QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



Gosto de fazer ginástica, sou vegetariana e adoro animais em geral, menos baratas.



Sinto especial prazer quando meus textos agradam aos meus leitores. Espero continuar produzindo e me comunicando com todos os meus amigos, neste maravilhoso universo da net.



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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Carta às cinqüentonas - 1

Amigas,

Há momentos na vida da gente que parecem mais importantes, decisivos, outros que nos fazem rir, chorar, ter crise existencial, e tantas outras coisas. Na minha vida, este tem sido o momento de rever o passado, esmiuçá-lo, tentar compreendê-lo, procurar descobrir o que deu certo, e o que não deu. É o tempo de fazer um balanço para avaliar o presente e prosseguir. Não sei se todos de minha geração têm esse desejo, se é coisa de mulher coroa, ou se é uma idiossincrasia minha.
Um dia, na minha longínqua infância, pensei que no ano 2000 teria mais de cinqüenta anos. Como estaria velha! Mas lembro-me de que não me passou pela cabeça que algum de meus parentes houvesse morrido. E até imaginei meu pai e minha mãe bem velhinhos. Foi tão marcante esta expectativa que nunca a esqueci. Hoje, em 2007, tantos anos depois, na terceira idade, já perdi todos aqueles que constituíam minha família de então. Não me casei, nem procriei. Já fiz lifting, pelling, botox, preenchimento, apliquei ácidos, silicone. E ainda pretendo fazer mais. Faço ginástica diariamente, tenho alimentação balanceada, há muitos anos parei de fumar. Quem me vê pensa que sou muito mais jovem – não direi minha idade de maneira nenhuma – e isto me deixa felicíssima. Mas tenho colesterol alto, tomo medicamentos diários, etc, etc. Como diz meu companheiro, Ricardo, é questão de DNA. Quem não sabe o que é isso, procure descobrir. Em 2006, o que a gente pode enunciar daqueles anos que ficaram perdidos no passado? Todos conhecem a história do Brasil, os anos dourados, os de chumbo, a redemocratização, etc. Não é disso que quero falar - já chega-, o que me interessa é aquilo que estava dentro dos lares, incrustado na cabeça das pessoas. Quero falar de suas crenças, daquilo que as movia na vida. Minhas lembranças mais antigas, como não poderia deixar de ser, estão ligadas à minha mãe. Escutava sorrateiramente suas conversas com as amigas e registrava tudo, acho que já com a inconsciente intenção de contar mais tarde, quando o mundo houvesse mudado. E uma das que mais me marcaram foram as histórias das mulheres que haviam se “perdido”. Pensava em como deveria ser terrível “perder-se”, e imaginava a fulana no meio de uma rua – da amargura - escura e deserta. E havia sempre o macho, secretamente admirado, que, “fazendo mal” à fulaninha, exercia sua virilidade . Com o correr dos anos, já na adolescência, passei a admirar a coragem de uma mulher que se “perdia” e que estava destinada a eterna execração. Anos depois, convenci-me de que este pequeno detalhe não mudava nada em mim, e passei a achar graça desta, e também de outras bobagens. Lembro-me que logo que comecei a viver com Ricardo, minha mãe, já doente, aconselhou-me: “Minha filha, tome cuidado! Depois eles vão embora e a moça fica perdida.” Ah minha mãezinha, eu já estava “perdida” há muito tempo, mas agora havia encontrado o “ meu homem”!

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