QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Bonaparte, Sarko... e seus tristes amores.

Ou “A História se repete como farsa”

Karl Marx citando Auguste Comte

Bonaparte era feioso. Sarko também é. Bonaparte era pequeno. Sarko também é. Bonaparte tinha origem não-francesa. Sarko idem. Bonaparte decidiu tirar a França do caos em que havia mergulhado após a Revolução. E depois de colocar ordem na casa, resolveu conquistar, senão o mundo pelo menos a Europa, o que não é pouco. E, aos 35 anos, coroou-se imperador. Sarko não aspira a tanto, mas também quer fazer alguma coisa acontecer numa França prestes a sair do circuito internacional. Bonaparte era um gênio, Sarko nem tanto. Mas é brilhante, e tem um claro projeto. Bonaparte foi vencido pelo heroísmo do povo russo e pelo inverno, o que depois também aconteceu ao exército nazista. Para Sarko, os tempos são outros, não pretende conquistar nenhum país, lutar contra um inimigo, mas tem inimigos internos poderosos. Bonaparte ficou na História mundial e só é menos conhecido que Jesus Cristo. Sarko, quem sabe, ficará na história francesa como figura inovadora, depois de tantos anos de absoluta mediocridade.
Mas tem um outro lado, que Sarko, num mundo globalizado, expõe despudoradamente. Bonaparte e Sarko podem ser considerados infelizes nos seus amores. O general francês amou profundamente sua Josefina. Conheceu-a viúva de um outro general, guilhotinado na Revolução Francesa. Tinha um casal de filhos, era mais velha do que ele, não era bela e consta que tinha maus dentes. Mas o pequeno grande Bonaparte sucumbiu e de tudo fez para tornar-se seu amante. Foi motivo de chacota da própria amada entre seus amigos, e contam que ela lia em voz alta, rindo, suas cartas transbordantes de amor. Ao fim de algum tempo, quando o sucesso começava a bafeja-lo, decidiu aceitar sua proposta de casamento. E acabou sendo coroada imperatriz de França, pelo próprio marido, alguns anos depois. Era um homem extraordinário, muito além da capacidade de compreensão de sua mulher, admirado até por adversários, como o escritor Renée de Chateaubriand, que o descrevia como “... o mais poderoso sopro de vida humana que já havia passado pela face da terra”.Dizem que Josefina o traiu durante muito tempo, mas que ao ter que se divorciar por não conseguir engravidar sentiu grande dor. Continuou vivendo na sua Malmaison, próxima a Paris, com uma belíssima pensão. Contam as más línguas que Maria Luíza da Áustria, sua segunda esposa, também o traia. Mas, afinal, o homem vivia fora de casa!
E Sarko? Apaixonado por sua bela Cécile, que vem de abandoná-lo pela segunda vez, procurou sua Maria Luíza, que se chama Carla Bruni. A razão desta imediata busca não foi a célebre “raison d`État”, mas uma terrível “dor de cotovelo”, ou talvez uma dor mais acima, em ambos os lados da cabeça. Sarko não foi vítima da globalização, mas se serviu dela infantilmente, confundindo o público com o privado e desprestigiando-se diante de uma população que jamais quis cogitar da vida privada de seus governantes E o mundo inteiro assistiu. Justo ele que tanto fez e tem feito, cada dia, para tornar-se uma figura internacional, colocando a França no lugar em que já esteve, bem antes da galeria de governos e governantes medíocres. Ele que encarna o que se espera de modernização de uma França coberta de poeira de um passado que já não pode repercutir no presente. Erro imperdoável que já se faz sentir na queda de sete pontos na sua aceitação.
Mas afinal, Sarko não é “... o poderoso sopro de vida humana...”, o grande Bonaparte. De qualquer forma, quem sabe, esteja aí, nas desventuras amorosas de ambos, alguma coisa misteriosa, que não se consegue explicar, que parece coïncidência, mas que é quase uma predestinação, um aviso. Quem sabe Sarko, mal-amado como o grande Bonaparte, uma vez superada a crise adolescente, não vá exercer um grande papel na história da França? Quem sabe, ao final de seu governo ele tenha conseguido desbloquear a França e coloca-la nos trilhos da modernidade? Afinal não há um velho ditado que diz: “Feliz no jogo, infeliz no amor”? Só resta saber se Carla Bruni, que já disse ser fiel a si mesma, será uma nova Maria Luíza da Áustria. Mas Carlas, Céciles, Josefinas, Marias são, ou serão, lápides. Resta-nos torcer para que Sarko repouse algum dia, seguramente não nos Invalides, onde repousa o grande Bonaparte, mas quem sabe num belo mausoléu ao estilo daquele de JK em Brasília.
JK, que, um dia, sonhou em fazer deste país uma grande nação.

Um comentário:

Nazaré Laroca disse...

Oi, Maria Lúcia!

Parabéns pelo texto leve e charmoso!
Você está cada vez melhor! :)
Beijos,
Nazaré