QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

SVETLA HANTOVA, UN E VIE.

1989, bicentenário da Revolução Francesa. E também comemoração da Inconfidência Mineira.
Estávamos em Belo Horizonte. A Primeira Dama Francesa, Danielle Mitterand, havia vindo. No Palácio  das Artes, ela e a Deputada Benedita da Silva, representante da mulher brasileira, faziam uma palestra. Eu havia ganhado uma bolsa para França, por haver criado um grupo de teatro em francês. E neste caso, haviamos até escrito o texto, o quê pareceu ao Adido Cultural extremamente original.  Consegui alojamento para todos meus "atores" e , se não me  engano, igualmente alimentação . E tenho imenso orgulho de  dizer que ali formei muita gente, que , posteriormente, se tornou profissional, como minha querida Cristina , que , passando em concurso do Exército  , e prosseguindo com Mestrado e Doutorado, formou oficiais que iam estudar em países de língua francesa , e é hoje oficial das Forças Armadas.  
Havia a greve do ano, como havia o Carnaval. Mas esta era uma bolsa especial, e eu não ia perdê-la  por causa de alguns malucos que achavam que conseguiriam derrubar o Governo, que neste  tempo já era Sarney. Dei aula em casa, escondida na Universidade, na casa  de alunos, e , finalmente, consegui completar  o calendário. Era uma bolsa especial, com direito a passagem pela AIR FRANCE, estadia em Paris numa casa de estudantes, e passagem para Bretanha, além de considerável soma em dinheiro. Minha mãe estava doente já há alguns anos e tive que fazer  imenso esforço moral para deixá-la. Teresa e Bertrand ficaram responsáveis por ela, além de um batalhão de acompanhantes. Escrevi a cores o nome dos remédios e para cada horário sublinhava com cores diferentes. Mandei plastificar , e minha irmã andava com ele sempre na bolsa, apreensiva de que pudesse haver se enganado. Bertrand vinha todas as noites tentar dormir. 
Quando saí do Brasil , já estava enfraquecida, minha garganta doía, e estava muito magra. Mas minha satisfação por haver conseguido a bolsa, e com um projeto tão original,  me devolvia as forças. A chegada em Paris foi terrível, minha mala, que na confusão da saída, eu havia esquecido de renovar, abriu e vi tudo derramado em pleno aeroporto Charles de Gaule. Eu havia passado a noite  com febre, e não consegui lugar dentre os não fumantes. Hoje, é proibido para todos passageiros.  Argentinos, sentados a meu lado, fumavam sem parar , apesar de meus reiterados pedidos . Aliás, meu sangue gaúcho sempre detestou  "los hermanos".  Afinal, me arrastando, consegui chegar a uma  "navette " , que me conduziu até Porte D'Orléans ( hoje conduz até a Opéra). Fazia um calor infernal ,  eu desci , arrastando minha mala , tentando pegar um taxi. Mas era próximo a 14 de julho , e o mundo havia descido em Paris. Exausta, sentei-me no meio fio e resolvi esperar por um milagre. Não sei quanto tempo depois ele aconteceu. Entrei , e um chofer gentil levou  sob minha recomendação , a mala ao carro.
Mas Paris é realmente uma cidade especial. Depois de esperar não sei quanto tempo, numa espécie de agência, me foi informado o endereço da rua Jean Calvin. O interessante é que nem o chofer conhecia este endereço. Fomos de um lado a outro da Rue Mouffetard , voltamos, e chegamos à conclusão de que esta rua não devia existir. Sinceramente, não sei como descobrimos que era uma rua dentro de um grande portal , como se fosse num prédio. Ou seja, uma rua dentro de uma prédio. Exausta, quase beijei o chofer . E entrei. deram-me uma chave , e eu deveria subir 5 andares, o quê é comum em Paris. Olhei para cima e tive a impressão de ver o Himalaia. Mas era preciso subir. Arrastei-me até lá e sentei exausta. E , de repente, ....lá se foi a chave. Sinceramente, não sei como, mas fui buscá-la. Fiquei com uma marroquina que estava fazendo o Doutorado , não me lembro em quê , em Paris. Quarto singular . No meio, havia uma pia enorme, que devia servir também para se lavar. Conheço bem os franceses. Mas eu queria tomar um banho , me refrescar, deixar a água cair sobre todo meu corpo, minha cabeça, que latejava. Peguei minha toalha e me dirigi para onde me indicaram estar o banheiro. havia uma fila, com muitos orientais . Olhei o quê devia ser o banheiro. Quem conhece Ouro Preto ou qualquer cidade histórica, já deve ter visto aqueles nichos, onde , no fundo se aloja um Santo. Naquele caso , os santos eram substituídos por pessoas, que se escondiam atras de cortinas se plástico , já meio sujas e  rasgadas. Quando chegou minha vez, subi aquele penosamente aquele  cadafalso ,  e tomei um banho , que me pareceu maravilhoso. Enrolada na toalha voltei para quarto. E abri a mala.
DESASTRE!!!Tudo despencou e caiu sobre papéis de minha companheira. Só ouvi " Mon Dieu"!!!!Tentei me desculpar e apanhar tudo, mas as coisas se misturavam. Fiquei meio embrutecida. A mulher me arrancava das mãos o quê era seu , papeis , provavelmente de sua Tese. Parei de pedir "pardon" e fiquei prostada em cima da cama, nua, o quê deve ter sido pior ainda para uma muçulmana. Depois , .....não me lembro. Só sei que não a deixei dormir, tossindo a noite inteira. Pela manhã , devo ter comido alguma coisa, mas estava atrasada. Tomei um taxi, que uma garota me indicou e arrastando minha mala , corri até a estação, não me lembro qual. Tomei o trem. todo meu corpo tremia, Até que me sentei. O resto conto depois. 

   

 
 

Um comentário:

Mayra disse...

ADOREI! PQ não faz a sua autobiografia? Texto surpresa em cada esquina. Morri de rir 😂