QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Meus anos dourados

Nestes dias em que tenho estado de repouso por causa de uma gripe, tive tempo de reviver meus anos de intensa juventude, mais precisamente meus “anos dourados”. Pude trazer à minha lembrança tudo de bom e de ruim, e sentir como se estivesse vendo um filme de mim mesma. É extraordinário  como este computador que temos em nós é capaz de armazenar informação! E, neste dia quente e ensolarado de verão, não me interessa o que não foi bom, quero fazer ressurgir a adolescente que vivia seus grandes e inesquecíveis momentos. É verdade que àqueles anos dourados sucederam os de chumbo, mas não foram estes os mais significativos. Naqueles longínquos anos de meu início de adolescência ninguém imaginava o que viria depois. E ao rever toda minha vida, conclui que jamais fui tão feliz.
Foi, assim, meio sem esperar, mas já imaginando como deveria ser bom, que descobri meu primeiro e único grande amor. Depois, tantos passaram pela minha vida! Mas hoje, repetindo a velha canção que minha mãe sempre ouvia eu poderia dizer “sua imagem permanece imaculada, em minha retina cansada... Lábios que beijei, mãos que afaguei....” Inesquecíveis momentos de êxtase, como poderão ser relembrados sem emoção? A descoberta deste sentimento superior trouxe-me uma felicidade indescritível. Eu tinha quatorze anos e ele dezessete. Era aluno interno do colégio onde fui estudar, voltando do Rio. Vinha do Triângulo Mineiro, de Araguari. Fiquei eufórica quando ele pediu, através de uma amiga comum, para “falar comigo”. Era assim que se fazia a abordagem naquele tempo. Vivemos um amor puro, com o primeiro aperto caloroso de mãos, o primeiro beijo, o primeiro desejo, nunca realizado, mas sempre sonhado. Lembro-me das partidas de futebol que ia assistir, ainda que não entendesse nada, e não gostasse do jogo, mas ele estava lá, na equipe do colégio. Eu vestia camisas de meu pai, acho que era moda, sobre calças “três quartos”, que iam até o meio da canela, bem ajustadas, com um arremate xadrez. Era minha mãe quem costurava para mim e Teresa, e gostava de nos ver bonitas. E quando eu gostava, herdava roupas de minha irmã, dez anos mais velha do que eu. Vaidosa e me achando linda, eu estava sempre inventando alguma coisa nova. E foi assim que no meu aniversário de quatorze anos apareci de cabelo vermelho cor de fogo. E hoje vejo que tive pais muito liberais, pois naquele tempo que garota ousaria tal travessura? E ainda posso ouvir minha mãe comentando, à moda gaúcha, um desfile do colégio de que participei: “Bah! De longe se via aquela fogueira!”
Minha linda Alice, que me deixava dar uma fugidinha, nas festas juninas do colégio, para uma rua mais escurinha que ficava atrás do campo. Ah, inesquecíveis festas juninas, que não se vêem mais! O campo onde se realizavam as festas com pau-de-sebo, barraquinhas e fogueira era também o lugar onde as moças tinham aulas de ginástica. Ficava defronte ao colégio e nos preocupávamos em parecer bem com nossos lamentáveis calções bufantes, que mais pareciam indumentária dos homens da Renascença. No entanto, colégio protestante, americano, era muito mais liberal que os colégios católicos, só de meninas e onde jamais pernas eram expostas. Sabíamos que éramos observadas pelos internos que se aglomeravam, escondendo-se ao máximo, por trás das janelas. Alguns mais ousados chegavam até a sacada central do prédio. Eu tinha grande preocupação em apresentar-me bem, tentando empurrar para cima o horrível calção bufante para que ele, que eu sabia que me observava, visse minhas pernas. Terrível audácia! E também havia os “arrasta-pés”, onde rapazes e mocinhas dançavam ao som da orquestra de Paul Mauriat ou Ray Connif. Hoje, pensando bem, acho que foram estas festas que, afinal, nos afastaram. É que sempre amei a vida, a festa, a dança e ele, protestante, não sabia sequer dançar. E eu era muito jovem! Vivia dramas em casa com os problemas psíquicos de meu irmão. Precisava me divertir. Assim dividida, acabei indo a “arrasta-pés” sozinha, mas sem nunca ter pensado em outro. Fui cantada, mas nunca me interessei por ninguém. No entanto, pouco a pouco nossa relação foi esfriando, até acabar, nunca soube como. Esvaiu-se. Um ano depois, ele foi embora, estudar medicina em Ribeirão Preto, procurou-me pedindo emprestado um livro de ensino de francês. Não me falou em reatar e eu não ousei tocar no assunto. E nunca mais nos vimos. Não me lembro como me devolveu.
Depois vieram os anos de chumbo e tornei-me esquerdista. Mas jamais esqueci meus anos dourados, nem o homem que me despertou para o amor. Nunca mais falei dele, mas o guardei no fundo do meu coração. Hoje vivo meus anos a caminho da velhice. Não abandonei a vaidade, já fiz plástica, o cabelo vermelho ainda me seduz. Hoje, quando não me sobram tantos anos de vida, faço ginástica diariamente com roupas charmosas, cheias de glamour. O velho calção bufante ficou no passado, mas não foi esquecido. Meu grande amor morreu há muitos anos, e fiquei sabendo pelo Google. Minha família partiu e foi substituída por outra. Mas continuo amando a vida, e sou feliz nestes anos tão vividos. 
E sempre repito que, quando chegar minha hora, poderei dizer como o poeta : “Confesso que vivi”.

Um comentário:

Eloah disse...

Tens razão querida, na vida temos momentos felizes que fazem contra ponto com outros momentos nem tanto felizes.É este movimento que dá encanto a nossa caminhada.
Lindo teu texto, em alguns momentos me identifiquei com você.
Mil flores para você.Bjs Eloah