QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

 O cinema 

A invenção do século

Já no século XVIII, a lanterna mágica encantava espectadores. Mas tratava-se somente de uma maquininha composta de algumas placas de vidro pintadas, projetadas sobre uma parede branca com o auxílio de uma vela. A verdade é que a imagem surgida do nada sempre encantou os homens e lhes fez medo. Nas feiras eram comuns as caixas com orifício,  por onde se podia ver cenas desenhadas , que o operador puxava por meio de um fio. Tudo iluminado por velas. 

De  1892 a 1900, espectadores se exprimiam para ver, no Musée Grévin, em Paris as chamadas pantomimas luminosas, o quê chamavam Théâtre  Optique, cuja engrenagem é bastante complicada. O importante é que a confecção é mais complicada ainda, devendo cada cena ser desenhada para ser posteriormente exibida. Seu inventor Emile Reynaud, notável desenhista, deve desenhar milhares de figuras para que haja movimento. A lâmpada elétrica havia sido inventada em 1879, e tinha a duração de 40 horas.  O problema é que o calor, racha a gelatina sobre a qual são  feitos os desenhos. Assim, o espetáculo fica suspenso por mais de um ano. Emile Reynaud ainda tenta produzir dois filmes, até que em 1900, superado pelo cinema, tendo sido expulso do Musée Grévin, arruinado, joga suas fitas no rio Sena e morre em 1918, em um asilo.

A primeira filmagem , feita pelos Irmãos Lumiére, Louis e Auguste, ocorre em 1895 e mostra a chegada de um trem numa estação. Esta  projeção provoca pânico no público, aterrorizado ao ver a aproximação do trem. Acontece numa saleta do Grand Café, situado no Boulevard des Capucines, ainda hoje existente. Cinematographe Lumière .Nesta primeira apresentação, somente estão presentes 33 espectadores. Mas aos poucos, sobretudo no boca a boca, a frequência vai aumentando. A princípio, são filmadas cenas banais, como de amigos tomando café , ou de uma uma brincadeira  com uma mangueira. Em seguida, começam a filmar documentários. Apesar de um pequeno embaraço na Rússia, logo depois lhes é permitido exibir filmagens e filmar. É interessante notar uma observação do grande escritor  Tolstói , referindo-se àquela cena do trem entrando na gare : ""Quando , do horizonte , um trem inteiro vem em nossa direção, , quando ele parece furar a tela , nosso espírito imediatamente evoca a mesma cena em Ana Karenina"".  Lembrando sua monumental obra, em que abandonada pelo amante por quem tudo perdera, Ana Karenina joga-se nos trilhos de um trem. Mas bem diferente é a  opinião de outro grande da literatura russa, Máximo Górki :""Ontem à  noite, estive no Reino das Sombras. Se vocês pudessem imaginar a  estranheza desse mundo! Um mundo sem cores, sem som. Tudo nele - a terra,  a  água e o ar, as árvores , as pessoas-, tudo é feito de um cinzento monótono. Raios de sol cinzentos num céu cinzento, olhos cinzentos num rosto cinzento, folhas de árvores que são cinzentas como a cinza. Não a vida, mas uma espécie de espectro mudo""

Nesta primeira apresentação, estava presente um jovem mágico. Com sua sua parte na herança familiar, ele havia comprado o teatro Houdin, que havia pertencido ao célebre magico Robert-Houdin, cujo nome veio a inspirar outro célebre mágico. Naquele tempo os ilusionistas produziam verdadeiras peças de teatro. Assim, Méliès adquiriu grande performance como ator, diretor e cenógrafo. Ao assistir aquela primeira sessão veio-lhe a mente que se poderia fazer muito mais com aquele instrumento. Já que os  Lumière não haviam querido vender-lhe o aparelho, vai a Londres e compra um genérico, que desmonta e remonta com grandes melhorias. Mas o quê trouxe a grande descoberta foi um pequeno incidente. Ele estava filmando a Place de l'Opéra , quando a máquina deu um defeito,  sacudiu-a e ao revelar o filme verificou que o ônibus que estava filmando havia se transformado em outra coisa. E sua mente genial logo descobriu o que poderia fazer com este recurso. E foi com este recurso que ele fez nascer a SÉTIMA ARTE. Ou seja, utilizar para contar histórias.  Impossível descrever tudo que conseguiu. Imagens duplas, mesmas pessoas no mesmo lugar.  Sua cabeça cortada que se alinhavam sobre fios, enquanto ele mesmo se desenvolvia em cena. Criara-se a magia do cinema, que tanto nos encanta e sempre nos encantará.

Para suas filmagens, construiu um estúdio de vidro para melhor aproveitar a luz e criou sua companhia a STAR FILM. Seu grande sucesso, com truques inacreditáveis, foi "Viagem a Lua", baseado no romance de Jules Verne, "Da terra à Lua". Seus filmes coloridos eram pintados a mão, com cada quadro com cores exatamente iguais às anteriores. Empresas se organizaram para este fim, com funcionárias especializadas em cada cor. Charles Chaplin, grande admirador seu se referia a ele como o "alquimista da luz". Influenciou John Ford  e Orson Welles, que diziam tudo dever a Méliès.

Mas em 1914, o mundo entra numa fase sombria. Méliès é artista  e não um homem de negócios. Para estes, é um momento de enriquecer Neste período difícil, acaba falindo, obrigando-o a  desmontar seu estúdio. Logo depois, o exército francês confisca seus filmes para serem derretidos e servirem para fazer solas para as botas. A falência definitiva vem em 1923. Desesperado, coloca fogo em vários filmes. Dos quinhentos que havia produzido, felizmente, ainda restaram duzentos. Foi então que ele se retirou em definitivo e abriu uma modesta lojinha de doces e brinquedos na Gare de Montparnasse. 

Em 1929, jornalistas, diretores e produtores procuraram saber  por onde andavam aquele homem genial, que transformara o cinema documentário breve em ARTE O verdadeiro criador da SÉTIMA ARTE. E então o encontram, na sua modesta lojinha da Gare  Montparnasse, que conheci quando criança, sem conhecer a história de Méliès. Neste mesmo ano, diante de uma plateia cheia os grandes diretores, produtores e atores da época, ele recebe a Legião de Honra da França, o maior título do país. 

Viveu o resto de seus dias tranquilamente, em condições confortáveis, recebendo uma mais do que merecida pensão. Faleceu em 1938. 

Se você quiser conhecer mais sobre Méliès, aconselho um dos mais belos filmes que vi em minha vida: " A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese, um hino à SETIMA ARTE.

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