QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sábado, 7 de março de 2015

Mulheres de Atenas

No dia 8 de março de 1857, nos Estados Unidos, operárias, reivindicando melhores condições de trabalho, foram covardemente trancadas numa fábrica que foi incendiada. Muitas morreram carbonizadas. Em 1910, instituiu-se, na Dinamarca, o oito de março como Dia Universal da Mulher. Esta é a história, que quase todo mundo conhece. Neste passado de mais de um século podemos avaliar de que valeu o holocausto destas heroínas.
Sou uma pessimista! Sempre fui. O que vi e ouvi ao longo de minha vida, me faz crer que ainda há muita, muita, coisa a fazer! Não acredito, acho ridícula a tal lei que considera crime hediondo o terror contra a mulher. É crime hediondo o sofrimento ou morte infringido a qualquer ser vivo, homens, mulheres, idosos, crianças, jovens, e animais, sim animais! E nada vai ficar resolvido! Mulheres continuarão a ser supliciadas, escravizadas, assassinadas! É como tirar o sofá da sala!
E neste momento, vem-me à lembrança a belíssima criação  de Chico Buarque : “Mulheres  de Atenas”. Baseou-se na condição servil das mulheres atenienses, condenadas ao gineceu, local que só elas podiam freqüentar, e seus maridos, pais e filhos. A letra é uma belo poema, mas não é somente um poema que fale de mulheres gregas! Fala de nós, mulheres de todos os séculos! Fala de mulheres a quem foram abertas as portas de Universidades, mulheres cientistas, donas de casa, mulheres escritoras, mulheres politicamente corretas, profissionais liberais, mulheres políticas, mães de família devotadas. Enfim, fala de mulheres .... Neste ano de 2015, quantas de nós, profissionais ou não, são mulheres de Atenas? Lembro-me de uma amiga que descobrindo a traição do marido, aconselhada por um padre (só podia ser), arrumou um belo jantar e convidou o marido para uma noite de amor. E pergunta ao final: “ O que ela tem que eu não tenho?” Ou seja, disputamos umas com as outras as benesses do macho! Como diz Chico, “E quando eles se entopem de vinho, costumam buscar o carinho de outras falenas. Mas no fim da noite aos pedaços, quase sempre voltam pros braços de suas pequenas, Helenas.” São os guerreiros, orgulho e força da raça. E nós, o que somos?
Conheço mulheres que foram abandonadas, expostas publicamente ao escárnio, à maldade, e que, no momento em que seus guerreiros decidiram voltar, os receberam de braços abertos, felizes! “ E quando eles embarcam, soldados, elas tecem longos bordados, mil quarentenas. E quando eles voltam sedentos, querem arrancar violentos, carícias plenas, obscenas!” Sei de mulheres que foram traídas a vida inteira, que conheciam o homem a quem “entregariam suas vidas”. Casadas geraram filhos, sempre traídas. Humilhadas, não choraram, não desabafaram! Não se indignaram e mandaram embora o patife!  Vergonha, medo de enfrentar a vida? E morte pela  angústia e humilhação vividas durante anos! E também aquelas que lutaram “bravamente” pelo seu homem apaixonado por outra mulher! “Quando fustigadas não choram, se ajoelham , pedem imploram, mais duras penas, cadenas.” São as Penélopes  à espera de seus Ulysses.
Quando Ricardo e eu nos separamos, sentimos que tudo havia acabado. Era o acerto final! Senti-me feliz de haver colocado um basta em algo que não me trazia mais felicidade.  E tampouco a ele. Não tenho vocação para “pequena Helena”, nem ele para “poder e força de Atenas”. Era uma relação igualitária. Tínhamos opiniões políticas diferentes, e quando encontrei, no Galeão, meu eterno namorado, Leonel Brizola, corri para abraçá-lo. Ricardo veio atrás e também o cumprimentou afetuosamente. E também me preparei para comparecer a uma cerimônia monarquista. Queria acompanhá-lo e solidarizar-me com ele. Infelizmente, não me lembro porque a cerimônia não aconteceu! Tive outros amores, em iguais condições. Uma vez, disse-me uma amiga: “A mulher que não se casou foi porque ninguém a escolheu, e se ninguém a escolheu, é porque ela é inferior às demais. As casadas!” Repetia o que disse Simone de Beauvoir no seu magistral “ Le deuxième Sexe”: “A mulher casada tem mais prestígio do que a solteira”. Mas isto foi em 1947.
Mulheres de Atenas , gregas ou contemporâneas, “não têm gosto ou vontade, nem defeitos nem qualidades, têm medo apenas, não têm sonhos, só têm presságios , o seu homem, mares naufrágios,lindas sirenas, morenas.” São mulheres neutras, e abundantes! Sempre com medo de serem traídas, trocadas! Hoje evito dizer qualquer coisa que se relacione com minha saúde: se tenho dor de cabeça, é por causa da separação de Ricardo, se tenho tontura, se tenho dor nas costas, se emagreço, se engordo. Depois de quase 5 anos, esta situação ridícula perdura. Hoje me faz rir, mas já me irritou e muito! É difícil, numa sociedade machista, dizer que minha opção foi esta. Ela foge tanto da “normalidade”! Briguei com meu pai, com minha mãe, vim morar sozinha, viajei muitas vezes , ainda bem jovem, sozinha, ao exterior. Adoro minha liberdade!
Não quero ser Helena, não quero ser a mulher de ninguém, quero ser eu, Maria Lúcia. Quero pertencer-me a mim mesma! Conquistei quase tudo que queria. Com o meu esforço, e me orgulho disso! Na vida só dependi, ainda jovem demais, de um homem , meu pai. E apesar de todos os tombos que a vida me deu, venci!


Um comentário:

Nazaré Laroca disse...

Belo texto, forte como você, Maria Lúcia!
Parabéns,amiga!
Beijos