QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quinta-feira, 12 de março de 2009

CONFESSO QUE VIVI

Quem se lembra daquela linda canção de Chico Buarque, já bem antiga, chamada “Carolina”?
Pois vale a pena a gente lembrar a letra, que diz tanta coisa!

“Carolina, nos seus olhos fundos, guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo.
Eu já lhe expliquei que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar,
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar.

Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu.
Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ah que lindo,
Mas Carolina não viu...
Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe.
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar,
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar.

Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu.
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu.”

Que pena que não fui eu quem escreveu “Carolina”! Chico o fez no meu lugar.
Mas como me sinto feliz em poder dizer, neste dia que marca os meus tantos anos já vividos, que eu vi, sem lástimas, o tempo passar na janela! Que vi flores se abrindo, gente feliz dançando comigo, estrelas cadentes cruzando o céu. Vi a chuva e senti a água batendo no meu rosto. Vi o sol e senti seu calor inundando meu corpo. Vi dias nascerem tristes ou radiosos.E os vivi tristes ou radiosos.
Sinto-me imensamente gratificada em poder dizer que, se a vida foi dura comigo por longos períodos, com isto aprendi a valorizar cada momento de felicidade que ela me oferecia e, o mais importante, a tentar sempre multiplica-los. Sofri grandes tragédias pessoais, que fizeram padecer cada molécula de meu corpo, mas consegui superar e voltar a ser feliz. E compreendi a fragilidade de nossa existência. Já no outono, me lembro de minha primavera, e ,com tudo que os anos me ensinaram, tenho a convicção de que hoje aprendi a ser mais feliz do que naqueles anos dourados.
Como diz Jorge Luíz Borges, na vida perdemos várias oportunidades de ser felizes. E concordo com ele que, se pudesse recomeçar, transgrediria mais, apesar de nunca haver aceitado o que queriam me impor. O que me causou sérios problemas familiares. E não me arrependo! E como nunca tentei ser perfeita, nunca criei tensões na expectativa da aprovação alheia.E pude relaxar e viver feliz, apesar de tudo!
Minha desprentensão à aprovação alheia, me permitiu expandir esta força interna que temos dentro de nós, e que raramente, por ridículos pudores, temos a coragem de expor. A coragem de tocar, abraçar, acariaciar, falar do amor. De ilusões e desilusões. De banalidades e de “coisas sérias”. Dizer besteiras, dar gargalhadas, e também , na minha fragilidade, confessar o sofrimento. Enfim, nenhuma pretensão a ser mais do que humana. E esta foi uma grande conquista.
É verdade que tive, desde cedo, problemas reais, mas, afinal, eles foram benéficos, pois afastaram os imaginários. Então, não tive tempo de criar fantasmas.
E como detesto lentilhas, tomei mais sorvete.

Instantes (Poema de Luiz Borges)

“Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo do que tenho sido, na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não perca o agora.
Eu era um desses que nunca ia à parte alguma sem ter um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria até o final do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças. Se tivesse outra vez uma vida pela frente... Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo...”
Ah, Carolina! Pobre Carolina! E quantas há que não vêem o tempo passar, e que quando despertam já é tarde para recomeçar. Já não podem correr riscos, subir montanhas, transgredir, não ser tão perfeita, gozar de verdade os bons momentos. E tomar mais sorvete!

Não tenho 85 anos, mas já ultrapassei os cinqüenta há bastante tempo. Não sei, nunca sabemos, o quanto me resta, mas decidi não deixar nada para trás. Quero ainda subir muitas montanhas, ver muitos entardeceres, correr muitos riscos, gozar intensamente os bons momentos que a vida ainda vai me dar. E ter a coragem de ter medo, de chorar, de sofrer. E jamais tentar ser perfeita.
É verdade que se pudesse recomeçar faria muita coisa diferente, mas afinal, contas feitas, posso afirmar como Neruda: “Confesso que vivi.”!

Um comentário:

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

O teu comentário, Gatinha, vem emoldurar o teu aniversário, no marco luminoso da tua confissão de autenticidade, nesta altura da existência. É a coragem de pensar, de que nos falava o pensador alemão, quando dizia aos seus discípulos: "Sapere aude!" ("Ousa Pensar"). Ousar pensar é viver, é lutar pela liberdade, que é uma conquista do dia a dia. Feliz aniversário e que sejas cada dia mais livre! É o meu voto para ti, voto de companheiro de jornada, que tenho disfrutado ao teu lado tantos momentos lindos e que tenho enfrentado contigo tempestades e incertezas. Feliz aniversário, Gatinha, muito amor, coragem e paz. Te amo.