QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



Seguidores

terça-feira, 6 de maio de 2008

“O mundo como vontade e representação”

Mãe coruja olha o gavião e implora-lhe: “Por favor, não devore meus filhinhos!” “Mas então, dona Coruja, como vou identifica-los? Minha natureza é de devorar presas fracas!” Ao que responde a mãe: “São lindos! Tenho certeza de que vai reconhece-los e encantar-se” E o gavião, no seu vôo à procura de presa, encontra um ninho, onde se acotovelam bichinhos horrendos: “Estes não podem ser os filhos de Dona Coruja!”. Ao voltar, a mãe desespera-se encontrando o ninho vazio. Procura, inconsolável, o gavião, chora, lamenta-se: “Como foi capaz de fazer isto?” E o gavião defende-se: “Mas dona Coruja, a senhora havia me dito que eram lindos!”.
“O mundo como vontade e representação” é uma grande obra de Arthur Schopenhauer, filósofo alemão (1788-1860). Foi publicada em 1818, e consta de quatro volumes. Confesso que não li, mas pretendo faze-lo logo que outras tarefas forem cumpridas. Interessei-me desde o título, e minha curiosidade ficou maior ainda ao saber da primeira frase com que Schopenhauer inicia sua obra filosófica: “O mundo é minha representação”.
Dona Coruja, se houvesse sido um pouquinho mais objetiva, teria salvado as vidas dos filhotes. Dizia um velho amigo, ateu, que somente um Ser seria totalmente objetivo, e este Ser seria Deus. E completava: “Como Deus não existe, a ninguém esta REALIDADE é accessível”.Para entendermos o mundo que nos cerca, o organizamos, estabelecemos valores, que são quase sempre culturais. Mas também partimos de nossa própria experiência. Resolvi falar deste princípio básico universal que rege nossas vidas, lembrando-me de uma história a que assisti há muito tempo. Um amigo muito lindo havia, segundo me contaram, encontrado uma noiva igualmente linda, modelo fotográfico, de carreira bem sucedida. Acreditei, não havia porque duvidar. Enfim, algum tempo depois, acabei conhecendo a garota. E fiz uma constatação: aqueles que a julgaram linda, modelo fotográfico, com uma bela carreira, simplesmente não a viram, mas sim “a namorada do rapaz lindão”, conseqüentemente, ela também lindona. Aos poucos a história foi sendo desmontada, até que do início não havia sobrado quase nada.
A cada momento, estamos criando sobre o mundo que nos cerca, pessoas ou objetos, alguma representação, uma imagem que obedeça a nossos valores culturais ou pessoais, às nossas expectativas, ou vontade. E ainda, estamos, permanentemente, criando alguma representação de nós mesmos. Há momentos em que somos poderosos, corajosos, transgressores, ou obedientes. Há momentos em que montamos uma imagem de vítimas. E, afinal, quem somos de fato? Os que têm poder usam estas múltiplas representações para manipular. Quando Francisco Weffort compara Lula à “metamorfose ambulante”, está expondo uma estratégia de que afinal todos nos servimos. O que choca no Presidente é que esta estratégia não obedece a nenhum princípio ético ou estético. O homem é um dia protetor do MST, e no dia seguinte abraça Blairo Maggi, Governador do Mato Grosso e maior produtor de soja do mundo, já apelidado de “Estuprador da Floresta” Ao lado do “estuprador”, Lula fala mal do Conselho Missionário Indigenista, da Pastoral da Terra, até ontem seus aliados. E é claro dos ecologistas. Um dia acha normal a “bolsa ditadura” e no outro elogia Médici. Durante anos, Lula foi o operário honesto, libertário, corajoso. Acreditamos nessa representação, não tínhamos porque duvidar. E como na história da noiva de meu amigo, descobrimos uma outra “realidade”. Mas afinal, quem é o verdadeiro Lula, ou a verdadeira noiva? Não sabemos. O que sabemos, seguramente, é que aquilo em que acreditávamos era uma imagem montada por eles, ou por outros. Quem sabe, no caso de Lula, por nós mesmos, ávidos por respirar liberdade? Se não temos acesso à realidade substancial que nos cerca, o que nos resta é optar pelo consenso, referente à parte mais esclarecida de nosso universo cultural. Hoje sabemos, que pena, que Lula não é o operário libertário em que acreditávamos, apesar de sua popularidade. E nem a noiva do bonitão é tão lindona e bem sucedida.

Nenhum comentário: