QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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terça-feira, 19 de agosto de 2008

Esteja onde estiver.

“Esteja onde estiver, em outros espaços, em outros tempos, ou em outras dimensões, lá estará ele, livre de todas as servidões, nos esperando, para, juntos, fazermos parte do infinito”.

Esta foi uma homenagem que meu amigo Waldyr prestou a meu cunhado. O ano é 2005. Foi enviada a um jornalista que a publicou agora, em 2008, quando chegou a vez de Waldyr partir. José Carlos, meu cunhado, advogado, jornalista, escritor, poeta, foi um de seus melhores amigos. Waldyr, médico, amava as letras, tinha grande sensibilidade e talento, e era um ótimo “causeur”. Em um jantar em nossa casa, distraiu-nos, a mim e a Ricardo, com as velhas histórias de sua família, originária do Líbano. Waldyr partiu, Zé partiu, como é o normal da vida. Mas partiram quando ainda havia muita coisa a fazer e aproveitar. Partiram também alguns de seus melhores amigos, nenhum deles na velhice, e imagino que devam, agora, juntos, participar desse insondável infinito, que nos espera a todos.
Imagino que Waldyr, com seu riso tonitruante, que se anunciava ainda de longe, tenha provocado grande alvoroço entre os amigos que talvez já o esperassem. Não posso saber o que têm a se dizer, mas posso apostar que o papo vai ser longo, cheio de saudade. Ele, o recém-chegado, com a sensibilidade à flor da pele, ao revê-los, deve ter chorado e feito chorar. Posso apostar que chorou por ter sido obrigado a deixar aqui aqueles que amava intensamente, mas também creio que suas lágrimas vieram daquela emoção que sentimos ao reencontrar alguém que amamos e que não vemos há muito tempo.
Há alguns dias falei da espuma dos dias, do imperceptível fio do presente, da incerteza do amanhã. A morte de meu amigo me traz novamente à lembrança tempos antigos, contemporâneos daqueles de que falei então. Caxambu era o palco de encontro de nossas famílias. Eu tinha com meus pais uma negociação tácita de leva-los a passear e, depois, seguir meus próprios programas. Afinal, eu era bem jovem! Havia muita gente, além das crianças. Dos adultos, sobramos Marlene, viúva de meu amigo, sua velha mãe e eu. Aos poucos, a vida foi levando, levando para este insondável infinito, quase todos. Risos, brincadeiras, na hora do almoço, no jantar, foram se extinguindo. Caxambu foi esquecido, as crianças tornaram-se adultas, e há hoje outras crianças. Os jovens de então, nós, ficamos órfãos já há tempos. Hoje, os novos órfãos são aquelas crianças de então. Velhas fotos mostram flagrantes de amigos, de brincadeiras, de momentos de felicidade compartilhada. Jamais vamos esquecer aqueles dias. Mas o “futuro” daquele “presente” já antigo, insondável como o infinito, provou, mais uma vez, a sua total imprevisibilidade. Meu irmão Sergio partiu, ainda tão jovem! Partiu Zé, Teresa, minha inesquecível irmã. Quem poderia supor que um dos mais velhos os sobreviveria? Dos adultos, estamos aqui, Marlene e eu, para relembrar, rir e chorar.
Waldyr foi o amigo fiel que nos acompanhou em nossas sucessivas perdas, até que, tendo perdido todos os que comigo escreveram minha história mais antiga, senti sua mão amiga, seu abraço, que me dizia “Pode contar comigo”.
Obrigada, meu amigo. Um dia, não sei quando, sei que poderei falar-lhe de minha gratidão.
E até Deus sabe quando.

Um comentário:

Nazaré Laroca disse...

Lindo, lindo! Você está escrevendo cada vez melhor! Parabéns, amiga!
Beijos,
Nazaré