QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sábado, 1 de dezembro de 2007

Meu pé esquerdo

Há um filme com este título. Vi-o há anos, mas lembro-me de que conta a história de um rapaz tetraplégico que descobre, não me lembro como, que poderia vencer sua terrível limitação se aprendesse a utilizar seu pé esquerdo. Assim, ele impõe-se à família que o desprezava, consegue viver vida quase normal, e ainda conquista o amor de uma mulher.
Eu também tenho vivido minha história com meu pé esquerdo. Minha dependência não tem origem em grandes limitações, mas me fez compreender a sua importância em minha vida. Conclui que, sem meu pé esquerdo, meu pé direito é quase um zero, não à direita, mas à esquerda. Sem ele, ou com ele lesado, foram cortados - pequenos e grandes - prazeres. Nunca mais pude ir à academia, às compras, ao restaurante – meu pé pendente dói e pesa. Nem mesmo pude dar meu habitual passeio pelo bairro com minha cadelinha, admirando as vitrines de Natal. Tentei, algumas vezes, dar uma voltinha por perto de casa, mas desisti após a centésima explicação da causa de meu deplorável estado – a gente encontra montes de conhecidos e também de esquecidos (o que foi mesmo que aconteceu?). Isto sem falar na constante ameaça dos pares de pés alheios. Passei novembro colocando bolsas de gelo, fazendo fisioterapia, tomando antiinflamatórios. Estourei o estômago e tive que abdicar de meu vinho nos fins de semana. E também de minha pinga dominical. Parei de ler, de escrever, esqueci o Lula, o Chavez, desinspirei.

Fiquei impossibilitada de percorrer distância maior do que a da esquina de minha casa. Tornei-me dependente, logo eu que toda vida lutei pela minha independência. Fiquei muitas vezes esperando que Sicrano ou Beltrano me levasse à fisioterapia, meu único “passeio” durante o mês. Voltei à infância. Tive que usar, e ainda uso, tornozeleira e tênis, único calçado que suporto, e, nos dias quentes, quando coloco saia, faço um conjunto horroroso. Mas já decidi abandonar, pelo menos temporariamente, qualquer aspiração à elegância.
Na quinta-feira, tive alta. Disse-me o médico, e também o fisioterapeuta, que se a dor não passar, terei de voltar a fazer nova série. Estou de olho nele, no meu pé esquerdo. À noite acordo e acho que a dor está aumentando. Pela manhã, renasce a esperança de que tudo esteja terminado. Afinal, ele não pode fazer isto comigo! Por causa dele, abdiquei de meus melhores possíveis momentos deste lindo mês de novembro. Logo eu, que adoro os preparativos de Natal, a decoração da casa, a festa, os amigos! Mas alguma coisa, lá dentro de mim, talvez meus ligamentos estourados, me diz que tudo já está sarado. E então, logo que volte à minha vida normal, quero falar da alegria de retomar estas simples atividades do dia-a-dia, aquelas que nos permitem gozar de pequenos prazeres indispensáveis.

Um comentário:

Maria Luiza disse...

Maria Lúcia,
eu também já fiquei um Mês e meio uma vez sem minha perna esquerda: caí na rua e quebrei uma pontinha do tornozelo esquerdo. Como é duro a gente perder a independência! Só então a gente se dá conta de como são importantes as pequenas coisas que a gente faz todo dia, a alegria das coisas simples e corriqueiras. Desejo que você recupere logo e bem essas alegrias pequenas, mas tão importantes como passear com a Tila na pracinha. Um beijo da Chuquinha