QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 18 de março de 2024

 Os Anos Loucos

Os chamados "Anos Loucos" são aqueles que seguiram a 1a. Grande Guerra. Foram loucos, como a vida, repletos de coisas boas e péssimas. As mulheres se libertaram dos espartilhos e das longas cabeleiras. Cabelos curtos, calças compridas, cigarros. Depois dos horrores desta Guerra, todos sabiam que nada mais seria como antes. Ela deixara profundas cicatrizes. Muitos soldados voltavam desfigurados, mutilados, com graves  problemas psicológicos . E foi em 1917 ou 18 que ocorreram os primeiros casos da pandemia chamada "gripe espanhola", e se espalhou rapidamente pelo mundo através de uma mutação do vírus "influenza". Não se sabe onde surgiu, mas, certamente, não na Espanha. O nome "gripe espanhola" veio da grande divulgação dada pela imprensa espanhola. Calcula-se que mais de 500 milhões de pessoas sucumbiram. Há alguns anos, vi uma foto  terrível, nos Estados Unidos, de crianças abandonadas  na varanda de casa. Toda a família havia morrido. Uma cunhada de meu pai, esposa de seu irmão mais velho, faleceu e deixou órfã uma criança de dois anos, que foi criada por minha avó. No Brasil, morreram figuras importantes como o recém reeleito Presidente Rodrigues Alves. Foi por esta época que começaram a despontar nomes como Hitler, Mussolini, Stalin, Hiroito. Mas o mundo ainda não sabia o que viriam a  significar. 

Mas como não se podia prever nada, o melhor era viver este presente que parecia tão radioso. Surgem figuras importantes, como Coco Chanel, que reinventa a moda, o genial compositor russo, Igor Strawinsky, refugiado, e ,futuramente, um dos inúmeros amantes de Chanel. Surge o Ballet Russo, sob a direção de Serge Daighlev, e  com a icônica figura de Nijinsky, considerado o maior bailarino todos os tempos. Foi em 1921, ou 22,  que  Nijinsky, com coreografia creio de Daighlev, dança no Thèâtre de l'Elysée a genial obra de Debussy, "Prélude à l'après midi d'un faune", inspirado  no poema simbolista de Stéphane de Mallarmé. A peça não pode ser apresentada inteiramente, por causa da vaia dos espectadores, que não haviam entendido nada da coreografia inovadora. Foi uma época também marcada pela morte da bailarina americana Isadora Duncan, enforcada por sua echarpe, que se enrolara nas rodas de seu carro. 

Na música popular, surgem dois compositores genais; George Gershwin e Irving Berlin. E na ciência, Einstein, recebe o Prêmio Nobel de física e Alexander Fleming descobre a penicilina. E na arqueologia, Howard Carter e Lord Carnarvon, abrem a tumba de Toutankhamon, que ali repousava há milhares de anos. Foi nas minhas constantes visitas ao Louvre quando criança, a que me levava meu pai, que me apaixonei pela Arqueologia e sonhei, desde minha infância até a idade adulta, em ser arqueóloga, da mesma forma que meu irmão sonhava em ser paleontólogo. Em 1927, o piloto americano, Charles Lindenberg, atravessa sem escala o Oceano Atlântico.

Para as mulheres, era a libertação. De agora em diante, podiam, dirigir carros, fumar em público, dançar, movendo o corpo como quisessem. O trabalho feminino, que já fora admitido desde  a guerra, por falta de mão de obra masculina, torna-se  frequente e, afinal, significa uma libertação da mulher do macho protetor. E muitas passaram a frequentar Universidades e a se qualificar profissionalmente.

No cinema, Chaplin, Stan Laurel e Oliver Hard, a notar que Stan Laurel foi para os Estados Unidos na trupe de Chaplin. E havia também Harold Loyd e Buster Keaton. Todos eles fizeram a alegria de minha mãe e de minha tia Aracy. E só para lembrar, muitos e muitos anos depois, eu não podia ver as deliciosas comédias do Gordo e do Magro, sem chorar. Eu morava em Paris e nas tardes de quinta feira (ou seria quarta?), em que, sem ter aula, eu podia assistir a sessão infantil. Minha mãe sempre me dava um trocado para comprar meu chocolate preferido. Naquele momento, de dor, faziam-me crer que eu JAMAIS voltaria a andar normalmente! Felizmente, isto já passou! E estou andando normalmente, ainda que tenha medo das calçadas! Mas voltando para os anos 20, foi o momento do surgimento do Surrealismo e do Dadaismo, que pretendiam desconstruir  a linguagem. 

Grandes grandes escritores americanos escolheram Paris para viver,  sendo, Ernest Hemingway, o mais apaixonado pela cidade. Disse ele "Se você, quando jovem, teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante." Eu tive esta experiência na infância, e esta lembrança me acompanha até hoje. Infelizmente, hoje, Paris não é mais a mesma. Muita coisa desapareceu, coisas fantásticas, como Les Halles Centrales, construído por Napoleão III, e que inspirou a Emile Zola o fabuloso "Le ventre de Paris". A destruição ocorreu sobretudo durante  o nefasto governo de Georges Pompidou, político corrupto e megalomaníaco. Hoje no lugar de Les Halles , há um certo Centre Georges Pompidou. Vice de De Gaule, chegou ao poder pela morte do titular. Certa vez, fui ver uma exposição que tratava do "Inicio de tudo",  e, logo na entrada, havia uma pintura, não me lembro de quem, que mostrava uma enorme vagina. Achei a ideia inteligente. Aliás, a única coisa que achei especial, nas poucas vezes que fui lá. 

No Brasil, 1922, marca a Semana de Arte Moderna, com a intenção de fugir dos paradigmas europeus e marcar nossa brasilidade. Vale lembrar Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade. Já na Alemanha vencida, assinado o Tratado de Versalhes, com todas suas exigências,  instalou-se a maior inflação da História. Um livro de Eric Maria Remarque, chamado "Obelisco Negro",  retrata esta miserabilidade do povo alemão. Pessoas acordavam de madrugada para comprar pão, pois uma hora depois estaria mais caro. As notas serviam para cobrir as paredes. É aí que surge o Expressionismo alemão, que retrata através do monstruoso esta catástrofe da chamada República de Weimer.  O filme "Nosferatu" mostra bem este movimento. Ainda por volta de 1923 ou 24, surge, como salvador da pátria, o "Nacional Socialismo", mais tarde rebatizado por Hitler como "Partido Nazista".

1938- Tratado de Munique, em que parte da Tchecoslováquia, região dos Sudetos, é dada de presente a Hitler, já Ditador, com a morte de Hindenburg.  Responsáveis: o Presidente do Conselho de Ministros da França,  Edouard Daladier e o chanceler da Inglaterra Neville Chamberlain, para sempre marcados na História como covardes. Há sobre este triste evento um livro de Jean-Paul Sartre, escrito na época, mas creio que publicado posteriormente, chamado "Sursis", que, impressionada, li há anos, e que faz parte de uma trilogia chamada "Os caminhos da liberdade". O segundo livro tenho, e também li: "Com a morte na alma". O terceiro, não conheço, "A idade da razão". Creio que todos publicados após a 2a. Guerra, lembrado que a França foi invadida em 1940  e permanecendo invadida até 1944.    

1939- Os Nazistas invadem a Polônia. ...O resto já conhecemos. 

A verdade é que os ANOS LOUCOS terminaram tragicamente.

Para conhecer, de maneira genial, o que foram estes anos, aconselho " Meia-noite em Paris" , do sempre surpreendente Wood Allen.   



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