QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dostoievsky, Alice e o papa-hóstia.

“Deves amar tudo o que Deus criou,
tanto o universo como o ínfimo grão de areia.
Amar a folha pequenina como também cada raio de sol.
Os animais e as plantas. Se amares todas as coisas,
atingirás o mistério divino que nelas habita e assim,
dia a dia, tua capacidade de perceber a verdade aumentará,
e a tua consciência se abrirá a um amor que abrange tudo.”
O texto não é meu. Quem me dera! É de Dostoievsky. Mas sinto-me feliz em poder dizer que é assim que sinto a presença de Deus. E duvido que haja uma verdadeira crença no sagrado que não atente para toda a criação do Criador. Quando falo com amor nos animais, quando admiro a natureza, quando olho uma florzinha, quando reparo nas estrelas, quando o perfume das flores me encanta, sinto a presença do Criador.
Foi com minha mãe que aprendi a amar a Deus desta forma. Minha mãe, que nunca ia à igreja, não comungava, não confessava. Que jamais se preocupou com Primeira Comunhão dos filhos. Nem sei se meu irmão foi batizado. Nunca ouvi falar em madrinha ou padrinho seus. No entanto, foi com esta mulher, aparentemente descrente, que aprendi a apreender Deus em toda criatura. Foi com ela que aprendi a respeitar as pessoas, fossem elas quem fossem, sem jamais discriminá-las. Talvez porque ela própria tenha sido discriminada pela sua condição de “filha natural”. Foi com ela que aprendi a amar animais e natureza, respeitando-os e rebelando-me, sem temor, contra os que não o fazem. Foi minha Alice, alheia a qualquer religião, mas profundamente imbuída da consciência da presença de Deus, que me ensinou a emocionar-me com o que diz Dostoievsky.
Certa vez, ouvi da mãe, papa-hostia, de um sujeito, também papa-hostia, que o tal fulano havia matado o gato de “estimação” da família com um ponta-pé. Motivo: supunha-se que uma certa criança houvesse se assustado com o bichano. E contava com naturalidade! Quanta maldade, quanta covardia! Imediatamente, tive a certeza que toda aquela religiosidade era falsa. Estávamos num jantar em casa de amigos comuns. Perplexa, retruquei alguma coisa, se fosse dizer o que sentia iria provocar indignação, não contra o perverso, mas contra mim. Mas deveria ter expressado meu sentimento de revolta, e desprezo. Certamente, ficaria melhor, pelo menos comigo mesma.
É por isso que digo, obrigada, mãe. Pela tua capacidade de amar, pelo teu efetivo amor a Deus. E tenho certeza de que conquistaste, lá onde estás agora, a plena capacidade de perceber a VERDADE. O mistério divino que não vemos, que se esconde por trás do que vemos, e que somente alguns são capazes de perceber.
É por isso, mãe, que tua lembrança terá sempre para mim o suave perfume das flores que tanto amavas.

Quanto a mim, me pergunto: será que não fui parceira do Demônio, não expressando o que sentia de fato diante da maldade que me contava, com tanta naturalidade, a beata?

Um comentário:

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

Gatinha, lindo o teu comentário, fico feliz em ver como a tua prosa virou poética! Aliás, é poética já há muito tempo. Contemplar Deus na natureza, nas suas obras, é uma das formas básicas do misticismo. E os que, como tua mãe, têm a capacidade de registrar essa divina presença no mundo, possuem "esprit de finesse" e, como diria Pascal, "politesse du coeur".