de saúde. Não sinto sua morte, e acho lamentável transformá-lo em múmia, no mais descarado culto à personalidade. Está, aliás, em boa companhia: Mao, Lenin e um tal de Titov, que após a guerra, implantou o  comunismo na Bulgária. Francamente, não sei se Stalin também está mumificado. Conheci a história de Titov quando, em um curso na França, fiz amizade com Svetla, uma bela búlgara loira  de olhos azuis. Foi então que pude avaliar o que deveria ser o regime comunista. Porque sou da geração que amou Guevara, Fidel, e até aqueles gordos feiosos que governaram a União Soviética depois de Stalin. Lembro-me de detalhes do comportamento de Svetla e sinto pavor em ver um José Dirceu (ainda que seu comunismo tenha muito do capitalismo, já que está muito rico) , e muitos outros que sonham com um Brasil que chamam de “socialista”. Svetla tinha medo de todo mundo, todos podiam ser alcagüetes do regime. Gostou de ouvir uma fita de Gal Costa, e quando quis dar-lhe de presente recusou apavorada. Contei o fato a Guy, um professor de francês que morava na Bulgária, e lembro-me de como ele riu. Disse-me que se a pegassem no aeroporto com uma fita com musicas cantadas numa língua totalmente desconhecida, iriam certamente supor que se tratava de alguma mensagem secreta e subversiva. Instruiu-me também para que não lhe mandasse nada em língua portuguesa, pois teria os mesmos problemas e poderia acabar presa. Aí foi minha vez de ficar assustada. Minha colega convidou-me a ir a Sofia, dizendo-me que conheceria a múmia de Titov !!!! Sua pobreza era tão extrema que notei que em todas as refeições jogava dentro da sacola pedaços de pão. Um dia não me contive e perguntei-lhe porque fazia isto, ao que respondeu: “E que devo esperar no aeroporto em Paris durante bastante tempo e assim como o pão e tomo água”. Pobre Svetla de quem fora confiscado o apartamento da família, que tinha medo e nenhuma esperança.
Acho que temos motivos para temer. Ao ver a população desesperada com a morte do coronel, e mesmo em ocasiões anteriores, achei-os muito parecidos com os lulistas que ovacionam o chefe. Lideres carismáticos, uma oposição fraca , e um povo pouco esclarecido – os esclarecidos ou acham que é bacana ser da esquerda radical , ou querem o regime totalitário ou são simplesmente vigaristas em busca de dinheiro fácil, o que é o mais comum -  são os ingredientes ideais para a instalação de regimes autoritários ou totalitários. Da mesma forma que na minha juventude odiei as ditaduras de direita que se espalhavam pela America Latina, temo sinceramente o que pode acontecer num futuro não distante. Nossos países não têm tradição democrática. O que vivemos agora no Brasil não foi conquista de guerrilheiros, mas a vitória  de uma parcela mais esclarecida do povo diante de um regime apodrecido.
E prestem atenção, se contarmos quantos anos tivemos de democracia fica muito pouco. O Antigo Regime, após o Império, não tinha nada de democrático, com o voto aberto, perseguições, eleições marcadas, impedimento das mulheres ao voto. A Revolução de 30, que prometia democracia, acabou por implantar o Estado Novo, ditadura getulista, em que morreram muitos opositores. Após a queda de Getúlio e um precioso período de cerca  de 19 anos de democracia, migramos para uma nova ditadura, comandada pelos militares. Ou seja, foram 20 anos de democracia. Hoje já contamos mais 28 anos de liberdade, mas será que não a estamos pondo em risco ?
Meus heróis não morreram de overdose, morreram quando descobri a verdade.

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