QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 6 de março de 2009

O reino das trevas

Hoje, penetrei no Reino das Trevas. Subitamente, vi fogueiras se acendendo, rostos ardendo em chamas, gritos de dor, vultos cobertos de negro, que se moviam de um lado para outro, carregando fardos de palha seca para o suplício. Uma voz, vinda das profundezas das Trevas, dizia algo que eu não conseguia entender. A voz era melíflua, como deveria ser aquela que ouviu Eva, ao ser tentada pela serpente no Paraíso. Havia no ar um odor fétido, de podridão misturada ao incenso. Olhei aterrorizada a figura estranha que surgia diante de mim, procurei entender o que dizia. Pensei que tivesse morrido e, por meus inúmeros pecadilhos, estivesse sendo instalada no inferno inquisitorial. Mas, afinal, o que eu poderia ter feito de tão horrendo que me condenasse a todo este HORROR. Procurei, utilizando todas minhas reservas racionais, compreender o que dizia a figura, surgida das sombras aterrorizantes.
Só então, depois de imenso esforço concentrado, consegui compreender. E aí, tudo clareou, voltei à minha cozinha, onde preparava meu lanche noturno. Olhei minhas plantinhas, meus bichinhos, afaguei-lhes a cabeça. O que dizia a estranha criatura não me dizia respeito, e não merecia o meu respeito. Afinal, o que poderia significar para mim ser excomungada? Nem sabia que isso ainda existia! E eu nunca entrei naquela instituição. E nunca entrarei. Logo, nunca serei expulsa.
Subitamente, de novo voltei ao Mundo das Trevas! Tilinha, Nenêm, onde estão vocês? E minhas florzinhas? Minha saladinha, o pão integral, o suco? Tudo foi embora, engolido pelo Terror. As Trevas novamente haviam se instalado. Por quê? Reuni, mais uma vez, toda minha capacidade de compreensão, queria saber por que haviam voltado. Prestei o máximo de atenção, e ouvi aquela voz, simultaneamente melíflua e soturna, dizendo que pior do que ser estuprador de criança é salvar a vida desta criança. A raiva que senti foi tão grande que chutei aquelas Trevas, que me haviam feito tremer, para bem longe, coloquei-me defronte ao aparelho e resolvi ouvir o resto. Então, é verdade que Vaticano, CNBB, e toda a corte católico-celestial consideram o estuprador menos, e muito menos, pecaminoso do os médicos?
Passada a revolta, estando só, enquanto degustava meu lanchinho noturno, acompanhada de meus bichinhos, criaturinhas de Deus, fiz certas reflexões. Afinal, esta instituição tem que ser coerente consigo mesma. Uma instituição onde abundam pedófilos, que destruíram vidas que recém haviam começado, e onde não se tem notícia de nenhuma excomunhão, deve achar mais aceitável o estupro do que a vida. Uma instituição que prega a eliminação de pobreza e mantém na pobreza milhares de seus membros, que não têm sequer a justa remuneração de seu trabalho. Uma instituição que não aceita o progresso científico e acha natural o sofrimento quando este pode ser minorado ou dirimido. E tantas outras aberrações.
Confesso que me sinto feliz por não pertencer a esta instituição. Confesso que aprendi a amar a Deus com minha mãe, avessa à fé católica. Confesso que entendo porque tanta gente se converte a outras religiões, onde não é pecado progredir, onde o indivíduo e seu trabalho são valorizados. Confesso que fico encantada com o olhar sedutor do Padre Fábio de Mello,... mas sedução é outra coisa.
E minha última confissão: confesso que tenho preguiça de continuar deblaterando contra esta gente atrasada, e que, afinal, no mundo que conta de verdade, não significa mais nada.

Um comentário:

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

Gatinha, mais uma vez estou aqui para te dizer que adorei o teu texto, pela coragem e a sinceridade que o caracterizam. Os burocratas vaticanos, especializados em dar "baculadas" nos fiéis, não conseguiram acabar com a Igreja que Cristo veio fundar. Igreja feita não de aberrantes figuras vestidas de preto e especializadas em julgar sumariamente os seus semelhantes (como outrora faziam os fariseus e os levitas). Igreja que aflora nas pessoas com compaixão, que amam ao seu próximo de forma incondicional, que sentem dor diante de quem sofre e que se alegram com os que estão felizes. Certamente estas pessoas estão mais perto de Cristo, como Madre Teresa de Calcutá, que entregou sua vida aos mais abandonados dos abandonados, aqueles que não tinham literalmente onde cair mortos, acolhendo-os para que morressem com um mínimo de dignidade...Bom, a tua justa indigação é compartilhada por muitos outros cristãos. Não estás sozinha. É só dar uma espiada nas "Cartas dos Leitores" de qualquer jornal de grande circulação, nestes dias. Beijo e parabéns pelo teu desabafo.