QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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domingo, 23 de fevereiro de 2014

As múltiplas faces de Eva - III


Tantas são as transformações que ocorrem a cada dia no mundo, que mesmo coisas ditas há menos de vinte anos já se tornaram obsoletas. Gilles Lipovetsky, filósofo francês, tem sua obra fixada nestas transformações. Deixa-a aberta, capaz de captar mudanças e sempre encará-las de frente. Mas a disjunção sexual que aborda nesta sua obra acabou por colocá-lo como reacionário. A começar pelas feministas “enragées”, que o têm como inimigo e ainda acreditam na famosa frase de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se.” É verdade que Simone revolucionou e ensinou mulheres, como eu mesma, o que significa ser mulher. O que pretende Lipovetsky não é negar o que diz esta grande pensadora, mas colocar a natural disjunção entre homens e mulheres. É verdade que nossa história sempre se baseou na mulher- amor, mulher- paixão. E assim dizia a escritora romântica Germaine de Stäel: “As mulheres não existem senão no amor, a história de suas vidas começa e termina com o amor.” E colocando-as na esfera exclusiva do amor, tornaram-nas dependentes, incapazes de alcançar sua individualidade. Já nos anos 60 e 70, a grande reviravolta coloca o amor como o fator mais importante da servidão feminina, seja no plano doméstico ou sexual. Mulheres optaram pelo que, com alguma exageração, Simone considerava o casamento burguês: uma prostituição institucionalizada, em que a mulher paga com seu corpo virgem o sustento para a vida toda. Mas foi assim, enfrentando a boa educação burguesa, que as mulheres se libertaram da obrigatória maternidade e a conduta sexual passou a ser  opção de cada uma. Uma feminista americana chegou a dizer “ O amor é a reação da vítima à violação” O amor que até então fora visto como o grande objetivo da mulher, era agora acusado de estar a serviço do macho. A perspectiva destas feministas “conduzirá Barthes a evocar o surgimento de uma nova obscenidade: a do sentimentalismo”  Mas passada esta fúria feminista, muito de sua marca permanece, cada vez mais as mulheres começam a tomar distância do amor como objetivo único, deixam de renunciar a uma profissão, o que não significa que o amor haja desaparecido.
Devemos a Simone e às feministas dos anos 60 e70 o ”Reconhecimento da atividade profissional feminina, legalização da contracepção e do aborto, liberação da moral sexual: uma revolução sem dúvida aconteceu.” Mas tudo isto foi o produto da independência econômica, que permite à mulher viver ao seu modo, ser como dizia Sartre “um ser para si” , ou seja, um ser que se faz, que se realiza. Homens e mulheres passaram à igualdade, e se há diferenças em salários, isto só acontece em países periféricos, como o Brasil. No entanto, uma questão permanece, malgrado esta democratização: qual o papel do amor , mesmo em sociedades que priorizam ao indivíduo a livre disposição de si mesmo? Apesar de todas as conquistas igualitárias, a mulher continua apegada ao amor, ainda que de forma menos marcada que antes. Há cerca de trinta ou quarenta anos, a mulher dissocia, cada vez mais, o amor do casamento. Não aceita mais casamentos insatisfatórios e sente-se segura para sair de uma situação incômoda. A mulher segue seu caminho sem a presença do macho. Homens públicos e mulheres públicas, quanta diferença havia nestas duas qualificações! E hoje quantas são as mulheres públicas? A democratização dos sexos, no entanto, nos tem dado algumas provas concretas de disjunção: quando Segolène Royale , companheira de anos de François Hollande, com quatro filhos, lhe pediu sua mão em público, recebeu  como resposta um incômodo silêncio, que justificou com a frase: “Nosso amor é maior.” Era  traída há sete anos. Foi abandonada, não procurou outro companheiro, como fez Sarkozi, abandonado pela mulher logo no ínicio de seu mandato. Agora, vemos mais uma vez, Hollande trair uma amante, que teve que internar-se num hospital pelo choque. Breve estará aparecendo com a terceira. Segolène é uma política, uma mulher pública, que já foi candidata à Presidência da França, a segunda jornalista de uma revista importante. Finalmente, não é justo falar em revolução e permanência no feminino? E ainda há a tanta coisa a dizer  sobre esta magnífica obra!
Mas haja permanência e revolução nos dois gêneros, é  fundamental que nos lembremos sempre do que disse Simone “Que nada nos defina, que nada nos sujeite, que a liberdade seja nossa própria substância.”



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