QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Requiem pour Bibi


Conheci Bibi dentro de um caixãozinho branco, recoberto de véu também branco. Ao lado do seu rosto, como se dormisse com ela, sua bonequinha de pano que a acompanhava desde sempre. Nas mãos cruzadas onde se via um terço branco, se destacavam as unhas pintadas de rosa-pink. Tive vontade de beijar seu rosto, mas senti uma censura dentro mim. Ao invés disso, beijei suas mãozinhas geladas pela morte. Meu réquiem sem música era, no entanto, verdadeiro. Havia uma criança morta, aos oito anos, feitos alguns dias antes. Não contive as lágrimas, como a maioria das pessoas que ali estavam. Abracei e beijei a mãe, que mostrava no rosto o sofrimento de mais de dois anos de luta contra um câncer que, afinal, levara sua Bibi. Seu rosto, apesar do sofrimento, sorria, e mostrava simultaneamente a dor e a serenidade de quem lutou até o fim. O pai tinha a mesma expressão de dor, mas mostrava calma. Ambos haviam, naqueles quase três anos, dedicado suas vidas à filha, que sabiam irremediavelmente condenada.
Por que aos oito anos, depois de tanto sofrimento, Beatriz partira? Inexplicável. Como diz o Eclesiastes:
Há um momento para tudo e para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de nascer,
E tempo de morrer;
tempo de plantar,
e tempo de arrancar a planta.
................................................
Tempo de chorar,
e tempo de rir;
tempo de gemer ,
e tempo de bailar.
.................................. “

Bibi deve ter cumprido seu tempo. A plantinha tenra foi arrancada. Mas foi tão breve seu tempo! Foi arrancada dos braços amorosos de seus pais, avós, mas foi recebida nos braços de Deus, criaturinha sem pecados.
Foi aos meus oito ou nove anos,  que vi, pela primeira vez, uma criança morta. Era um menino e deveria ter cinco ou seis anos. Foi numa casa pobre num bairro popular, uma daquelas construções de duas janelas que dão diretamente sobre a rua. Havia morrido de alguma doença na cabeça, quem sabe hidrocefalia. Tinha a cabeça enorme, descomunal para seu corpo que parecia ser miúdo. Uma cor amarelada, doentia, que mesmo a mim, criança, impressionou. Ficamos debruçadas na janela olhando, minha amiguinha e eu. Alguém depois nos disse do que morrera, mas não guardei na memória, é claro. No entanto, aquela imagem da criança morta, nunca mais esqueci. Muitos anos depois, vi o neto de uma amiga dentro de um pequeno caixão, depois de uma longa luta contra a leucemia. Tinha dez anos.
E ainda diz o Eclesiastes:
“....Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo, sem que o homem possa atinar com a obra que Deus realiza desde o princípio até o fim....”

Temos todos o nosso tempo, de chorar de rir, de gemer e de calar. E de morrer. Mas não podemos atinar com a obra de Deus.
 

Um comentário:

Eloah disse...

Querida que texto lindamente escrito, mesmo que a tristeza faça parte da descrição e da morte de crianças inocentes.
Nem sempre entendemos os propósitos, mas como diz o Eclesiastes “Há um momento para tudo e para todo propósito debaixo do céu..."
Brisas e felicidades para você.
Bjs. Eloah