QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

 

Revolvi, sem remorso, as vésperas do Natal, escrever sobre cortesãs célebres da Belle Époque. O CRISTO em que acredito é aquele que andava com prostitutas, ladrões e todos que eram excluídos da sociedade. O CRISTO  em que acredito não faz distinção, para ELE , todos são filhos de DEUS. 

Estas mulheres que conquistaram a LIBERDADE com seus corpos, jamais serão descriminadas por ELE. 

Valtesse  de la Bigne . A cortesã mais visitada do que a Torre Eiffel   

"A mulher que fez de sua cama o teatro sua ascensão social"  Assim se refere a ela o comentarista do Programa  "Visites privées". Ela nasceu em 1848, filha de uma jovem lavadeira chamada Emilie , que fora trabalhar num colégio e apaixonou-se por um professor casado. Ainda assim , deu à luz sete crianças , uma das quais , chamava-se Emilie Louise de Labigne . Ao fim de algum tempo, não havendo nenhuma proteção social, o pai abandona a todos e volta à sua família oficial, que, na realidade, jamais deixara. A mãe, Emilie, vive miseravelmente, sem condições de pagar a comida das crianças. Assim, logo que possível todas rumam para um trabalho. A Emilie, a que nos referimos, suponho haver sido a primogênita . Vivendo na mais severa pobreza, vai, ainda na adolescência, trabalhar numa casa de doces e posteriormente num atelier de costura. 

Linda  jovem, de cabelos bem ruivos, olhos profundamente azuis e pele bem clara. Dizia-se que sua única riqueza era sua admirável beleza.   Mas , um certo dia, um homem bem mais velho a convida para tomar uma café e comer alguma coisa , ela aceita e, de repente, ele a empurra para dentro de um beco escuro e a estupra. A garota, provavelmente, fica aturdida e não entende a princípio o quê aquilo poderia significar. Mas, em  pouco tempo, ela faz daquele momento sua LIBERDADE. A princípio como Lorette, nome que se dava às jovens bonitas que trabalhavam nos ateliers de costura e que depois de assistirem a missa na Igreja de Nossa Senhora de la Lorette, ficavam a espera de algum senhor que quisesse gozar um pouco da juventude das garotas. Por esta razão , eram chamadas Lorette.  Algumas vezes, posou para o pintor |Jean Baptiste Camille Corot , que se encantara com sua beleza. E assim, levava a vida. 

Mas , logo compreendeu que poderia ter muito mais e ,com sua beleza e inteligência, tornar-se livre. Mas a prostituição era proibida na França , e se apanhadas teriam os cabelos  cortados e a cabeça raspada.  Ela suportaria ! Não era seu projeto esperar os clientes , mas escolhê-los . Para chegar a uma escala superior , ela devia ser uma "demi-mondaine", mas para isto teria que refinar-se , ter certa cultura. E ela decide aproveitar todos os momentos de folga, entre suas várias atividades,  à leitura, sobre diversos assuntos. Uma  "demi mondaine" devia saber conversar e agir de certa forma. E seu empenho tem sucesso. Torna-se a grande rainha das  "horizontales". Seu trono é aquele diante do qual os homens se curvam e as carteiras se abrem. Frequenta os melhores salões, e restaurantes . É desejada pelos homens e invejada pelas mulheres.

Algum tempo depois, envolve-se com um jovem oficial , com quem tem duas filhas. A relação dura cerca de dois anos , pois ela não tinha nenhuma vontade de abandonar sua profissão de cortesã. Sempre em busca de alçar-se ao mais alto do que escolhera, ela tem a idéia de mudar seu nome. De Emilie, torna-se Valtesse, contração de Votre Altesse. E  seu sobrenome burguês, ela separa , acrescentando um "de"  de nobreza , tornando-se "de la Bigne". Agora é "Comtesse Valtesse de la Bigne " Genial idéia  que transforma a outrora jovem Lorrette  em uma condessa. E isto é importante, nos Salões que agora frequenta. 

Seu primeiro amante oficial, é o músico alemão, radicado em Paris, Jacques Offenback , autor de belíssmas operetas. Para quem conhece Paris, há na Place de l'Opéra, à direita , olhando para a a Opera, um belíssimo prédio, estilo Haussimaniann, onde uma placa indica o apartamento do músico. Offenback era casado, mas terrivelmente infiel. Encanta-se com a beleza de Valtesse e se torna seu amante durante cerca de três anos. Isto sem que ela deixe a "courtisanerie". Sua aparição em uma opereta, sem sucesso de palco, acaba por proporcionar-lhe maior sucesso na profissão que escolhera. Sua cama, em bronze dourado, inspirada no leito de Luís XIV, com seu baldaquim, espécie de teto, decorado  com suas pretensas armas de nobreza, está hoje exposta no "Musée´des Arts Décoratifs", em Paris. Fazia parte de um belo palacete, no conhecido Boulevard de Sebastopol, presente de um de seus amantes apaixonados.  Por esta cama passaram artistas, escritores, reis , diplomatas. Valtesse era extremamente organizada e minuciosa, anotando o nome de todos seus clientes, quanto lhe pagavam, suas predileções. Desde que estive de acordo, nada a impedia de satisfazer as mais estranhas predileções. 

Um dos mais famosos restaurantes  frequentados na Belle Epoque , e ainda existente, chamado La Perouse, localizado na Rive Gauche, conta muita história.  Há ali o que chamavam de Salon Privé , onde os casais poderiam se encontrar livremente. É preservado um espelho riscado, mostrando  o quê faziam as cortesãs para testar os diamantes, que muitas vezes, lhes serviam de pagamento para os serviços prestados. Hoje pode servir de sala de reunião, tendo, evidentemente, a sua antiga utilização sido abandonada.

É retratada por Edouard Manet, o grande pintor impressionista, que também utilizou seus serviços, e serve de inspiração a Emile Zola, para uma de suas obras rimas "Nana". Enfim, sucesso absoluto para esta mulher de quem diziam que seu único bem era sua beleza. Glória para esta mulher , saída da mais absoluta pobreza, mas que com sua beleza, inteligência e astúcia coloca a cidade a seus pés, ainda que sua vida transcorra à margem da sociedade.

Aos cinquenta anos , resolve se retirar , e compra uma mansão em Avray, localizada entre Paris e Versailles. Alí reune outras jovens, aspirantes à arte da "Courtisanerie". Ali está Liane de Pougy, de quem falarei mais tarde. Liane é uma de suas alunas, e também uma de suas amantes. Na verdade, Valtesse,  assim como  Liane jamais ocultaram sua bissexualidade. E dizia ela,  claramente, que se o amor com os homens era por trabalho , com as mulheres era por prazer. em Em 1906, certa de que se aproxima o fim, escreve do próprio punho  seu testamento, deixando fora de sua imensa fortuna  sua própria família e até suas filhas. E proíbe que qualquer membro  da família esteja presente no seu velório ou enterro. 

Em 1910, tem um AVC e morre alguns dias depois. Seu túmulo, está no cemitério de Avray . O  monumento colocado sobre ele  desapareceu, mas o túmulo ainda pode ser visitado, como foi no caso da jornalista francesa que discorre sobre ela , que homenageou-a com um lindo buquê  de flores.  

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