QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Detalhes

Tudo passou tão depressa! E com esta celeridade o tempo nos dá a sensação, sobretudo para nós, maiores de 50 anos, de que escorre através de nossos dedos, como água, e que, infelizmente, jamais será possível diminuir sua marcha. Mas, ainda que o tempo nos pareça água que se vai sem que possamos impedir, há ainda muita coisa a fazer. Ainda que tenhamos mais de 50. É novamente o começo, em que estamos tentando acertar, jogando fora o que não prestou nestes anos que já vivemos. E é preciso a coragem de dizer NÃO ao que já foi e que embolorou, morreu de velho, e ao qual muitas vezes permanecemos fiéis, até sem perceber.
Percorrendo o tempo, mudei. Não sei fiquei melhor, ou pior. Mas mudei. Não tenho saudades do passado, do já vivido, embora haja por lá muita coisa boa. Lembro-me dele com carinho, mas, quase sempre, ando por lugares já percorridos sem compreender o que havia ali de atraente. Afinal, fui eu que mudei, ou o lugar, ou as coisas, ou pessoas? Na verdade, fomos nós, foi tudo. Pequenos detalhes foram se acumulando em minha vida, trazendo pequenas mudanças, levando-me a perceber, pouco a pouco, o que não havia percebido antes, a amar o que não me seduzia, ou até me aborrecia. Pior ainda, até o que chegava a odiar. E também a desprezar o que me parecia tão bom. A abandonar velhas crenças. Estes detalhes, pequenos, que pareciam insignificantes, acumulados, transformaram-me ao longo dos anos. Nunca houve uma mudança conclusiva, que trouxesse em si uma carga de repúdio ou aceitação radical.
Amores, amigos, projetos, revejo-os com olhos de uma mulher madura, que já viveu muito, amou, sofreu, chorou, riu de felicidade, rejeitou. E também que foi amada e rejeitada. É a vida. Guardo fotografias de meus afetos que se foram, e também daqueles que já foram meus afetos e perderam-se pelas estradas, que nem sequer sei se ainda vivem. Tudo mudou no percorrer do caminho, sem que eu percebesse, gostos, modas, hábitos, amigos, amores, desafetos, crenças, projetos. Sinto-me como a fênix que se extingue no fogo e renasce das próprias cinzas.
Vivi intensamente meu tempo, acreditei nele, fui totalmente honesta. Hoje tantos anos após aqueles de minha juventude, sinto renovada, pronta a começar mais uma caminhada. Meus acompanhantes não são os mesmos daqueles tempos, minha família de então já partiu, mas não estou só. A caminhada continua e estou certa de que pequenos detalhes irão, cada dia, acrescentar, ou anular, alguma coisa em mim, e estarei em constante mudança. Até o dia em que, completada a travessia, eu possa dizer como o poeta: “Confesso que vivi!”

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