QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As múltiplas faces de Eva II

No seu curto livro “ A room of one´s  own” , Virginia Woolf se diverte inventando  o destino de uma suposta irmã de Shakespeare :enquanto ele aprendia no colégio um pouco de latim, gramática, lógica, ela teria permanecido no lar na mais  completa ignorância: enquanto ele  caçava , percorria os campos, dormia com mulheres da vizinhança, ela teria remendado retalhos sob  o olhar de seus pais, caso tivesse partido, como ele fizera ousadamente , tentar a sorte em Londres, ela, não se tornando uma atriz bem sucedida: ou teria sido reconduzida à casa paterna que a teria forçado a um casamento, ou  seduzida, abandonada, desonrada, teria se matado de desespero. Pode-se também imaginá-la  como uma alegre prostituta......mas em nenhum momento ela teria dirigido um elenco ou escrito dramas.”
Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”


Na verdade, diz Simone,o status legal da mulher continuou o mesmo desde o início do século XV até o século XIX. Mas, salvo algumas pequenas distinções, pouco se alterou desde a Antiguidade greco-romana até os nossos dias. Muitas mulheres continuam súditas de seus maridos-senhor, confinadas ao lar, ou quando têm seu próprio trabalho, sua remuneração é sempre infinitamente inferior à do macho, já que sempre se consideraram inferiores.  “ Abrem-se às mulheres as fábricas, os escritórios, as universidades, mas continua-se a considerar que o casamento lhes é uma carreira das mais honoráveis, que dispensa qualquer outra participação na vida coletiva.” ....” Tudo encoraja à jovem a  esperar a esperar do príncipe encantado dinheiro e felicidade do que tentar sozinha a difícil e incerta conquista. “ E é verdade que o mito de Cinderela ainda vigora . E continua Simone” “Entretanto tendo tomado consciência de si-mesma e que pode libertar-se do casamento pelo seu trabalho , a mulher não aceita a submissão.” Mas a que generalização não iluda ninguém. É bom lembrar que Simone escreveu o 1º. Volume de sua obra em 1947, e que de lá para cá muita coisa mudou, mas a verdadeira igualdade ainda está para ser conquistada Até os anos 50 muito pouco havia mudado. Em nossos dias, a mãe solteira deixou de ser objeto de escândalo. A sexualidade feminina rompeu barreiras, mas ao marido é permitida a traição, não à esposa, que passa a ser execrada. Quantos maridos apaixonam-se, abandonam suas esposas, as expõem à crueldade pública e, uma vez terminada a paixão, voltam fagueiramente ao lar, que lhes dá segurança. E alguém já ouviu falar de algum caso oposto? Poucas mulheres , em nossos dias, participam do orçamento da casa, dividem decisões, são mulheres autônomas. Até pouco tempo atrás, as mulheres eram menos preparadas que seus irmãos, dedicavam- se menos à profissão. E em muitas famílias isso ainda é freqüente. Conheço mulheres que ganham sua vida mas ,ainda assim, admiram outras mulheres porque encontraram um marido mais rico do que o seu, ainda que vivam exclusivamente do dinheiro do macho. Conheço mulheres que aceitaram a traição porque é mais cômodo, menos perigoso, mais de acordo com regras sociais ainda vigentes.
Em muitos casos, hoje, 2014, o homem ainda considera a mulher uma conquista sua. “ Não é somente um prazer subjetivo e efêmero que procura o homem no ato sexual.Ele quer conquistar , tomar, possuir: ter uma mulher significa vencê-la: ele penetra nela como o arado no sulco da terra : ele a faz sua como faz sua a terra que trabalha.....”  E esta é a razão de exigir a virgindade, ele será cavaleiro a colher a flor que  existe no fundo da mulher, daí o termo deflorar. No casamento burguês diz Simone, a virgindade é moeda de troca, a mulher entrega seu corpo virgem e recebe em troca uma pensão vitalícia, seja ela em quaisquer condições. No início do 2º. Volume Simone começa com a seguinte reflexão: “O destino que a sociedade propõe tradicionalmente à mulher é o casamento....” Mas ela própria conclui, já naqueles tempos que vão longe, que a condição econômica da mulher estaria mudando esta união. A mulher deixou de estar restrita à função reprodutora , livrou-se e continua livrando-se, da servidão , produz pelo seu trabalho. Mas ainda há muito a conquistar. E a luta continua, não com soutiens sendo queimados, machos odiados, mas com a certeza de nossa individualidade e consequente liberdade, e de nossa recusa permanente na desigualdade. 

Um comentário:

Eloah disse...

Belo texto! Um grito de alerta para as mulheres.Por Que Não uma Mulher?
Tudo podemos e devemos.Brisas e flores para você.Bjs Eloah