QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Isabela e todos os outros.

O assassinato de Isabela nos fez esquecer a menina torturada de Goiânia. Como já havíamos esquecido o menino estraçalhado, arrastado pelos bandidos, como já havíamos esquecido o brutal assassinato do casal de namorados em São Paulo (aliás, alguém ainda se lembra?), como já havíamos esquecido o garoto nissei, morto por funcionários de seu pai, que, aliás, de tudo faz para que jamais esqueçamos a tragédia. E por que será que nos esquecemos tão facilmente? Porque um caso terrível atropela outro, que atropela outro, e outro? Nossa memória, simplesmente, não consegue armazenar tudo? Não quero dizer que em outros países não haja violência. O que nos choca por aqui é a banalização, com os “di menor” sem nenhuma punição e livres aos 21 anos de qualquer mancha na sua ficha, com assassinos pagando as vidas que tiraram com cestas básicas, e até com lições de cidadania. Há cerca de uma semana, um bêbado matou uma família inteira, mãe e dois filhos, negou-se a fazer o teste do bafômetro, e saiu livre. Afinal são seus direitos de cidadão! Ficou para o pai a dor indescritível da total perda. Soube que alguns dias depois, o bandido foi preso. Babaca, devia ter fugido e logo seria esquecido. Mas também sei que logo será liberado. Outro, aliás, com antecedentes criminais como traficante, durante um “pega”, matou três ou quatro mulheres. Como não foi preso em flagrante, pagou fiança e foi para casa. Alguns dias depois, o delinqüente foi preso, mas já está solto novamente, beneficiado por algum destes instrumentos jurídicos feitos para favorecer a bandidagem. E estou certa que vai pagar sua pena com cestas básicas.
O assassinato de Isabela nos choca porque, ao que tudo leva a crer, foi executado pelo próprio pai. Ou pelo menos foi ele que a jogou pela janela. E é gente que pertence à classe média, onde não se supunha – quanta inocência- que não ocorresse este tipo de monstruosidade. Isabelas existem aos montes, nas camadas mais pobres, vítimas do alcoolismo, das drogas, do abandono. E quase sempre são os próprios pais os responsáveis. Ouvimos nos noticiários, lemos nos jornais, mas toda esta podridão tornou-se corriqueira. Talvez, quem sabe, por algum mecanismo psicológico, esqueçamos, porque não há como viver no meio de tanta sujeira. Como suportar a imundice nossa de cada dia se armazenarmos tanta coisa? E ainda há todo tipo de safadeza política, onde se acumulam os casos de bandidagem e só uns poucos (dá até uma pontinha de pena do Bejani!) são penalizados. Dizem que fomos mal colonizados, que aos portugueses jamais ocorreu formarem um verdadeiro país, mas que estavam somente preocupados com nossas riquezas. Assim, não elaboramos uma ética do trabalho, do progresso, e nem da justiça. Mas agora é tarde, não podemos voltar no tempo, escolher outros colonizadores, etc. O que podemos é escolher melhores governantes. Sentirmo-nos parte efetiva de uma sociedade. Se fomos capazes de levar adiante movimentos como “Diretas Já” e “Fora Collor” por que não podemos agora tentar mudar alguma coisa? Exigindo mudanças no Código Penal, no mal-fadado Estatuto do Menor e do Adolescente, e em tantas e tantas outras coisas? Nós, que fazemos parte da camada esclarecida da população?
Por que, se não for possível mudar o que vemos todos os dias, que tal repetirmos aquela antiga piada do tempo da ditadura: “Por favor, o último a sair, apague as luzes do aeroporto”.

2 comentários:

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

Banalização da vida e da morte. Vivemos numa grande Macondo, modorrenta, taciturna, preguiçosa. O tempo não progride: dá voltas em redor. É a instância mítica da repetição, "sine fine". Como quebrar essa situação de alienação em que vivemos na América Latina? Só há um caminho: "Sapere aude!", como dizia o gande filósofo Immanuel Kant: "Tem coragem para pensar!" Só o uso diuturno, persistente, da razão nos tirará do buraco. É difícil, para as Nações, fazer isso, como também é empresa laboriosa para as pessoas, fazê-lo. É tão cômodo não pensar! Mas somente a crítica constante, como gota dágua a cair, durante centenas de anos, sobre a rocha, fará com que amadureçamos e tenhamos, por fim, nas próximas gerações, uma sociedade mais humana. Escrever no teu blog já é, para ti, para todos nós, um começo. Avante!

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

Gostei desta matéria tua, como também da referente à tua avó, corajosa predecessora da emancipação feminina. Beijos.