QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



Seguidores

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Possuídos.

Ele está nos meio de nós.

Há um filme fantástico, estrelado por Denzel Washington, intitulado “Possuídos”. Seu tema é a encarnação do Demônio em diversos indivíduos. Apodera-se de seus corpos, diverte-se penetrando naqueles que nele esbarram, leva-os a cometer atrocidades indescritíveis. Basta um simples, ligeiro toque no possuído e o Demônio já possui outro. Passeia pelos parques, pulando diabolicamente de um para outro, leva homens e mulheres comuns a cometer atrocidades indescritíveis. Seu desígnio é causar dor, morte, destruição. Diverte-se.
Há alguns anos, o Embaixador Carlos Henrique Cardim, amigo de Ricardo, meu marido, foi visitar seu mestre, Leszek Kolakovski, filósofo polonês radicado na Inglaterra, professor de Oxford. Conta Cardim que, no decorrer da conversa, perguntou-lhe se acreditava em Deus, ao que o velho mestre respondeu prontamente: “Não sei se Deus existe, mas que o Diabo existe, não há dúvida”.
Eu, não filósofa, creio na existência de Deus, mas também estou convicta da existência do Demônio. Não aquele de rabo, preto, com tridente, lançando no ar o odor fétido do enxofre. Meu Demônio parece-se mais com o do filme, e habita entre nós. Encarna em certos indivíduos, faz notar sua presença cometendo atrocidades, e certo da impunidade, sai rindo de cada um dos “bons”. Quando um pai, ajudado pela mulher, madrasta das crianças, mata, esquarteja, queima os pedaços dos cadáveres e joga no lixo o que restou, não há dúvida de que o demônio cumpriu seu desígnio de crueldade. Quando vemos uma criança ser jogada, provavelmente ainda viva, pela janela, por seu próprio pai, não podemos deixar de ver sua marca inconfundível. Quando vemos os dois monstros enforcando por divertimento o filhotinho de cachorro, temos que acreditar que ele lá está.
Quando uma nação inteira enlouquece e saúda Hitler, é para o Diabo seu momento de apoteose, sua glória. Quando Stalin faz morrer de fome milhões de camponeses, o demônio ri e esfrega as mãos. Quando Mao faz o mesmo com milhões de chineses, que glória deve sentir o Maligno! Quando Pol Pot, no Camboja, elimina milhões de pessoas inocentes, inclusive crianças, nos seus Khmers vermelhos, lá está ele novamente, triunfante. Quando assistimos, horrorizados, aos acontecimentos de 11 de setembro, sabemos que não foi em nome de Deus, isto seria totalmente impossível, mas sim mais um triunfo do Diabo. E lembrem-se de que este não é um atributo exclusivo do fanatismo islâmico, mas também da Santa Igreja Católica, com suas fogueiras purificadoras da Inquisição.
Mas, afinal, por que o mal se encarna em certos indivíduos? O filme parece, a princípio, excluir qualquer possibilidade de escolha, não importa quem pode ser “tocado”, não pelo “sagrado” mas pelo “diabólico”. Assim, ele pode passar de leve, sem causar muito dano, indo divertir-se com alguém, talvez mais “acessível”. Como acredito na liberdade com a mesma firmeza com que acredito em Deus, sendo esse traço o que nos deferência dos outros animais, e dos objetos, se somos “condenados à liberdade” como diz Sartre, a escolha do Mal, que está entre nós, é nossa opção. E o Demônio conhece nossos gostos. Não sou teóloga, nem filósofa, mas conheço a vida e as pessoas. E afirmo, com absoluta convicção, que quem escolheu fazer da dor alheia seu “projeto” deve ser definitivamente eliminado da sociedade.
Há aqueles casos que chamam de “sociopatas”, incapazes de conviver em sociedade. Dizem os doutores que se trata de indivíduos que não tiveram opção, que nasceram doentes, que não são responsáveis pelos seus crimes. Então que sejam trancafiados pelo resto da vida. Que nos diga a história do Bandido da Luz Vermelha, considerado “recuperado” pelos doutos psiquiatras forenses, e que logo ao sair cometeu outro crime. Aliás, caso semelhante ocorreu na França, provocando um sério desentendimento entre juízes e Sarkosy, nesta época, se não me engano, Ministro da Justiça. O que fazer de tipos com Champinha (?), aquele que matou com requintes de crueldade o casal de namorados em São Paulo? Dizia-me um amigo psiquiatra, a respeito de um criminoso que havia matado muitas mulheres: “Ele simplesmente queria matar”.Ou seja, nada de querer a qualquer custo justificar o crime com sofisticadas análises psiquiátricas.
E também seriam “sociopatas” tipos como Hitler, Stalin, Pol Pot, Mao, e tantos outros que passaram à História pela sua crueldade? E a mulher que torturava a menina, os torturadores da ditadura, encabeçados pelo Delegado Sergio Paranhos Fleury? E os de tantas outras ditaduras? E a babá que espancava a criança? Sociopatas ou simplesmente tipos que escolheram o mal? Confesso que não tenho elementos para levar adiante este debate. Psiquiatras, cientistas políticos, historiadores, todos teriam sua versão para tanta maldade. No entanto, uma coisa jamais poderão negar:
O Mal está entre nós, e se manifesta diante de nossos olhos. Mas quantas vezes, por comodismo ou covardia, nos calamos? Sem dúvida, desta forma, também nós escolhemos a parceria do Demônio. Não seriam seus parceiros os médicos que se calaram quando, há algum tempo atrás, os dois meninos assassinados foram param no hospital após uma surra da madrasta?
Crime: haviam tirado dois pãezinhos do armário.

Nenhum comentário: