QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



Seguidores

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

 Carolina Otero

Uma velha , cabelos brancos, um lenço envolvendo a cabeça,. Usa óculos escuros e leva uma bengala, no entanto, não parece ter dificuldade em caminhar. Passa totalmente despercebida.

Mas , afinal, quem é esta mulher?  Por quê falar dela? Agostina Carolina del Carmen Otero y Iglesias , nasceu em 4 novembro de 1868, numa aldeia pobre ao sul da Espanha. Jamais conheceu o pai e  na infância só conheceu miséria e abandono. Sua educação foi quase nula. Tinha cinco irmãos e uma irmã. Suspeitava-se que fosse filha do pároco, mas nada prova que seja verdade.  Segundo algumas testemunhas, apesar da extrema pobreza era uma menina alegre e carismática. Aos dez anos, foi brutalmente estuprada por um sapateiro. Foi tamanha a brutalidade, com tão forte sangramento, que teve que ser hospitalizada.  E por incrível que pareça, foi a criança que ficou estigmatizada.

Sem recursos , engajou-se em uma companhia de comediante portugueses. Foi aí, que, aos treze anos, conheceu um barcelonês, seu primeiro amante. Foi com ele que aprendeu a dançar o flamengo. Mas ele não só a ensinou a dançar, como a prostituiu. Quando as autoridades descobriram que se tratava de uma menor,  a devolveram à sua mãe , que, grávida, a rejeitou. Sem ter para onde ir, Carolina, voltou para seu antigo amante. Grávida, foi obrigada a abortar, o quê a deixou estéril, conforme ela conta em suas memórias. É neste momento que, ainda menor, decide levar adiante sua vida e segue sozinha para Barcelona. Foi aí que encontrou outro amante, que a ajudou a instalar-se. Depois de vários amantes,  ela encontra um milionário americano, que por ela se apaixona. Fê-la ter lições de dança e canto, e aproveitando de sua aparência andaluza, criou-lhe uma glamorosa biografia. Financiou-a, e a introduziu no mundo do entretenimento, levando-a a apresentar-se no famoso Folies Bergères, cuja fachada conheci no início dos anos 80. Apresentou-se nos Estados Unidos, e  conquistou o mundo das grandes "cocottes" com sua beleza, sensualidade e, evidentemente, grande talento. Circulou pelo mundo, foi à Russa, onde se tornou , durante algum tempo,  amante de Nicolau II, que por ela se apaixonou. Nos Estados Unidos, foi recebida com milhares de flores, de amantes, de joias, e  de dinheiro. 

Extremamente inteligente, inventou outras biografias, que encantavam o público,  ainda que fosse de conhecimento público sua condição de "Horizontale". Rejeitado pela família e pela amante, arruinado, o milionário americano, cujo nome me escapa, resolveu suicidar-se. Enquanto isto, Carolina continua sua carreira de sucesso nos palcos e na cama. Seus amantes eram  reis e príncipes. Leopoldo II da Bélgica, Nicolau II (que, em 1918, seria fuzilado com a família, e que por esta época ainda era solteiro), o futuro Rei Eduardo VII e outros. As joias que recebia como pagamento por seus favores incluíam até um colar que pertencera à Rainha Maria Antonieta. Rivalizava, com suas joias e dinheiro, com outra "Horizontale", Liane de Pougy, de quem falarei mais tarde. O interessante é que confessou jamais haver sentido prazer em nenhum de seus contatos, talvez devido ao episódio traumático de sua infância. Foi retratada por Toulouse Lautrec,  José Marti, poeta e político cubano lhe dedicou alguns versos e até o poeta italiano Gabrielle d'Annunzio. Acumulou uma fortuna equivalente a cem milhões de euros. 

Em 1910, aos 46 anos, decide mudar-se para Côte d´Azur. No Principado de Mônaco, ela passa a frequentar o luxuoso Casino de Monte Carlo.  Recebe seus amantes no majestoso Hotel de Paris, pertencente à mesma companhia do Casino. São tantas as visitas, que ela pode ser considerada a castelã do palácio.  Pinturas representam sua bela nudez. Então, suas joias e seu dinheiro foram, paulatinamente, desaparecendo. Recordava um velho diretor do Casino de Monte Carlo, aquela  mulher, ainda bela, com um magnífico colar de pérolas. Mas, chegou a tal ponto o seu vício e sua pobreza, que sua entrada foi proibida. No início dos anos 50, quando foi feito um filme sobre sua vida, tendo a atriz mexicana, Maria Félix, como protagonista, ela já estava arruinada, mas ainda conservava algumas coisas , como um casaco de pele e um certo ar de nobreza,  o quê mostra uma filmagem feita, provavelmente no fim dos anos 40. No início dos anos 50, ele pede ao  Principado de Mônaco uma pensão , que lhe foi concedida tendo em vista seu glorioso passado de artista , assim como a fortuna colossal por ela deixada no Casino de Monte Carlo. Segundo o Diretor de Comunicação, ela perdera, desde sua chegada, o valor equivalente  a duas vezes e meia a construção do Casino. 

Concedida a pensão, aluga um quarto mobiliado. Conta sua biógrafa, que adolescente entreviu-a na pequena sacada, dando comida às pombas. Depois, a sacada fechou-se e ela passou a viver de suas lembranças. Levavam-lhe algum alimento.  Diz ela, " ..c'était une petite vieille..." ("era uma velhinha ). Belle Otero é a última das grandes cortesãs. Termina a Belle Époque, que se estende da queda de Napoleão III até a Primeira Guerra Mundial. Em Paris, morei num lindo apartamento da Belle Époque. Há alguns anos, descobri a data de construção; 1896.  

Esta é a história de uma menina miserável, que sofreu violento estupro aos 10 anos, que foi repudiada pela própria mãe, que foi prostituída pela única pessoa que lhe deu abrigo,  que conquistou o mundo com sua beleza, arte e seu corpo perfeito, que ofereceu seus serviços a poderosos que a cobriram de fortuna, e que, inacreditavelmente, acabou na miséria. havendo até quem diga  que, bem no fim da vida, catava comida no lixo. 

Agostina Carolina del Carmen Otero y Iglesias, morreu em 1965 aos 97 anos de um ataque cardíaco fulminante. Foi encontrada por vizinhos. Suas calcinhas abaixadas se enrolavam nos tornozelos, o quê não deixa de ser, para uma cortesã, um "clin d´oeil du destin" ( uma piscadela do destino). 











'

Nenhum comentário: