QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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domingo, 5 de julho de 2015

“Cinema , a invenção do século” - Parte 1

“Ontem à noite, estive no Reino das Sombras. Se vocês pudessem imaginar a estranheza desse mundo! Um mundo sem cores, sem som. Tudo aqui – a terra, a água e o ar, as árvores, as pessoas – tudo é feito de um cinza monótono. Raios de sol cinzentos num rosto cinzento, folhas de árvores que são cinzentas como a cinza. Não a vida, mas a sombra da vida. Não o movimento da vida, mas uma espécie de espectro mudo . (...) Os veículos que estavam no fundo da tela vêm direto em nossa direção. Em algum lugar no fundo, umas pessoas aparecem e quanto mais se aproximam, maiores ficam(...) Tudo isso se mexe, tudo isso transpira  vida e, súbito, ao chegar à beira da tela, desaparece, sabe-se lá onde(...) E tudo é estranhamente silencioso. Tudo se desenrola sem que ouçamos o barulho das rodas, o ruído dos passos ou uma palavra. Nem um som;nem uma só nota da sinfonia complexa que sempre acompanha o movimento da multidão. Sem o ruído, as folhagens cinzentas como a cinza são agitadas pelo vento e as silhuetas cinzentas das pessoas condenadas a um perpétuo silêncio, cruelmente punidas pela privação de todas as cores da vida , essas silhuetas deslizam em silêncio no chão cinzento (...)”
Assim escreveu o grande escritor russo Máximo Gorki, em um artigo publicado no jornal Nijegorodskilistok, em 4 de julho de 1896. E ele também prossegue fazendo algumas ponderações sobre a provável importância desta invenção, e a pertinência das cenas mostradas – vida burguesa em família e também a saída de operárias de uma fábrica.
Na verdade, este mundo visual vinha sendo perseguido desde muito antes. No século XVIII, a Lanterna Mágica já mostrava, sobre uma parede branca, cenas com monstros horrendos, que sobrevoavam os espectadores, iludidos de que se tratava de alguma mágica. E havia também o “teatro em caixa” apresentado nas ruas e feiras. Já no século XIX, o público buscava o espetáculo visual mais sofisticado, de várias formas. Como em espetáculos de prestigiditação. Mágicos eram artistas muito prestigiados e muitos teatros se especializaram neste tipo de espetáculo.
Em Paris, o Museu Grévin, fundado em 1883, ainda hoje, associa um célebre museu de cera onde estão representados personagens famosos e cenas da história da França, e um teatro bem  ao estilo da época. Até hoje os visitantes podem assistir a espetáculos fascinantes de mudanças de ambiente, sentindo-se no Oriente, por exemplo, dentro de uma fabulosa mesquita, ou num palácio chinês. Era o que pedia o público da época, ávido por experiências “exóticas”. Lembro-me da primeira vez que visitei o museu de cera. Estava com meu pai. Eu tinha dez anos e vi cenas “horripilantes” como a cabeça de Mademoiselle de Lambert , amiga de Maria Antonieta, espetada num pau, mostrada, através de uma janela, à família real, na Prisão do Templo. Túneis escuros onde se encaixam nichos de luminosidade mínima. Para uma criança, todas aquelas cenas faziam medo. Cheguei em casa e desmaiei. Até hoje, quando vou à França, não deixo de visitar o Musée Grévin. E confesso que sinto um certo medo. E sempre lembro-me de meu pai, a quem devo uma experiência fantástica: a de, ainda criança, viver uma cultura diferente, que tanto me ensinou.
O teatro foi palco de algumas das primeiras experiências “cinematrográficas”. Ali se apresentou um pioneiro, Emile Reynaud, com seu Teatro-Optico. Desenhava, ele próprio cada figura, com as minúsculas diferenças na movimentação. Eram várias centenas de figuras, que, infelizmente com o correr das apresentações se deterioravam , sendo necessário refazer outra história, o que levava anos. Reynaud, afinal foi vencido pelas novas invenções, desistiu e, miserável e doente, jogou suas fitas no Sena. Morreu em um asilo em 1918.
Mas ainda há tanta coisa!!! Conto na parte 2.

Um comentário:

Maria Cristina disse...

Muito bom, Maria Lucia, como sempre, com gostinho de quero mais. Beijo.