QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ecos do MEU passado

Há algum tempo, falei em ecos do passado, referindo-me à minha avó paterna. Ainda pretendo escrever sobre minha avó materna, figura inesperada naquela sociedade brasileira, conservadora. Mas agora, estes ecos referem-se a mim mesma, ao meu passado e ao que ele representa hoje para mim.
Durante este mês de férias estive em Florianópolis, linda cidade, e, é claro, fiquei o máximo que pude com minha prima, e amigona, Maria Helena. Nativa da ilha, ela conhece recantos deliciosos, onde se vê um pôr-do-sol inigualável, onde se pode comer os mais deliciosos frutos do mar, onde o mundo infestado de poluição – que cada dia mais se parece com aquele de Pequim – está tão longe quanto Urano. Encontrar Maria Helena me trás sempre recordações, boas, longínquas, mas sempre saborosas. Ouvir seu suave sotaque, típico da ilha, com algo de lusitano, mas muito mais doce, quanta recordação me trás!
Falo do passado sem nostalgia, da mesma forma que falo e brinco com a passagem do tempo, com a perda da juventude, com a inexorável aproximação do desfecho. Para quem, como eu, já sofreu tantas perdas, esta convicção não deixa nenhum laivo de dor ou angústia. Vejo tudo com naturalidade, procurando viver os anos que me restam da melhor forma possível. Revejo meus velhos conceitos, minhas expectativas e sinto-me recompensada, porque afinal, consegui o fundamental. Muita coisa deixei pelo caminho, e não arrependo-me. Estar com Maria Helena, e nem preciso expressar-me verbalmente, produz em mim uma espécie de reminiscência profunda, como se nos déssemos as mãos e olhássemos em silêncio tudo que já fomos e sonhamos. Falo por mim, e não posso saber o que significam para ela estes contatos. Mas cada um de nós é um, único, e sentimentos são unipessoais e intransferíveis. Muitas vezes, sinto-a mais ligada àqueles sonhos que, felizmente ou infelizmente, já abandonei há muito. Fossem eles ideológicos ou não.
Estar com minha “velha” prima, é um mergulho numa época de sonhos, de quebra de tabus, de conflitos familiares, de paixões efêmeras. É relembrar um tempo em que todos estavam por aqui, os que amamos e foram partindo pouco a pouco, mas que um dia, nós duas, resgatamos, uma ao lado da outra, sem que fosse preciso palavras, suas presenças, nossos sonhos, e nossos vinte anos.

Um comentário:

Ricardo Vélez-Rodríguez disse...

Gatinha, gostei do teu relato, ele é o que Fidelino de Figueiredo denominava de "biografia íntima", dimensão que o velho Unamuno batizara de "nivola" (ou "novela de camisola", traduzo eu, livre e irreverentemente). Essas vivências dos lugares e das pessoas que nos circundaram em anos passados constituem as "circunstâncias", a que Ortega y Gasset se referia quando definia a si próprio com aquela famosa frase: "Eu sou eu e as minhas circunstâncias, e se não as salvo, não me salvo eu". Porque nós somos feitos dessa espuma dos acontecimentos, das coisas e das pessoas que passaram como rios pelo leito da nossas vidas, essas circunstâncias que viajaram conosco no espaço-tempo da existência e diante das quais fomos burilando o que somos. "Se não as salvo não me salvo eu.." dizia Ortega. Se não recuperarmos esses passados perderemos a memória do que somos. Daí o valor desses relatos feitos à luz da saudade dos que se foram e dos momentos que com eles vivemos.