QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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terça-feira, 25 de março de 2008

Uma nova pedagogia

Crianças malcriadas, desobedientes, ladinas. Crianças que não estudam, que põem a língua de fora, que não respeitam os mais velhos. Muito se tem falado sobre a educação permissiva, de inspiração rousseauista, que tem trazido enormes prejuízos às nossas crianças. Muito se tem discutido, com a presença de especialistas, pedagogos, psicólogos, sociólogos, etc. Então, de repente, assim, surgindo do nada, ficamos conhecendo uma tal Sílvia Calabrese, pedagoga, podemos dizer inovadora, que, com a ajuda de seu lugar-tenente, introduziu uma nova metodologia educacional: “Educação pela tortura”.
Aliás, esta prática educacional já conhecíamos há tanto tempo! Podemos começar na Antiguidade, quando os cristãos eram lançados aos leões famintos, ou queimado vivos. O objetivo, Dra. Sílvia agora nos esclarece, daquilo que, durante dois mil anos, consideramos pura crueldade, era impedi-los de seguir o mau caminho, daquele maluco lá da Palestina, que pregava o amor e o desapego aos bens materiais. Afinal, Nero preocupava-se com a idéia de progresso que não via nos mandamentos do judeu. O Império, na verdade, só queria que os cristãos se assustassem, talvez se chamuscassem um pouquinho, e levassem uns arranhões das feras famintas. Mas os educadores erraram a dose – não havia tecnologia adequada -, e acabaram passando à História como bestas perversas. E só agora, graças à Dra. Sílvia descobrimos as boas intenções que cercavam aqueles atos, que nos horrorizam.
E ainda durante a Inquisição, quanta bondade! Torquemada e seus asseclas, especialistas em todo tipo de “pedagogia” –porque de agora em diante sinto um certo constrangimento em falar rasgadamente em TORTURA – só queriam (e até confessaram claramente e nós não entendemos) salvar pobres almas hereges das chamas do inferno. Porque as chamas acessas pela Igreja Católica eram repletas de bondade educativa, assim como todos aqueles castigos, como fazer o perverso engolir chumbo derretido, eram medidas pedagógicas, que tinham o objetivo cristão de EDUCAR, se não para esta, para a outra vida, onde o herege já entrava com os dois pés – se ainda tivesse algum – no Paraíso. E vejam que ficamos séculos xingando a Santa Inquisição, até que a Dra. Sílvia nos trás a luz.
Para falar de fatos mais recentes, passando por cima dos objetivos educativos dos Nazistas, tivemos a oportunidade de tomar conhecimento dos métodos pedagógicos empregados por aquele que considerávamos um monstro – o Delegado Sérgio Paranhos Fleury-, cuja morte, ainda que a Igreja nos acenasse com o castigo do pecado mortal, comemoramos, sobretudo tendo em vista a forma como foi desta para a melhor: afogamento. Agora, com os esclarecimentos da Dra. Sílvia, já me sinto meio culpada de ter comemorado a morte do “monstro”. Porque estou confusa e já nem sei se é monstro ou Educador. Quem sabe, o Dr. Sérgio, como a Dra. Sílvia, não tentavam formar cidadãos cheios de patriotismo, amor aos fracos, generosidade impar? Dr. Fleury, com seus afogamentos, por exemplo, pode ter querido exercitar aqueles ingratos a sobreviverem à cheias, que inundam nossas cidades nas chuvas de verão. Pode ser que quisesse transforma-los em heróis, capazes de salvar crianças e velhos de afogamentos. Há tanta coisa que não sabemos, que julgamos mal!
Dra. Sílvia ao cortar com alicate a língua da perigosa criança que tinha sob sua guarda, tenho pensado nisso, talvez quisesse impedi-la de dizer palavrões, usar palavras de baixo calão, ou falar um péssimo português, o que ouvimos todos os dias. Ao esmagar seus dedos na porta, pretendia impedi-la de roer as unhas, já que não haveria mais unhas. Ao pendura-la pelos braços e expô-la ao sol, tenho pensado que talvez quisesse fazer-lhe um alongamento prolongado, evitando a postura encurvada das adolescentes. Quanto ao sol, era para lhe dar uma bela cor de verão.
Dra. Sílvia e seu lugar-tenente, se este fosse um país justo, com oportunidades para todos, deveriam estar ensinando a outras detentas seu método pedagógico, evidentemente colocando à disposição das outras seus próprios corpinhos. Quanto ao marido, deveria fazer companhia aos outros detentos que conhecem um método infalível para educar gente como ele.
Que pena que este não seja um país decente!

E como já disse uma vez, odeio o politicamente correto.

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