QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Laços de Família – II

Há algum tempo, falamos de laços de família envolvendo Napoleão III. Hoje, quero contar um pouco mais. É verdade que as famílias da nobreza sempre casaram entre si seus filhos e filhas, vistos muito mais como objetos de interesse político do que como seres humanos. Maria Antonieta casou-se aos quatorze anos com o herdeiro do trono francês, da mesma idade, sem nunca tê-lo visto. O objetivo da Áustria era ter como aliada a mais poderosa monarquia européia. Assim, unindo a poderosa dinastia dos Bourbons à dos Habsburgo, fortaleciam-se as duas potências. Para isso, a menina abandonou para sempre sua terra natal, sua família, sua língua materna. Nunca mais voltou a ver sua mãe. Dizem que chegou a esquecer totalmente o alemão, fato lingüístico raro. No entanto, no desenrolar da História, a inexorável evolução dos fatos, e seu trágico desfecho, nos levam à convicção de que, afinal, maquinações políticas nem chegam ao resultado esperado, talvez muito ao contrário.
Alguns anos depois da execução da rainha, um parente seu tornou-se imperatriz dos franceses. E quem era o marido? Pasmem, era justo ele, o general, cuja carreira começara exatamente durante a Revolução Francesa, que dizem ter sido protegido de Robespierre, o grande Bonaparte. Uma vez terminado o casamento com Josefina, que não conseguira dar-lhe um herdeiro, as negociações políticas para um segundo matrimônio dirigiram-se para a Áustria, onde governava o Imperador Francisco I, que tinha dentre suas inúmeras filhas, Maria Luíza, jovem de cerca de dezoito anos. Casaram por procuração em 1810. Era ela bisneta da grande Imperatriz Maria Teresa, e sobrinha-neta de Maria Antonieta, aquela mesma que foi guilhotinada pelos revolucionários, amigos de Napoleão. Dizem que o Imperador, encantado com a beleza da moça, que fora encontrar a meio caminho entre Viena e Paris, não resistiu e estuprou-a dentro da própria carruagem que os conduzia à capital. Tiveram um filho, chamado de Rei de Roma, morto aos 21 anos, em Viena.
Francisco I tinha outras filhas, e uma delas, a Arquiduquesa Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo, casou-se, em 1817, com o herdeiro da coroa portuguesa, Dom Pedro de Alcântara, futuro Pedro I. Leopoldina era uma mulher extraordinariamente culta para sua época, interessada em botânica e mineralogia. Acompanharam-na, em sua vinda para o Brasil, artistas e cientistas. Ao contrário da irmã, Leopoldina não era bela, e tinha tendência a engordar. Foi esposa dedicada, sempre traída, ao contrário da irmã, cuja crônica mostra uma mulher ousada e voluptuosa. No entanto, apesar de todas estas diferenças, sempre houve entre as duas uma amizade que a distância não fez diminuir, o que atesta uma enorme correspondência. De volta a Viena, durante os anos de exílio de Bonaparte, Maria Luíza tornou-se amante de seu ajudante de ordem e com ele concebeu alguns filhos. Depois da morte do marido, casou-se, enviuvou e tornou a casar-se. Morreu aos cinqüenta e seis anos. Leopoldina morreu aos vinte e nove, após uma vida cheia de traições e, segundo dizem, de brutalidades do marido. Concebeu sete filhos.
Então, ficamos sabendo que nosso primeiro Imperador, Dom Pedro I, era concunhado de Napoleão Bonaparte, aquele mesmo que colocou para correr toda sua família, inclusive ele próprio. É claro que na época da fuga, Bonaparte ainda não era casado com Maria Luíza, nem Pedro de Alcântara com Leopoldina. E ainda que seu filho, Pedro II, era primo de Napoleão II, o filho do grande Bonaparte. Pode-se até dizer que o nosso Pedro era sobrinho do grande general. E sobrinho-bisneto de Maria Antonieta, aquela que perdeu a cabeça, cuja sobrinha veio a casar com o general revolucionário. Mas os interesse políticos superam qualquer ressentimento.
E olhando este emaranhado, uma espécie de samba do crioulo doido, não posso deixar de pensar no que se passa no Brasil, onde malufistas, trotskistas, maoístas, ex- agentes da ditadura, etc, convivem no mesmo governo. Mas seriam razões es Estado que os une? De qualquer forma, há uma diferença fundamental, naquele tempo não havia mensalão tão deslavado, nem dólares nas cuecas, nem cartões corporativos. Tudo era mais estético, sem dúvida, e mais ético, provavelmente.
Disso tudo nos resta uma lição, que não podemos esquecer, aquela que nos mostra que muitas vezes as maquinações políticas não conseguem chegar ao resultado desejado. A marcha da história não se detém diante de estratégias pontuais. Basta ver o que aconteceu à monarquia francesa, ao império napoleônico e tantos outros engendros da política. Só espero que ninguém perca a cabeça, de fato, no governo Lula, porque, em sentido figurado, há muito tempo perderam. E azar o nosso.

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