QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Meu porteiro e os milhões da VarigLog

Meu porteiro chama-se Bruno. Tem cerca de 21 anos. Trabalha durante todo o dia e estuda à noite. É claro que Bruno não conhece nada do caso Varig -VarigLog. Acho que nunca ouviu falar nisso. Bruno é um dos milhões de brasileiros que, provavelmente, votou no Lula – como, aliás, eu mesma, excetuando a última eleição – e também, muito provavelmente, acredita no homem. Deve acha-lo um semelhante, ouvindo Lula dizer aquele mundo de besteiras, de palavras chulas (Bruno, pelo menos diante de mim, jamais disse coisas inconvenientes, enquanto o chefe as diz diante de toda a nação). E ainda vê todo dia aquela cara do chefe, de pobre coitado.
Mas, afinal, o que tem a ver o caso da Varig com meu porteiro? Confesso que tive que ler mais de uma vez (agora mesmo estou relendo) a reportagem onde se conta toda a transação obscura da venda da Varig e da VarigLog. Como tudo que é obscuro, a história é cheia de meandros, de atalhos, de personagens que parecem ter saído de um romance policial, daqueles que a gente comprava em bancas de jornal. Tem um chinês, que é nascido lá, mas viveu aqui e agora é testa de ferro de um grupo americano. Um milionário com cara de bocó, que ninguém pode acreditar que tenha toda a fortuna declarada. Nem Denise Abreu acreditou nisso. Tem umas mulheres feiosas, com cara e roupas caipiras, bem ao estilo dona Marisa, e um advogado com pinta de metalúrgico – nada contra a categoria! Até aí, nada de extraordinário, sobretudo para nós, acostumados a assistir aos mais inusitados espetáculos de falta de ética e de estética. Mas o que é de dar medo é que, ao final da briga pela compra da Varig, venceu a Gol, cujo advogado, Roberto Teixeira, é compadre do chefão. Ou seja, venceu a companhia que oferecia 418 milhões de dólares a menos do que a TAM. Por que será? E para quem terá ficado toda esta dinheirama, já que não somos tão idiotas em acreditar em jogo limpo?
Falei tudo isto para contar minha história com Bruno, um pobre brasileiro, que trabalha o dia inteiro e estuda à noite, na esperança de melhorar sua renda, que deve ser pouco maior que um salário mínimo. “Bruno, você já imaginou o que significam 418 milhões de DOLARES?” – perguntei-lhe. Foi como se eu tivesse feito uma pergunta em aramaico. Coitadinho do Bruno! “O que a Senhora disse?” Repeti a pergunta. “Sabe, eu não consigo imaginar nem um milhão de reais!” - “Pois bem, Bruno, alguém, não sei quem, ou quem(s), papou 418 milhões de Dólares”. A princípio, tentei estimular o garoto a imaginar quantias elevadas. Estabelecemos uma brincadeira. - “E então, Bruno, já conseguiu?” E ele com aquele jeitão mineiro: - “Num dá nem pra começar”. Acrescentei à nossa brincadeira um processo pedagógico, que já dura alguns dias. - “Então, vamos lá, vai ser aos poucos. Vamos começar com os primeiros números: 4, por exemplo. O que você compra com 4 reais?” “E com 4 dólares?” Aí, ele já se complica. Dou o valor em moeda americana. - “Tudo isso? Aí eu já comprava um queijinho, salame, e manteiga”. – “Não exagere Bruno, tudo está mais caro. Agora vamos acrescentar 1, e temos 41”. “É muito Bruno?”- “Nem tanto, mas já melhora muito”. - “Então pensa no que poderá comprar com 41 reais e depois com cerca de 70, já que estamos falando de dólares”. Todos os dias pergunto-lhe - “E aí, já deu para imaginar 418 milhões de dólares?” Bruno ri. Faltam-lhe alguns dentes, é um menino pobre, trabalhador.
Não quero cansa-lo, já que conheço a dureza de sua vida. Hoje, chegamos aos 418, assim, sem nenhum zero, e em reais. Talvez seja tudo que ganha por mês. Amanhã, estava pensando em converter em dólares. Não sei exatamente a cotação, mas acredito que chegue a cerca de 680 reais. Depois disso, não sei se vou conseguir ir em frente. Talvez, eu deva recomeçar e mostrar tudo em reais. E parar no primeiro zero. Mesmo porque, eu também fico meio desvairada com tantos milhões. Aí, então, ficaremos nos 4.180 reais, uma quantia que Bruno só conseguirá juntar depois de trabalhar um ano.
Nosso jogo recomeça todos os dias, quando saio para a minha ginástica. Faz frio, Bruno está encolhidinho, chegou às seis horas. - “E aí, Bruno, já consegui algum progresso?” Ele ri: - “Nada, nem meu professor conseguiu!”
Estou como Bruno, e como seu professor, não consigo imaginar esta soma, que eles conseguiram abocanhar tão facilmente!

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