QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

CARTA ÀS CINQUENTONAS -3

Quando entrei na Faculdade, nos anos 60, encontrei boas amigas. Com algumas delas ainda guardo amizade, e peço que me perdoem se sentirem-se atingidas. Primeiramente, procuramos um curso “ feminino” : Letras. Cursos machos eram Medicina e Engenharia, prioritariamente. Depois vinham outros, como Odontologia, Economia e Direito. Ciências Humanas eram considerados preparatórios para o casamento e os homens que os freqüentassem não tinham nem a quarta, ou quinta, parte do prestígio daqueles primeiros. Minhas colegas sentiam-se mais, ou menos, valorizadas pela escolha de que tinham sido objeto. Quase nenhuma pensava em tornar-se profissional, ganhar seu sustento. As que tinham este projeto eram consideradas frustradas, ou coisa pior (...), já que mulher que pensava em carreira não pensava no casamento. Uma fulana bem sucedida era “ bem casada”, e a “bem casada” era aquela sustentada por um marido, pelo menos, em vias de enriquecer, ou seja “ bem de vida”. E, em muitos casos, pouco importava se ele a amava de fato, se havia entre eles harmonia e respeito. Conheci casamentos que me aterrorizavam e eram apontados como exemplares. “Casamento bom é aquele que tem futuro”. É claro que falo da mentalidade da classe média brasileira, sempre ávida daquilo que considera ser bem sucedido.
E ainda havia o tal de “ homem da minha vida”, que, em geral, era o “ primeiro”. No seu magistral livro “ O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir explica de onde surgiu a imagem do “primeiro homem” - o que desbrava a floresta e colhe a flor - de onde vem o termo deflorar e deflorador. Estou certa que, para muitas daquelas mulheres, a imagem do deflorador sempre esteve ligada a do “homem de minha vida”. Ou talvez seja o contrário. Mas o casamento da classe média, em decorrência dessa mentalidade, tinha um outro ingrediente, o aparato, que começava com o enxoval. Assisti a verdadeiras disputas pelo mais belo enxoval, com direito até a exposição! Convidada, não ousei recusar, de medo de ser taxada de invejosa.
Nestes dias já de crepúsculo, tive esta imensa vontade de contar aquilo a que pude assistir, sejam as crenças preconceituosas que arrastaram tantas vidas à infelicidade, anularam tantos talentos, criaram tantas frustrações e arrependimentos, sejam nossos sonhos de jovens, que fugiam ao que estava decidido há muito tempo pelas gerações passadas, e que também tiveram um preço a pagar. Muitas mulheres, presas daquele primeiro modelo, tão útil a este mundo masculino, conseguiram salvar-se, outras afundaram na obscuridade e passaram a contar a história dos filhos e netos, já que a sua havia se transformado em um livro em branco. Nos nossos dias, a “mulher bem sucedida” não é forçosamente a casada, mas aquela que ganha seu sustento. E se está ao lado de um homem é porque assim o quer. A “mulher bem sucedida” é aquela que conta sua história com a sua vida, e acha graça de tudo que relatei aqui. O caminho da mulher nos anos do terceiro milênio não passa por um marido “bem de vida”, mas passa pelo seu trabalho, empenho, desejo de vencer. A caminhada é mais difícil do que a daquelas que nos antecederam, mas certamente é mais feliz e dignificante.

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