QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 9 de março de 2012

Simplesmente mulheres

Poucas mulheres ainda, no século XXI, podem dizer ”Não me diferencio pelo meu gênero, mas pelo que sou como ser humano. Venci obstáculos, enfrentei os desafios que se interpuseram à minha escalada, sofri a censura dos que obedeciam cegamente às regras, tive coragem de dizer não, como tive a coragem de dizer sim quando esperavam que dissesse não. Não me importei com o que pensassem, e foi assim que criei minha individualidade e construi minha vida”. Felizes são as mulheres que escolheram e não simplesmente foram escolhidas, que viveram a trágica dor da perda de um ente amado, sofreram profundamente, choraram, mas souberam levantar a cabeça e continuar felizes. É a vida.  Estas são mulheres que se amam.
Mas quantas de nós são capazes de dizer tudo isso? Lembro-me do que ouvi na minha infância acerca da virgindade, da “moça que se perdeu”... e ficou na rua da amargura. Lembro-me das velhas que eram “moças” e das moças que não eram mais “moças”. E o sujeito que “fizera mal” a uma desmiolada! Quanta confusão! E havia também as “mulheres livres”, o que se opõe, evidentemente, a “mulheres escravas”! E as solteironas, “moças”, e “escravas”? Pobres coitadas! A estas só restava cuidar dos sobrinhos, já que haviam ficado para “titias”. Porque, afinal, casar, procriar, era sinal de superioridade. Quem não se casava, ficava “encalhada”, já que não havia sido escolhida e, não tendo sido escolhida, tinha a marca da inferioridade em face das casadas. E enquanto eu ouvia tudo isso, já em 1947, uma grande intelectual, na França, escrevia o seu magnífico tratado sobre mulheres. Chamava-se Simone de Beauvoir e sua obra, “Le deuxième sexe” . Mas foi preciso ainda quase uma década para que seus primeiros ecos se fizessem ouvir, no Primeiro Mundo. Aqui, para nós, continuou a tronar o enxoval, o vestido de noiva, a virgindade. Mulheres continuaram a ser vistas como um pacote que se compra no Supermercado e que não deve estar violado.
Aí surgiram as feministas, que, aliás, já existiam desde o século XIX, tendo conseguido algumas conquistas, das quais a mais importante  foi o direito ao voto. Mulheres começaram já naqueles tempos a se profissionalizar, mas com salário inferior ao do macho. E parece mentira que somente agora se cogita dessa igualdade no Brasil.  Mas, enfim, chegamos ao século XXI, sem “moças” e “mulheres”, sem “mulheres livres”, sem o “sujeito que fez mal”, sem “mulheres perdidas”, sem “titias”, sem “encalhadas”, mas ainda com estupro, com violência física e psicológica, com resignação. Como diz o filósofo francês, Gilles Lipovetsky em seu extraordinário “La troisième femme- Permanence et révolution du féminin”:  Celebrando o poder do sentimento sobre a mulher, definindo-a pelo amor, os modernos legitimaram seu cerceamento na esfera privada: a ideologia do amor contribuiu na reprodução social da mulher naturalmente dependente do homem, incapaz de aceder à plena soberania de si mesma.”  É verdade que há ainda muito caminho a percorrer. Mas, felizmente, podemos concluir, como o filósofo, que a condição feminina mudou mais no decorrer da segunda metade do século XX do que nos milênios anteriores, já que uma vez livres da servidão da procriação, podendo exercer livremente sua sexualidade e escolhendo a profissão que lhes aprouver, as mulheres fazem brechas nas muralhas de cidadelas antes exclusivamente masculinas.
Quanto a mim, considero-me uma mulher plenamente realizada, sou independente desde jovem, tive os romances que tinha que ter, dirijo minha vida como quero. Já me “perdi” há muitos anos, jamais me casei, não procriei, vivo sozinha com dois cachorros e um gato. E, salvo alguns amigos especiais, não quero ninguém comigo. Não precisei dar satisfação dos meus atos a meus pais, porque sempre soube que o fundamento da liberdade é a liberdade econômica. E achei graça quando me disseram que perdia minha juventude estudando e trabalhando. Enganavam-se, eu era  e sou feliz, ...e sabia. Escolhi ser uma “mulher livre”
E viva nós mulheres, tão mais fortes do que eles!
  

2 comentários:

Vitoria disse...

Lindo texto, Maria Lúcia. Adorei!

Eloah disse...

Que beleza de texto.É...através da história das mulheres é que aprendemos e fundamentamos uma nova história para nós mulheres.
" Um novo passo de dança e asas para voar..."
Grandes voos querida. Bjs Eloah